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terça-feira, 24 de outubro de 2017

CETICISMO POLÍTICO E OUTROS...

Felizmente ou infelizmente, ao contrário de outras épocas, tenho tido bastante tempo. A "alienação" que o trabalho provoca e que não nos permite refletir muito, talvez seja necessária: "distraímos-nos", além de ser uma forma de não mergulhamos nas questões que deveriam nos interessar...

Tenho vivido, ultimamente, como se estivesse no Helenismo, quando o apogeu da cultura grega deu lugar à invasão macedônica, e toda aquela atmosfera cultural anterior entrou em profunda crise. Logo, surgiram escolas filosóficas gregas que se isolaram e passaram a ter preocupações, principalmente, éticas, visto que com a balbúrdia política da época de dominação, por outros povos, era preciso arrumar um meio de buscar a serenidade, a tranquilidade, a felicidade, e uma vida simples. E a política, com certeza, não é o lugar "ideal" para se encontrar a tranquilidade, muito antes pelo contrário...

Algumas escolas filosóficas, tais como o Cinismo, o Estoicismo e o Epicurismo foram as mais importantes. Vou me ater ao Epicurismo, mas sem a intenção de aprofundar o assunto. Cito-o mais para fazer uma analogia, mesmo que anacrônica, com a situação que me encontro atualmente...

Diante do dilema que a Humanidade, em geral, e o Brasil, em particular, vivem,  o meu "retiro" não é o "Jardim Epicurista", local onde Epicuro vivia em paz com os seus amigos e amigas, filosofando sobre a melhor maneira de obtenção da ataraxia ( tranquilidade da "alma"). O meu "jardim" é de puro concreto e numa zona urbana...

Ao contrário de Epicuro, com a sua Filosofia dogmática, o que tem acontecido comigo é um ceticismo generalizado, mormente, na questão política, social e econômica, tanto no que tange à situação caótica do mundo quanto a total desesperança no Brasil, nos seus políticos, empresários, trabalhadores e o povo. Tenho procurado suspender o juízo, como faziam os céticos antigos, todavia, com todas as limitações do nosso tempo histórico. 

Já não creio em mais nada; nada faz mais sentido para mim. Vivo mergulhado em leituras, reflexões, não para que aconteça alguma transformação na minha vontade, mas, sobretudo, para que eu continue chegando à conclusão de a causa humana já está perdida. As mentiras, as ilusões, estão em toda parte; só me resta a epoché ( suspender o juízo dentro do possível) e esvaziar a minha mente, de tanto lixo acumulado, durante décadas, e que um dia acreditei que pudesse contribuir com alguma mudança...Mera ilusão. A única pessoa que posso mudar sou eu mesmo. E ela consiste no vazio absoluto. A paz está no vazio...

TEXTO: Marco Aurélio Machado