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sábado, 2 de julho de 2011

METAFÍSICA DO INFERNO!

A metafísica é a parte da Filosofia mais abstrata, pois procura estudar as causas fundamentais, essenciais de tudo o que existe, de um ponto de vista estritamente racional. Exemplos de problemas metafísicos são a existência, a natureza e os atributos de Deus, da alma e do mundo que nos cerca. A metafísica quer ir além das aparências e, portanto, busca a essência do SER, sem recorrer às suas especificidades e particularidades. Daí a proposta metafísica ser um estudo totalmente abstrato. Mas o que tal assunto tem a ver com o INFERNO? NADA! Mas a "metafísica cristã" (teologia cristã) sempre deu um jeitinho de postular um ambiente bem quente, eterno e onde haveria um sofrimento indescritível: O INFERNO! A meu ver, uma "metafísica"irracional: violenta a lógica e o bom senso mais elementar, e aprisiona as pessoas inocentes e ingênuas, pois elas já estão no inferno em vida, porque vivem na esperança da salvação ou no pavor de um mergulho nas labaredas de fogo. Tudo isso por DEUS ser amor! Eis a "lógica"cristã deitando e algemando as pessoas na cama de ferro de Procusto! Uma "lógica" que faz um quadrado virar círculo. Discordar é heresia grave...

Vamos tentar demonstrar que a crença no inferno não resiste a uma teoria do conhecimento muito simples: o empirismo. Qual é a principal tese do empirismo? Aristóteles já dizia que "nada existe na mente que não tenha passado antes pelos sentidos". John Locke e David Hume, entre outros filósofos modernos, partem da experiência sensorial para explicar o processo de aquisição do conhecimento. John Locke, inclusive, vai dizer que ao nascermos somos como uma folha em branco, uma tábula rasa. Portanto, não acreditava em ideias inatas, teoria dos filósofos racionalistas, e da possibilidade de termos conhecimentos apenas através de deduções lógicas.


Essas digressões têm uma razão de ser. Por quê? Porque partiremos da tese empirista para refutarmos a suposta existência do inferno, que aprisiona a alma de bilhões de pessoas no mundo inteiro. Uma simples reflexão pode jogar por terra essa superstição infantil, porque se ela for verdadeira, espero encontrar muitos líderes religiosos cozinhando no fogo infernal, afinal, é isso o que eles têm feito às pessoas desde tempos imemoriais. Muitos por ignorância, inocência e estupidez, outros, por esperteza e desejo de poder material. Acreditam menos do que eu...

Para refutarmos o medo do inferno, vamos imaginar a seguinte situação: temos cinco sentidos físicos. Façamos de conta que acabamos de perder a visão; agora, perdemos o tato; logo em seguida, já não temos o olfato. Como desgraça pouca é bobagem, perdemos a audição e também o paladar. O que sobrou? O que eu sou? Um vegetal? Estamos agora na situação de uma pessoa que faleceu. Onde está a realidade? O empirismo preconiza que o conhecimento humano começa com as impressões sensoriais que temos com o mundo externo. Associamos as diversas impressões e formamos representações e conceitos das coisas e do nosso mundo interior ou psicológico.

Uma SEREIA, por exemplo, é a junção da impressão visual de uma "bela" mulher e o rabo de um peixe. Formamos a ideia de inferno, porque já tivemos as impressões visuais do fogo, do homem, dos chifres, do rabo, do ranger de dentes, das lágrimas e do sangue. Já sofremos a queimadura do fogo e já tivemos sofrimentos neste mundo. Associamos tudo e temos a representação do capeta e do inferno. Portanto, se fôssemos cegos e não tivéssemos a sensação do tato, não saberíamos o que é o fogo e nem o que é a queimadura, logo, não poderíamos formar a ideia do inferno. A partir de ideias simples formamos as ideias complexas. O que é um anjo? Um homem ou uma criança "branco(a)", olhos azuis, cabelos claros, asas...Mas por que não um anjo negro? Anjo negro é associado com o quê? Precisa dizer? O anjo tem que ser europeu? Por quê? Porque quem dominou e ainda domina? Pois é!! A imaginação faz o resto...

Para vermos o objeto, precisamos da visão; para sentirmos o cheiro, precisamos do olfato; para ouvirmos o som, precisamos da audição; para sentirmos o sabor do alimento, precisamos do paladar; para sentirmos a textura e outras propriedades de um objeto, precisamos do tato. Este último é tão importante, que para sentirmos dores, uma queimadura ou um corte de faca, por exemplo, precisamos do sentido do tato. Se eu der um beliscão em uma pessoa com um "alicate", provavelmente, ouviremos os gritos de longe, não é mesmo?

Prossigamos...Ficou evidente, espero, que para termos experiência do mundo, precisamos dos nossos sentidos físicos. Conseguimos sobreviver sem um ou outro sentido, mas sem os cincos sentidos físicos?!! Não conheço ninguém que tenha tido essa "experiência"! Suponhamos que exista uma alma dentro do nosso corpo e com a morte deste, ela vá para o céu, o purgatório ou para o inferno. A pergunta é: COMO PODE UMA ALMA SENTIR DOR SEM UM CORPO FÍSICO? Se o cérebro não funciona mais numa eventual morte ou na perda de todos os sentidos físicos, como pode experimentar o fogo do inferno? Na verdade, não temos experiência sem um corpo físico. O que seria uma "experiência" de uma alma? Sim, porque o "inferno" nada mais é que as diversas associações de impressões sensoriais do corpo físico e material. Experiências subjetivas e opiniões pessoais de "mestres e gurus" nunca me persuadiram...A mente humana é muito complexa e não é qualquer "explicação" subjetiva que me convencerá. Não se deve fazer apostas com o sobrenatural, quando estamos engatinhando ainda nas explicações do mundo natural. O remédio? Reflexão racional e moderação na imaginação. Simples! A meu ver, só através de muitas piruetas imaginárias alguém poderia ter medo do INFERNO.

Alguém poderia alegar que o INFERNO é uma alegoria, que não é um lugar físico, mas é a consciência divina purificando a alma das pessoas. A meu ver, tal explicação é mais inteligente e até mais bonita, mas também não resiste aos fatos. Podemos perguntar: ONDE ESTÁ O FOGO DA CONSCIÊNCIA DIVINA QUEIMANDO A ALMA DE UM PSICOPATA? Desde quando os psicopatas têm consciência moral? Que eu saiba eles não sentem culpa, remorso ou arrependimento por nada que fazem de cruel.

As religiões inventaram o inferno para manter as pessoas numa infantilidade tola. Fica bem mais fácil manipular as pessoas e mantê-las na ignorância com essas historinhas da carochinha. É lamentável, mas em pleno século XXI e com todos os avanços das ciências há, ainda, bilhões de pessoas presas aos dogmas religiosos mais infantis.

De minha parte, não tenho medo dessas fábulas. São invenções das religiões organizadas. Nada mais. Troque as crenças infantis por uma boa reflexão filosófica e você ficará livre para sempre!



TEXTO: Marco Aurélio Machado