O ser humano é movido por vários sentimentos e emoções, mas gostaria de destacar neste texto uma das maiores emoções que o homem lida: a paixão. Eis uma emoção, um sentimento capaz de trazer consequências agradáveis, todavia, na maioria das vezes, resultados e efeitos nefastos...
Mas o que é a paixão? Não vamos, neste espaço, conceituar a paixão de um ponto de vista biológico, fisiológico e muito menos vamos fazer uma pesquisa sobre a etimologia da palavra. Neste texto vamos definir a paixão "filosoficamente". A paixão é o surto da razão; é a insanidade temporária do bom senso; é a incapacidade de julgar com lucidez uma situação; é a paralisia da tranquilidade e o avanço do instinto e do estado de natureza no ser humano.
A paixão é a ausência absoluta do distanciamento, da reflexão para mensurar, avaliar, ponderar, meditar sobre um curto-circuito de sentimentos e emoções no interior do homem. Ela é o ato descontrolado de uma alma que tornou-se escrava da situação e não a sua senhora.
A História mostra a força da paixões em muitas circunstâncias e basta aos interessados tal busca ou consulta. Neste texto, gostaria de fazer referência às paixões amorosas. Quem nunca sentiu uma paixão violenta, avassaladora e que consome as nossas noites com insônias? ( mesmo que a pessoa durma um pouco, é muito comum ela sonhar com o "objeto" do desejo intenso e irracional); quem jamais perdeu a fome ou fez algumas loucuras por causa de uma força tão grande, que invade o ser do apaixonado de tal forma, que ele perde a noção do tempo e do espaço? Quem não teve a oportunidade de ler, ouvir ou assistir aos crimes mais violentos, frutos de uma raiva ou ódio que encarna a "alma" de uma pessoa de tal maneira, que a impressão que se tem é que o indivíduo foi "vítima" de uma possessão e obsessão demoníacas?
As paixões existem nos mais variados níveis, sejam nos esportes, na política, na religião, nas diversas formas culturais, mas a paixão amorosa é a alegria e a desgraça humana. Alegria, por sermos capazes de transmitir o brilho dos olhos, de caguejar e tremer diante do ser "amado". E desgraça, porque as tragédias são muito mais frequentes, quando não somos correspondidos, e mesmo quando há reciprocidade, numa grande paixão não há lugar para a reflexão fria e racional, caso contrário, não seríamos mais vítimas desta avalanche de sentimentos, de devaneios imaginários e do instinto bruto habitar em nós. Dizem que os filósofos estóicos lidavam muito bem com as paixões da alma e que tinham domínio sobre elas, contudo, ao menos na época contemporânea, a capacidade de tolerar frustrações está cada vez mais frágil...
Que a luz da Filosofia possa nos ajudar a lidar com a paixão de uma forma mais equilibrada. Se não conseguirmos controlá-la definitivamente, que ao menos possamos diminuir os seus efeitos nefastos e deletérios. Se não pudermos ser os senhores deste furacão chamado "paixão", que a reflexão possa nos mostrar que no caminho há muitos precipícios e escuridão, e, que, por incrível que possa parecer, a percepção destas dificuldades já é o primeiro passo para voltarmos a ver a luz que liberta. E esta luz tem nome: ponto de interrogação!
TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO