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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

FILOSOFIA DA CIÊNCIA

Filosofia é reflexão. Sendo reflexão, nada escapa. E as diversas ciências não poderiam ficar de fora da reflexão filosófica. É a retomada do pensamento sobre si mesmo, para abrir novas possibilidades. É questionar o esclerosado, o mofado, o cristalizado pelos usos e costumes. É refletir sobre a floresta e não sobre a árvore. O especialista que enxerga muito bem uma árvore, saberá tanto dela, até saber tudo de nada.

O papel da Filosofia é fazer perguntas mesmo. É incomodar; é tirar o chão e colocar areia movediça; é empurrar no abismo, quem tem verdades prontas e acabadas; é espantar-se e admirar-se com o mundo, como se fosse a primeira vez que o tivesse vendo. É colocar as questões mais superficiais, na verdade mais complexas, mas o tolo acha que é superficial. O problema, a meu ver, é que muitas pessoas leram algumas páginas de HISTÓRIA DA FILOSOFIA E PENSAM QUE A COMPREENDEM.

Quem começa com conclusões em qualquer área, é um assassino da Filosofia. E quem pensa que a ciência explica tudo, não compreendeu que a ciência é provisória. E que um pequeno e insignificante fato pode jogar toda uma teoria científica ao chão. Quem acha que a ciência tem a última palavra para tudo, deixou de ser cientista e tornou-se mais um religioso. Não existe nenhum fato científico sem uma teoria a priori que o sustente.

O cientista fala de um fato? O filósofo pergunta:"O que é um fato"? O cientista fala de uma lei. O filósofo pergunta:"O que é uma lei"? O cientista fala em seguir um método. O filósofo pergunta:"O que é um método"? E assim por diante. O que é um fato? Newton "viu" a lei da gravidade? Não! Os "fatos" nos mostram o sol girando em volta da Terra, mas todos sabemos que isso não é a verdade. Acontece justamente o contrário. E quantas pessoas e durante quanto tempo acreditaram que a Terra era o centro do Universo? Pois é! Chega a ser engraçado, pois partimos do que não vemos para explicar o que vemos. Não é à toa que o filósofo escocês, David Hume, já nos alertava para o papel importante da imaginação na esfera do conhecimento.

Contudo, foi o filósofo grego, Demócrito, que nasceu bem antes de Cristo, a meu ver, um dos mais brilhantes pensadores da teoria atômica e que corrobora o papel da imaginação e do raciocínio, para postular uma das maiores "verdades" da Ciência de todos os tempos. Através de pequenas partículas de poeira, numa fresta de luz solar, que entrava pela janela ou porta (há controvérsias), ele foi capaz de "imaginar" a existência do átomo, ou seja, partícula minúscula que constitui o mundo material. Evidentemente, com novos recursos tecnológicos foi possível ampliar a sua brilhante teoria. Fantástico!!!

Cadê os fatos? Outro exemplo banal. Um detetive se depara com uma mulher morta no meio da rua. A MULHER MORTA É O FATO. ELE EXPLICOU ALGUMA COISA? O FATO NÃO EXPLICA COISA NENHUMA. ELE APENAS CONSTATA. NO CASO, A MORTE DA MULHER. Para se descobrir tudo a respeito da morte da mulher, eu preciso fazer algumas perguntas. Veja bem: mais uma vez estarei partindo do que não vejo-hipóteses-, para explicar o que estou vendo, a mulher morta no meio da rua: o fato. Para desvendar o fato, o detetive, provavelmente, formularia as seguintes perguntas que ainda não têm respostas e, portanto, são invisíveis. Por que ela morreu? Qual o motivo? Em que condições? Quando? Como? Seria por vingança? Ciúmes? Envolvimento com o tráfico de drogas? Crime passional?

Enfim, formularia um quebra-cabeça-hipótese, teoria, para se chegar à uma conclusão que explicasse o fato. Uma sentença definitiva-lei-e o desvendamento daquilo que era apenas uma constatação-o fato-, que na verdade não explicou coisa nenhuma. Em última análise, o cientista parte de uma hipótese, uma teoria-e dependendo e pode assim explicar muitos fatos. Até que apareçam fatos novos. No início faz se um arranjo e a teoria continua comportando o fato. Aparece mais um, outro rearranjo; depois outro fato, mais um, mais outro, e assim por diante...Conclusão: tem que se arrumar um novo paradigma ou modelo para dar-se conta de explicar tantos fatos.

É mais ou menos isso que postula Thomas Kuhn, filósofo da ciência americano do século XX, ou seja, a ideia de novos paradigmas e revoluções científicas. Eu concordo com ele a priori, apesar de não ser especialista em Filosofia da Ciência (e nem quero ser especialista de coisa nenhuma, a não ser por motivos estritamente profissionais e de sobrevivência).

Mais uma vez, partimos da constatação do visível, que em si mesmo não explica nada, e imaginamos o invisível, para explicar o visível.

Eu queria acreditar como muitos por aí. Em última análise, se não temos fatos e tudo não passa de uma equação matemática, a conclusão é óbvia. A realidade é uma equação matemática. Pergunta: desde quando a matemática existe por si mesma? Se foi o homem, através das relações sociais, que aprendeu uma linguagem e depois inventou a matemática, como dizer que a filha é a mãe da mãe? Como não perceber que há interesses, relações de poder nas ciências? Quem ganha os principais prêmios de física, química e outros na comunidade científica internacional? O prêmio Nobel, por exemplo? Os americanos e os europeus? Acertei!!

Por outro lado, penso que a Filosofia não tem essa pretensão. Ela não gera o próprio conhecimento. Ela é uma reflexão, muito mais dos fins a que se destinam o conhecimento científico, do que qualquer outra coisa. Outra: como dissociar conhecimento científico, da ciencia aplicada, que nada mais é do que a tecnologia? A ciência já foi um fim em sim mesma. Hoje, não o é. Ela está a serviço do capitalismo. Quem define o que é ciência hoje? Simplesmente, a comunidade internacional de cientistas. Muito mais do que equações matemáticas que, supostamente, representam o real objetivamente, hoje, os fatos são feitos. E quem define o que é ciência ou não são os poderosos. Porque ela não é um fim em si mesma, mas um meio para transformar a natureza a seu bel-prazer e produzir mais-valia relativa e absoluta. Vou no popular. Produzir lucro. Mais do que nunca, a crítica filosófica é importante. Porque ao contrário do que muitos pensam, a intenção dela é abrir uma clareira na floresta, para que todos vejam o véu da ideologia e da alienação que encombrem o rosto da maioria desapropriada e desprovidada de sua humanidade, que é a espécie humana. Ciência pura + ciência prática ou tecnologia= EXPLORAÇÃO, DESEMPREGO, MISÉRIA, FOME E VIOLÊNCIA. Quem dera se a Filosofia fosse a luz da humanidade. Já teríamos acabado com essa mamata há muito tempo.

Enfim, a Filosofia é a busca sem fim por todas as supostas verdades colocadas no mundo humano. Se você amplia os seus horizontes, então, a Filosofia já fez a parte dela. Imagine o olhos humanos. Agora, compare com os olhos de uma águia. O filósofo é a águia. Imagine se todos filosofassem neste PLANETA. Conseguissem tirar o véu da ideologia e desalienar-se...O mundo estaria assim? Acredito que não, certo?


Texto: Marco Aurélio Machado