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MAPA DOS VISITANTES DESDE O DIA 29/11/2009

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

REFLEXÃO SOBRE O EGO!!

Em breve, daqui a algumas horas, este lado do planeta comemorará mais um "Ano Novo"!! Fogos de artifícios, pessoas vestidas de branco, oferendas para Iemanjá, shows de "músicos" em diversos lugares, promessas de mudanças comportamentais, renovação da esperança, abandonos de vícios e apostas na busca de virtudes...Evidentemente, há muitos outros desejos em cada ser humano e a "eterna" luta maniqueísta entre o bem e o mal: queremos nos identificar com o bem e nos afastarmos do mal, como se não fôssemos os dois ao mesmo tempo...

Perceber o Ego em movimento é extremamente difícil. Encará-lo frente a frente, não quando se olha  no espelho, mas por meio dos pensamentos, que dão a impressão de que somos muitos, quando, na verdade, há uma integração. O problema é "saber" disso sem o uso de pensamentos e de palavras; até parece algo místico...

O Ego humano nos prepara muitas armadilhas; talvez esta época do ano, quando, amanhã, estaremos em 2016, seja o momento mais propício para encarar o "monstro de mil faces": o Ego. Sim, porque somos uma legião de Egos, ou seja, para resumir,  há dentro de cada ser humano lembranças e memórias da nossa vida, da história pessoal que todos nós construímos e que também foram "edificadas" pela sociedade e a cultura em que nascemos. Isto para quem não crê na reencarnação, pois para quem vive como se existissem outras oportunidades de reviver num outro corpo e continuar evoluindo, tais lembranças e memórias também constituem o Ego de outras vidas passadas. Eu, particularmente, creio que só existe uma vida: esta que estou "vivendo". E depois de muito refletir sobre o assunto, tenho me questionado se vale a pena preocupar-me com os meus muitos disfarces, o outro nome do Ego!! 

Penso que a humanidade sofreu, sofre e sofrerá muito ainda por causa dos movimentos dessas sombras que obscurecem a inteligência e a lucidez das pessoas. Alguns exemplos, podem nos ajudar a explicitar o tema. Quantos indivíduos consultam tarôs, mandalas, búzios, mapas astrais, horóscopos, bolas de cristal, baralhos, fazem oferendas, rezam e oram pedindo a Deus que o Ano Novo seja abençoado e que a "roda da fortuna", o destino lhes tragam "coisas boas", principalmente, bens materiais? Além disso, querem saúde, paz, felicidade, entre outros pedidos...Todavia, são poucos os que têm noção do movimento sutil do Ego, o ilusionista das mais variadas máscaras...

O mundo só mudará quando cada um mudar. Entretanto, todas as vezes que uma pessoa se achar especial perante deuses, destinos, reencarnações de "espíritos evoluídos", almas de reis e rainhas do passado, "mestres espirituais" que vieram neste mundo para ajudarem pessoas atrasadas, não perceberemos o Ego que nos escraviza!! 

Estou muito longe de percebê-lo plenamente, contudo, procuro observá-lo, o que para tantas pessoas é pura arrogância. Qual é a melhor forma de observar os movimentos do Ego e livrar-se deles? Encarando-os. Porém, isso dói, dói muito, mas não é fugindo que se escapa, pelo contrário, é "abraçando" todas as suas lembranças e memórias e não se identificar com nenhuma. No entanto, este parto deve ser de cada ser humano. Pior: não há anestesia para ele...

TEXTO: Marco Aurélio Machado

P.S.: Este é o último texto mensal que estou escrevendo no blog neste ano. A partir de janeiro de 2016, só vou escrever quando puder, estiver inspirado e se aparecer um tema interessante.






quinta-feira, 26 de novembro de 2015

AS MÁSCARAS DOS HUMANOS E O MITO DOS SUPER-HERÓIS NA CONTEMPORANEIDADE!

Quando era criança gostava muito do Fantasma, também denominado " o espírito que anda". A lenda do Fantasma espalhava-se pela floresta de Bengala pelos nativos. Estes diziam que ele tinha 400 anos e que ele não morria,  mas os nativos,  que fizeram de tal lenda uma tradição, nunca se perguntavam sobre o motivo de alguém ter uma idade tão avançada e não morrer. Na verdade, os "Fantasmas morriam", contudo, eram substituídos pelos filhos. E estes continuavam a tradição. (Não vou me alongar, porque não faço consultas ao escrever; se alguém se interessar,  poderá fazer uma pesquisa mais profunda.)
 
Temos muitos super-heróis criados pela imaginação de pessoas capazes de despertar em nós, simples humanos, o desejo da imortalidade, da força, da coragem, da justiça, da ética, da luta maniqueísta entre o bem e o mal (este sempre perde), na vida real, geralmente, acontece o contrário.  Há   algo em comum entre todos: a luta sem trégua para salvar a humanidade!! E quantos de nós até hoje lemos revistinhas em quadrinho e assistimos aos filmes dos nossos super-heróis prediletos,  não é mesmo?
 
Uma outra questão interessante é que os justiceiros supracitados quase sempre usam máscaras e na vida real são considerados educados, refinados, "frágeis", e incapazes de salvarem o mundo dos malvados cujo objetivo é usar os seus poderes para dominarem o pobre planeta e a  humanidade, que no mundo do faz de conta, só faz o "bem"...Saliento, ainda, que os super-heróis jamais revelam os seus segredos, mesmo que sejam ridicularizados pela sociedade. As máscaras "ajudam" a manter as suas verdadeiras identidades,  veladas, ocultas, escondidas...
 
Tais seres "mitológicos" representam o desejo da humanidade de ser como eles, todavia, somos o oposto. As máscaras humanas são a plástica, e todos os produtos de beleza capazes de fazer uma pessoa considerada fora dos padrões estéticos, como se fosse alguém,  se não linda,  ao menos "razoável". Isto se tivermos contato pessoal com ela, se não for o caso, há mil recursos para transformar um "zumbi "num Brad Pitt... As redes sociais que o digam!!!
 
Todavia, a reflexão até agora está no plano físico. As verdadeiras máscaras estão no nível psicológico. E, neste plano,  a situação é deprimente. Por mais que tentemos disfarçar, as máscaras caem, mesmo que não estejamos num baile à fantasia. Elas estão na "alma", "no espírito",  no ego...
 
Não há um ser humano capaz de escapar: uns mais, outros menos, mas todos somos as máscaras. Não temos máscaras, somos as próprias máscaras. E quem é a referência para nos dizer que os outros "se acham"? Que deveriam ser mais humildes? Talvez, só um Deus!! Se tivéssemos acesso aos pensamentos e sentimentos dos que se autodenominam humildes e sinceros, provavelmente, teríamos a maior decepção do mundo!! A arrogância dessas pessoas está na alma. Se por um azar do destino os pensamentos e sentimentos delas viessem à tona sem "querer"... Nossa!!!
 
Somos anti-heróis por natureza. Daí o gosto pelo mito. O mito é fantasia, imaginação, e neles podemos desejar e ser o que quisermos. Na vida real, cotidiana,  não passamos de mascarados que se julgam no direito de criticarem as máscaras alheias. Prefiro o arrogante tagarela, apesar de ter (ser) a minha coleção de máscaras também...Adoro ser chamado de arrogante, pois descubro muito mais da pessoa do que ela imagina...
 
 
Texto: Marco Aurélio Machado
 






P.S.: Este é o penúltimo texto que estou escrevendo. A partir de janeiro não quero ter compromisso de colocar um texto por mês neste espaço, mas só quando tiver vontade, inspirado e se aparecer um tema interessante.
 
 
 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

PROFESSOR DE FILOSOFIA!!


Ser professor de qualquer disciplina não é tarefa fácil, contudo, lecionar Filosofia é andar no fio da navalha; é provocar os estudantes, não para brigar fisicamente, porém, "desestruturar" emocionalmente, psicologicamente, e concomitantemente sofrer mais do que eles, afinal, lidar com jovens é ter consciência de que eles estão no meio de uma "ponte de madeira" sobre um rio perigoso...Eles não são crianças nem adultos, porém, adquiriram uma educação familiar com valores, princípios, normas e regras, alheias, quase sempre, à Filosofia. Esta convive com a dúvida, o ponto de interrogação, exclamação e as reticências, ou seja, nada está pronto, nada está acabado; nada está construído....Aquela (educação familiar) é composta de pontos finais e os dois pontos. A obediência e a autoridade são valorizadas, mesmo que não sejam "explicadas". A Filosofia, pelo contrário, é a busca "amorosa" pelo conhecimento. Um "amor", que antes, por parte de grande parte dos neófitos (iniciantes), é raiva, rancor e ódio!!

O professor de Filosofia, antes de ser amado, é "odiado". Ele mesmo, às vezes, se odeia, como muitas vezes já aconteceu comigo ao ir para casa depois de mais um dia de trabalho. Uma angústia profunda toma o seu ser, justamente, porque é tal sentimento que ele gera nos seus discentes. O parto de novas ideias é doloroso; é o infarto, não do coração, mas da alma (intelecto). Uma dor quase que insuportável...
Um professor de Filosofia que nunca sentiu um vazio existencial terrível, nunca poderá dizer que esteve numa sala de aula, pois lecionar tal disciplina é querer que a dor do "aluno" passe para ele, assim como os pais gostariam que as dores físicas e espirituais (sentimentais) dos filhos fossem suas (deles).

Um professor de Filosofia, de fato, não sabe o que é um parto sem anestesia, embora, por intuição, "sabe" que deve ser a dor física mais pavorosa que as mulheres sentem. Mas ele sabe o que é a dor da alma provocadas pelas perguntas e questionamentos; compreende como as primeiras aulas incomodam e "martelam" dia e noite o "espírito" dos jovens.

O professor de Filosofia sabe pouco sobre todas as coisas, mas sabe, como poucos, a dor de um jovem que lida com as incertezas e dúvidas que tal disciplina provoca. Sabe, porque não está imune às questões colocadas, e que causam abalos nos alicerces mais firmes.

Quem já fez uma reflexão filosófica tem a "certeza" ( o que é "certeza" mesmo?) que quebrou o espelho que durante muito tempo foi guardado com carinho. Pode-se colar o espelho, mas ele jamais será o mesmo!! Talvez, mesmo quebrado, ele representará uma alma (intelecto) que sofreu uma fratura profunda, fratura esta que pode ser comparada à loucura...

Mas eis que, de repente, vem a paz,  e as superstições, que eram monstros cruéis, tornam-se simples sombras. Continuaremos ignorantes sobre quase tudo, todavia, paradoxalmente, seremos "ignorantes" sábios!! E os jovens, com a passar do tempo, podem até continuar não gostando de Filosofia, mas agora já não importa: ela já terá inoculado neles a semente da sabedoria. E esse processo é infinito, ao menos enquanto esta vida durar!!

O professor de Filosofia, então, odiado, pode, desta feita, ser "amado"!!


Texto: Marco Aurélio Machado


P.S.: ESTE texto foi colocado no meu blog para o mês de outubro. Devo escrever apenas mais uns três ou quatro no blog. Depois, só escreverei sem compromisso e quando tiver inspirado.



quarta-feira, 30 de setembro de 2015

SOMOS TODOS SOFISTAS?

Desde a aurora da Filosofia, cujo nascimento convencionou-se,  entre a maioria dos historiadores e estudiosos,  considerar o século VI a.C, e que a tradição histórica considerou como pai, o filósofo grego, Tales de Mileto; aquele pré-socrático, que disse pela primeira vez, que a água era a arché de todas as coisas: era o advento da Filosofia. A razão é a filha nobre que "separa" a explicação cosmogônica da cosmologia. A primeira tinha que ver com os mitos, com os deuses, numa palavra, com o sobrenatural. A segunda, recorria apenas ao Lógos, à razão, ao homem, e a explicação agora concentrava-se na capacidade humana de explicar os fenômenos da natureza sem recorrer ao sagrado. O homem estava começando a engatinhar na autonomia e na liberdade...

Evidentemente, que no decorrer do tempo apareceram outros filósofos e o elemento divino sempre esteve presente,  de uma ou outra forma. Talvez, não seja por acaso, que o filósofo francês e ateu militante, Michel Onfray, esteja escrevendo uma Contra-História da Filosofia, ou seja, ele está tentando resgatar os filósofos materialistas e hedonistas que, segundo ele, foram vencidos pela longa História da Filosofia, cuja matriz é, em última análise, platônica. Ele até cita outros, mas Platão é o alvo principal do idealismo e da inversão do mundo. 

Tivemos, depois da preocupação filosófica com o elemento primordial, material, de todas as coisas, ou seja, a cosmologia, a physis, um deslocamento para a antropologia, a vida social, política e ética na pólis - cidades-Estado grega. É em tal contexto que temos a consolidação da democracia e o aparecimento dos sofistas e de Sócrates. Aqueles, segundo as más línguas, queriam vencer o debate, a discussão nas ágoras (praças públicas) a qualquer custo. Os principais nomes, destes verdadeiros mestres do discurso, da oratória e da retórica, são Protágoras de Abdera e Górgias de Leontini.   Eram eloquentes e capazes de opor argumentos e persuadir as pessoas com certa facilidade, além de cobrarem caro por ensinar tal arte nas diversas cidades que perambulavam. A verdade, para eles, era relativa e circunstancial. Em outras palavras, a verdade se confundia com a capacidade de persuasão. O importante era vencer o debate. Eram professores dessa arte e,  numa democracia direta, mais uma vez,  quem podia pagar,  aprendia as técnicas e influenciava as decisões nos debates. 

Sócrates, pelo contrário, criticava as cobranças dos sofistas e pensava que o saber não se vende. (Talvez seja por isso que os professores ganham tão mal...) O filósofo, Sócrates, vivia fazendo perguntas a todos, e argumentava que perguntava porque não sabia. Utilizava o método da Ironia e da Maiêutica. A primeira, tinha como fim a desconstrução das meras opiniões que os atenienses pensavam que sabiam. A segunda, Maiêutica,  etimologicamente, é a arte de trazer à luz, partejar. Só que no caso de Sócrates, trazer à luz novas ideias. Enfim, desconstruir e reconstruir novas ideias. A mãe de Sócrates,  Fenareta,  era parteira.  Não é difícil deduzir o que Sócrates fizera, não é mesmo? 

Sócrates buscava,  não a relatividade dos sofistas, mas o conceito, o universal e necessário. Ele queria a essência, ou seja, o que subjaz a aparência. Esta muda, aquela permanece. Não foi à toa que Platão, discípulo de Sócrates, inventou um outro mundo e aprofundou a metafísica de Parmênides,  e foi além da metafísica embrionária socrática...

Poderia citar um pouco mais de Platão e do seu principal discípulo, Aristóteles, um dos maiores filosófos e metafísicos de todos os tempos, mas o meu interesse é voltar ao tema da pergunta: "Somos todos sofistas"?

Quem dera se tivéssemos a competência para chegar ao menos perto dos grandes sofistas da Grécia antiga, todavia, vivemos numa época de riqueza da linguagem por algumas elites e de uma pobreza absoluta da linguagem pelas massas do mundo inteiro. E o que é pior: muitos linguístas, com o pretexto de "respeitar" as diferenças e a multiplicidade dos "cidadãos", a diversidade das culturas, preconizam e até estimulam uma linguagem paupérrima de significados. Esta, sem dúvida, torna a concepção de mundo dos mais explorados muito mais complexa, pois dificulta a percepção mais ampla e rica da cultura humana, patrimônio que deveria ser de todos. O que tais "especialistas" não percebem é que também estão alienados e reproduzem uma ideologia que deveriam combater. Principalmente, porque quem acredita nessas teses, dificilmente faz parte ou está inserido no contexto da realidade social, política, econômica e cultural dessas comunidades. 

A linguagem é o que nos faz diferentes dos animais, e como seres humanos, temos o direito de compreender, analisar, interpretar, refletir e dar um novo sentido ao discurso das pessoas que "falam e escrevem" bonito, afinal, numa democracia, de fato, e não apenas de direito, é preciso que a gama de sinônimos seja rica. A linguagem é poder e o poder domina, sobretudo, pelo apelo à força das palavras. Se fôssemos todos sofistas, a maioria dos políticos, advogados, médicos, jornalistas, mestres de propagandas e publicidades, vendedores, entre outros, não teria vida fácil conosco. 

Não é, por acaso, que a sociedade  desdenha a Filosofia...Esta, além de desmascarar e desvelar as ideologias e ilusões vendidas pelo atual sistema de produção, conhece noções de Lógica e as principais falácias e sofismas. Afora a capacidade de fazer perguntas, que são verdadeiras bombas atômicas,  para explodir o discurso fácil dos inimigos da verdade. 

Cuidado com a manipulação, pois ela está em toda parte...Até mesmo por muitos que querem nos vender um lugar no CÉU...

TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A TORRE DE BABEL DOS INTERESSES HUMANOS!!

Na natureza os animais nascem com instintos rígidos em muitos casos, como, por exemplo, os insetos. Todavia, tal determinação não é absoluta,  uma vez que há mais flexibilidade de ação e comportamento na escala da evolução, por exemplo: os mamíferos são capazes de aprender muitas coisas, portanto, há uma certa "inteligência", mesmo que não tenha o mesmo teor de abstração da de um ser humano. No caso deles, podemos afirmar que trata-se de uma "inteligência" concreta, para realizar tarefas simples, sem criatividade, como acontece com os seres humanos. Se bem que ainda sabemos muito pouco sobre a "inteligência" dos animais,  e a comparação com seres humanos é complicada, pois,  como já dizia o filósofo cético, Michel de Montaigne, em muitos aspectos os animais nos são muito superiores...

O ser humano, com raras exceções, é egoísta, ganancioso, ambicioso e outros adjetivos pejorativos que não valem a pena colocar aqui, porque é do conhecimento de quase todos. O ser humano tem a mania de pensar que é racional e que os demais animais são irracionais, entretanto, quero fazer uma provocação: somos racionais de uma forma imanente,  essencial? Penso que não precisamos nem lembrar que sem a sociedade não haveria humanização da espécie humana, logo, se fôssemos racionais essencialmente, nunca deixaríamos tal racionalidade. Mas é realmente isso o que acontece? Somos, ou usamos a razão de vez em quando?

O ser humano, em sua maioria, criou o Estado político. Há várias teorias sobre a origem do Estado. Desde a origem divina, passando pela natural, e a tese do contrato social. Não entrarei em detalhes aqui, mas espero que estas questões sejam explicitadas,  na proporção que o texto avançar. A verdade é que o ser humano é complexo demais, e, afirmar, peremptoriamente, que a espécie humana é racional,  essencialmente é, no mínimo, leviana. Se fosse, como seria possível o sistema capitalista de produção? Produzir, acumular, vender, e destruir o planeta e não compreender que os recursos naturais são finitos; depois recomeçar o processo numa escala e velocidade cada vez maior!!! Podemos chamar estas ações de racionais?  Vou um passo além: como não questionar uma "riqueza" inexistente, abstrata, como a que se "consegue" nas bolsas de valores de todo o mundo? Eis o paradoxo: ser proprietário e não proprietário simultaneamente,  porque tal "dinheiro" é apenas números transferidos para onde se supõe ganhar-se mais, ou ganhar-se menos, porém,  ter-se mais "segurança". Há um porém: às vezes, a pessoa que investe em ações,  perde tudo da noite para o dia. Onde está a riqueza, se ela não foi produzida e depende muito mais de apostas de onde investir, que a racionalidade de quem investe de forma conservadora? Daí a loucura do mercado financeiro!! Basta um boato e os investidores comportam como se fossem uma "boiada". Eis a razão da espécie humana. A meu ver,  um ardil para ficar rico sem produzir...

Percebe-se, na situação acima, não uma racionalidade, mas a total irracionalidade, pois é o desequilíbrio psicológico e emocional que fica evidente nos agentes a serviço do capitalismo financeiro. A TORRE DE BABEL, em vez de ser "destruída", como na alegoria bíblica, é motivo de conflitos entre os que defendem o capital voltado para a produção; os que fazem apologia do capital financeiro e não produzem um parafuso, como é o caso dos banqueiros e "especialistas" que só vivem da especulação, e aqueles que produzem, mas que também  têm ações nas bolsas. Contudo, o que é comum a todos é o papel do Estado. Infelizmente, neste caso, por ideologia, estupidez, irracionalidade, ou má-fé, quase todos defendem o mesmo: o Estado não deve interferir na economia e no mercado financeiro, embora  a irracionalidade daqueles que só usam a razão para ganhar dinheiro, dependam ontologicamente do Estado. Este foi, é , e provavelmente será a "mão invisível" para os cegos, mas para quem utiliza a razão para refletir sobre o todo, a TORRE DE BABEL econômica é apenas uma parte da realidade, talvez a mais importante. Aliás, Karl Marx já dizia que a economia determina tudo, apesar de ele ter se referido apenas à economia que produz, afinal o filósofo alemão desenvolveu as suas teorias  no século XIX e não conheceu a bolsa de valores em nível planetário. Se o modo de produção capitalista, que subtrai mais-valia relativa e absoluta da "classe trabalhadora", foi motivo para uma teoria socialista, comunista,  imagine se Karl Marx vivesse na nossa época? Ele, com certeza, ficaria horrorizado com a "produção" de riqueza financeira abstrata. Ser proprietário de números e não de algo concreto e palpável...E o que é pior: números que podem desaparecer da tela do computador com a mesma rapidez que apareceram. Eis o irracional com verniz de racionalidade do capitalismo...Ideologia, nada mais.

A TORRE DE BABEL, no atual sistema, e na nossa época, não é apenas uma questão de misturar as línguas por um suposto Deus bíblico, mas uma balbúrdia infernal sobre interesses diversos. Estamos voltando à Grécia, dos antigos sofistas, contemporâneos de Sócrates, porém com uma roupagem linguística mais sofisticada. Isto porque a comunicação é globalizada também. A velha e surrada luta de classes não é mais entre quem explora e quem é explorado; entre opressores e oprimidos. São ricos contra ricos, dependendo de como "produzem" riqueza; de ricos e pobres; da classe média alta contra pobres;  das mais diversas classes de profissionais, ou seja, uma fragmentação que o irracionalismo não pode compreender,  além dos interesses morais, políticos, sociais, ideológicos, culturais, entre outros.

Evidentemente, este tema merece um livro, tal é a quantidade de assuntos a ser abordados. No entanto, é necessário fazer apenas algumas observações e provocações para que sejam refletidas pelos interessados. Vou dar um exemplo aqui, que deve ser do conhecimento da maioria, e que está caminhando para acontecer em nível mundial. Refiro-me à briga, às discussões, às acusações recíprocas entre os taxistas tradicionais e o aplicativo UBER. Muitos desses pretensos motoristas de táxi preconizam que o Estado é burocrático, inchado de apadrinhados, antro de corruptos, etc., porém, com a concorrência do livre mercado, a quem eles recorrem? Ao Estado, não é mesmo? Querem ser protegidos pelo papai estatal. O mesmo serve para todas as situações supracitadas. O Estado deve ser mínimo para o povo e máximo para os ricos. Estes fundaram o Estado, portanto, se forem à falência, a babá estatal deve protegê-los... Dei tais exemplo, mas cada leitor deste texto pode fazer um exercício mental e tentar lembrar das divergências entre os seres humanos na luta pela sobrevivência.

Uma pergunta: em qualquer sentido, se alguém estivesse numa situação oposta à que defende, será que ele seria capaz de colocar-se no lugar do outro? Em  outras palavras, se um motorista de táxi fosse alguém que trabalhasse com o UBER, ele defenderia o direito de quem? Relembro aqui o grande Protágoras de Abdera, porém, não com as mesmas palavras: " Sobre qualquer discurso é possível fazer um oposto com o mesmo nível de persuasão"!!!Em outras palavras, troca-se raciocínios lógicos, por um jogo de palavras que muda de acordo com os interesses e a conveniência. A astúcia em detrimento da verdade. A ética kantiana aqui não passa de uma fábula, não é mesmo?

No modo de produção atual, cada um defende o seu lado, e quase sempre,  sem bons argumentos,  pelo contrário, com provocações rasas e uso da força bruta. O que move o ser humano é a razão? Duvido. O darwinismo natural não estaria sendo utilizado pela ideologia para legitimar o darwinismo social? Estaria o ser humano virando uma besta, ou está sendo estimulado a agir como tal? A TORRE DE BABEL, aqui, não poderia ser representada pelo irracionalismo? O animal é "irracional", mas não sabe disso. O homem tem a possibilidade de usar a razão, mas a História tem provado que ele é irracional, tem consciência dela e, ainda assim,  prefere agir como um autômato...Há algumas exceções, raras, porém,  como um diamante...


TEXTO: Marco Aurélio Machado 

sexta-feira, 31 de julho de 2015

FRASES DA CONDIÇÃO HUMANA!

A felicidade é uma busca inútil, pois queremos que a realidade seja determinada por nós!!


Não confunda momentos "felizes" com o conceito de felicidade. Este é estático, aquele é dinâmico!!


O tédio é o amigo íntimo de um pensador.


A morte deve ser o fim de tudo, por isso nem devemos dizer que ela é o "nada", pois este 
depende do ser humano para poder ser pensado.


O homem é o maior aborto que a natureza já produziu, todavia,  a minha "felicidade" é saber que tal praga será extinta.


Os maiores canalhas que conheço acreditam em Deus, mas vivem como se "Ele" não existisse.


Os melhores seres humanos que conheço são céticos, ateus, agnósticos; fazem o bem e não esperam recompensas divina.


A angústia é o "parto" sem anestesia de um ser que sofre sem saber o motivo. E se você ouvir alguém que diz saber a sua causa, desconfie que seja um placebo psicológico.


A liberdade é amarga, mas é bem melhor que a doçura dos escravos das certezas...



A ilusão de ser especial é o orgasmo do idiota!!



FRASES: Marco Aurélio Machado

terça-feira, 30 de junho de 2015

DILEMAS DA "ESPÉCIE HUMANA"

O "ser humano" sempre teve muitos dilemas, principalmente, no que tange à sobrevivência. O homem primitivo tinha compromisso com carências básicas, porém, naturais e necessárias. Na História da Filosofia, particularmente, no Helenismo, vemos que o filósofo do jardim, Epicuro, já nos alertava para termos uma vida simples...Sem dizer,  outras orientações preciosas de filósofos e sábios de todos os tempos, portanto, as desculpas são desnecessárias.

No decorrer da História, tivemos muitos "progressos" para facilitar a vida do homem. Desde a criação intuitiva de objetos pontiagudos para resolver situações práticas do cotidiano à invenção da bomba atômica e dos foguetes espaciais.

O homem criou e destruiu muitas coisas, afinal trata-se de um ser "racional", "inteligente". O único ser conhecido, pois não sei se existe no Universo, comprovadamente, outros seres com tal capacidade. Acredito que sim, mas crença, apenas, não é um fato. 

Dos dilemas que a "espécie humana" criou, porque não se trata dos desafios da natureza (como terremotos, maremotos, tsunamis, tufões, furações, entre outros) , os piores são os econômicos, políticos, sociais e culturais ( este último é o resultado "irracional" da separação entre cultura e natureza). Pagaremos caro por isso, alguém ainda duvida?!! 

Nas esferas supracitadas, a maior parte da Humanidade, apenas opina,  que o capitalismo é o melhor modo de produzir e de gerar riquezas, todavia, não questiona que tal sistema também é o responsável por destruir o planeta e acabar com os recursos naturais, inclusive, o mais importante deles: a água, mais preciosa do que diamantes. Alguém já viu  um capitalista rico comer diamantes? São muito duros,  não é mesmo?!!!! A ideologia capitalista  dominante "demoniza" outras alternativas de o homem viabilizar a salvação do planeta. Palavras como "socialismo", "comunismo", "anarquismo" são vistas como ideologias obsoletas, ultrapassadas e sem futuro. O que temos visto no sistema capitalista atual (presente) é o ideal para o futuro das próximas gerações? Duvido. 

Afinal, o planeta é de quem? É da Humanidade ou de uma parte irrisória dela, mas que manda e desmanda, porque detém a última palavra sobre a política, a economia, a sociedade e a cultura, mormente, porque faz isso por intermédio de um poder muito importante: os meios de comunicação, e a força bruta,  se necessária...

O capitalismo existe em nível planetário e ele não cumpriu as promessas do "sonho americano" para todos, pelo contrário, causou fome e miséria para bilhões de pessoas. Quanto ao socialismo, a meu ver, nunca houve, pois desde quando ele foi uma conquista planetária? Ficou restrito a alguns países e mesmo assim que sofreram retaliações e sanções econômicas graves. Como poderiam obter "sucesso"? O comunismo é uma utopia, porque precisa da primeira etapa, o socialismo, que em tese,  seria uma transição,  cuja finalidade é a extinção estatal e a cooperação econômica entre os "trabalhadores livremente associados". O anarquismo é interessante, entretanto, tão utópico quanto o comunismo, pois é difícil imaginar como seria uma sociedade anárquica em nível planetário. Insisto em referir-me numa situação global, pois é onde o capitalismo chegou e não resolveu os graves problemas da Humanidade. Como resolveria, se ele é ontologicamente desumano?

Não se deve ser hipócrita e preconizar que não se gosta do conforto capitalista. O problema não está no conforto, mas no excesso dele. É um buraco sem fundo, pois tudo torna-se obsoleto, rapidamente. Talvez uma alternativa a médio prazo fosse a socialdemocracia - não a de um partido político no Brasil que tem o nome deste sistema-, mas a união de alguns princípios capitalista e do socialismo. A dificuldade aqui é como colocar limite à produção e ao consumo de mercadorias e serviços, além, evidentemente, do cassino global, também conhecido como Bolsa de Valores ou capitalismo financeiro. 

Conclusão: ou aprendemos a ter o planeta como horizonte, ou vamos todos sucumbir à ganância!! A escolha é nossa...Tenho inveja do instinto animal. Ainda bem que eles não são "racionais"...



TEXTO: Marco Aurélio Machado





domingo, 31 de maio de 2015

ONTOLOGIA

Pretendo, neste texto, escrever sobre um tema filosófico da maior relevância, e, mais uma vez, sem fazer  consultas. Penso que assim fico mais à vontade e reafirmo a proposta deste blog,  de trazer a Filosofia para o cotidiano, logo, longe do academicismo que, quase sempre, não articula teoria e prática.  A ontologia foi esquecida durante muito tempo,  por boa  parte  dos filósofos,  principalmente, na Filosofia Moderna,  quando houve um deslocamento da ontologia para a epistemologia  mas,   que,  na  Filosofia Contemporânea,  voltou a ser debatida.


Mas o que é ontologia? Não tenho condições de fazer uma História da Filosofia e explicitar,  em minúcias,  um dos temas filosóficos mais difíceis.  Portanto, vou apenas "roçar" de leve o assunto,   para que os interessados tenham uma ideia e possam investigar a respeito de um tema tão complexo. A ontologia, numa definição bem simples, é a parte da Filosofia que estuda o ser da forma mais geral possível. Todavia, não devemos confundir o "ser" como  verbo,  pois aqui ele deve ser compreendido como substantivo.


Há um outro problema: reportar-se ao "ser" é algo  abstrato;  por exemplo, quando pergunto sobre o que é a "verdade",  este conceito diz respeito ao "ser",  mas como descrever a "beleza" sem me dirigir a algo belo? Em vez de usar o conceito abstrato de "verdade", é mais simples definir o que é  o"verdadeiro".  Ao insistir na pura abstração nos perdemos em devaneios insolúveis. Por outro lado, quando questiono o que é  o "verdadeiro", refiro-me a algo particular, concreto, enfim, estou dizendo sobre aquilo que tenho contato ou que posso  pensar sobre ele de alguma forma, ou seja, refiro-me ao "ente". O ente pode ser uma pessoa, uma árvore,  uma pedra,  um pensamento,  uma possibilidade, entre outros.


A ontologia preocupa-se com inteligibilidade  do "todo",  aquilo que é comum a todos os entes, e as suas possíveis conexões.  Ela quer compreender o que "é"o que "é",  o porquê existe este mundo e quais são as entidades  mais simples e primitivas que constituem a estrutura da realidade . É evidente que não existe apenas uma explicação ontológica. Há muitas divergências entre os filósofos. Desde aqueles que negam a possibilidade de uma ontologia, porque, para tais filósofos, as ciências já estudam os objetos particulares e concretos, até os filósofos que, no século XX,  tentaram reduzir a Filosofia a uma simples análise da linguagem. O Positivismo, por exemplo, é uma destas correntes que rejeitam a ontologia, todavia, não percebem que fazem uma ontologia empobrecida, afinal,  como podem dizer algo sobre o mundo e as entidades que estão nele e, portanto, existem? Se não existissem, como fazer ciência? Sobre o nada? Mas o nada também é um assunto ontológico!!! Logo...


A ontologia faz um esforço enorme para compreender a relação, a duração, a identidade, a liberdade, o tempo, o espaço, a substância, os predicados, as categorias como qualidade, quantidade,  modo,  possibilidade, etc.


Eis alguns problemas colocados pela mais universal e abstrata das disciplinas  da Filosofia. Não é nada fácil dizer sobre a inteligibilidade deste mundo e de outros mundos possíveis.  Esta discussão existe desde os "pré-socráticos", e, até o momento,  não chegou-se  num consenso entre as diversas doutrinas filosóficas. Espero que compreendam o caráter superficial deste texto. Ele não tem a intenção de esgotar o assunto, mesmo porque, penso que se eu dedicasse a minha vida toda a estudar só tal disciplina, ainda, assim, ficaria apenas na superfície deste imenso oceano: A ONTOLOGIA.




TEXTO: Marco Aurélio Machado

quarta-feira, 29 de abril de 2015

RENASCIMENTO

As pessoas geralmente "vivem"e dificilmente pensam sobre a morte. Refletir sobre a dita cuja então nem se fala...


Vivemos a nossa rotina diária quase que como robôs programados. Até que um dia...Zás!!! Eis a "vida" escapando...Um acidente, uma batida de carro, uma queda, entre outras possibilidades...Um AVC, um infarto, e pode ser o fim da dádiva da natureza: a vida, a loteria pouco provável do nascimento de um ser em geral e a do ser humano em particular...


Ninguém está "livre" das contingências e do acaso: ninguém...Quando os fatos acontecem há opiniões, explicações e crenças para todos os gostos. É a velha tentativa dos seres humanos em dar um "sentido", um "significado" à existência. Sempre foi assim, sempre será assim...
Infelizmente, quando as situações supracitadas acontecem conosco, a "ficha" custa a cair!! Temos a mania de pensar que as coisas ruins só acontecem com os outros.


Quando menos esperamos eis a "dona morte" com a sua "foice" a nos tocar o ombro e nos chamar...No meu caso em particular ela não tocou no coração: arrombou-o e fez um grande estrago, "matando" boa parte desta bomba que distribui sangue e oxigênio por todo o organismo...Eis um verdadeiro encontro com a morte: um infarto agudo do miocárdio grave, muito grave...


Um filme passou pela minha mente quando saiu o diagnóstico: "você teve um infarto". Uma sentença de morte? No meu caso, felizmente,  para a minha família, amigos e cadelinhas, foi um susto muito grande...Para mim,  a "certeza" que aconteceria um dia, talvez por isso eu ter a mania de me despedir das pessoas...Vá saber o porquê de comportamento tão estranho a um "cético"...


Os dias que passei no hospital foram de grande aprendizado para mim. Lá tive a companhia até de uma psicóloga. Gostava de "filosofar" com ela sobre a vida e a morte: complementos necessários à própria renovação da vida. Um dia ela me perguntou como eu lidaria com os meus fantasmas...No aconchego de um hospital, do nível em que fiquei, não havia assombrações e fantasmas, pois me sentia seguro. Respondi que só saberia lidar ou não com os meus receios e medos depois que ganhasse alta. A alta tornou-se a minha "liberdade" e a minha "prisão".


Para quem carrega um pedaço da morte dentro do peito ( necrose de boa parte do coração), vou tentar encarar os meus fantasmas de frente, mesmo sabendo que jamais serei o mesmo, nem do ponto de vista físico nem psicológico. Muitas coisas morreram dentro de mim, e pouquíssimas renasceram. Todavia, o que nunca morreu foi o imenso carinho pela família, alguns amigos,  amigas e as minhas cadelinhas...
Ainda não foi desta vez, senhora morte!! Pode ficar longe de mim por mais alguns anos...




TEXTO: Marco Aurélio Machado

domingo, 29 de março de 2015

FILOSOFIA: UMA DISCIPLINA PARA A VIDA TODA

Se tem algo que me incomoda um pouco,  na sociedade, em geral, e, na escola,  em particular,  é o sentimento velado, portanto, implícito, sobre a "importância" da Filosofia, principalmente, no Ensino Médio. Evidentemente,  que as disciplinas da área de Humanas também sofrem preconceito, todavia, não se comparam à Filosofia.  Há uma espécie de deboche mascarado a respeito de tal disciplina: fato. Diante da situação supracitada, proponho, neste texto,  fazer uma análise e uma reflexão sobre o tema, afinal professores e profissionais da área precisam trazer à luz o que está oculto...


É importante relembrar aqui que a Filosofia é uma "senhora" idosa: existe desde o século VI a.C., só por isso, este texto já poderia ser concluído,  afinal,  a razão é histórica, foi inventada na Grécia, e a Filosofia é uma enciclopédia viva,  apesar de ter milênios de vida...Podemos dizer o mesmo de todas as outras disciplinas? Elas existiriam, se os gregos antigos não tivessem inventado a razão? Algum outro povo, contemporâneo dos gregos,  foi capaz de organizar o pensamento, sistematizar e abstrair conceitos,  muito além das "técnicas rudimentares" de outras "culturas" antigas? Basta refletir um pouco, para perceber o óbvio, mas quem se especializou numa determinada disciplina, quase sempre só vê a "realidade" de forma fragmentada; não tem uma visão de conjunto;  para simplificar a compreensão, vou ser bem didático: não percebe a totalidade da existência humana...


A pessoa que estuda Matemática e Física, por exemplo, as disciplinas mais valorizadas na sociedade capitalista contemporânea, mas que no Brasil são extremamente valorizadas,  apesar de que os professores que as lecionam não serem recompensados, financeiramente, por isso, são importantes até o estudante passar no "vestibular", no ENEM, ou se for fazer um curso superior que exija muito a presença de tais disciplinas. O mesmo se pode dizer em relação a quase todas as outras matérias, principalmente, as chamadas ciências naturais:  são necessárias até um certo ponto, depois depender-se-á da profissão que o indivíduo escolherá.


Entretanto, as disciplinas da área de Humanas são consideradas,  pela maioria, fáceis, quando,  não,  desnecessárias. Reflita sobre a ironia e o grau de ideologia e alienação a que estamos submetidos!! Seres humanos que dispensam a condição de humanos...


O que dizer, então, da Filosofia? Ela, só com muito esforço, poderia ser encaixada na área de Humanas, porque ela, além de poder ser interdisciplinar é, por natureza,  transdisciplinar. Ou seja, não tem um objeto específico,  mas contribui para que o saber não seja compartimentado, fragmentado...Ela "costura" uma percepção da realidade como um todo: enxerga além do horizonte, percebe o que está subentendido, implícito, e por isso traz à tona como os seres humanos poderiam ser mais "ricos". Não financeiramente, mas na relação com os seus semelhantes e com a natureza.


Filosofar deveria ser uma experiência ímpar na vida de uma pessoa, pois a Filosofia reflete, analisa, compara,  problematiza todos os objetos e saberes humanos. E ela está em toda parte, pois tudo é objeto da reflexão filosófica: a política, a ética, a arte, a religião, a ciência, o senso comum, o conhecimento, a lógica, a metafísica, a história, a cultura, e todas as demais práticas humanas.


A Filosofia só não é importante para quem abriu mão da autonomia e da liberdade para ser escravo da heteronomia e da manipulação. Estes estão a serviço dos deuses mitológicos do atual sistema escravagista do consumismo exacerbado e garantidor de uma felicidade até chegar a fatura do cartão de crédito. PIOR: quem mais fala mal da Filosofia são os que se acham adultos e esclarecidos, mas, que, na verdade, usam fraldas nos neurônios e não aprenderam a respeitar, por absoluta ignorância, a mãe de todas as demais disciplinas: A FILOSOFIA, O OUTRO NOME DA LIBERDADE...




Texto: MARCO AURÉLIO MACHADO

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O MITO DA "MERITOCRACIA"!!

Há uma discussão rasa,  preconceituosa, ideológica e alienada sobre a "meritocracia", principalmente, com o advento das reformas neoliberais no mundo, em geral, e, no Brasil, em particular. O mantra não vem de um místico, nem foi contemplado na metafísica platônica, por parte de algum capitalista "iluminado". Aliás, um capitalista iluminado existe? Acredito que sim!! Pelos holofotes em suas variadas formas: mídia, festas, badalação, ostentação...Depois? As trevas da alma!! Todavia, "a alma", neste contexto, não deve ser confundida com alguma substância eterna e imortal preconizada pelas religiões e " o esoterismo" dogmático.

A perplexidade só aumenta no atual sistema, pois a impressão que passa,  àqueles que têm uma percepção ampla da situação, é que há uma espécie de escatologia histórica e que o sistema capitalista de produção existe como se fosse o outro nome da História  e esta tem uma finalidade inexorável decretada por Deus!! Um Deus que estaria de acordo com a exploração e a opressão; com a destruição da criação, ou seja, a natureza?  Deus aceitaria a extinção da própria espécie humana por causa da ambição, ganância e egoísmo? Será? Duvido...

O maior problema é que a maioria das pessoas não desvela problema nesta concepção!! Enquanto o apocalipse não chega, podemos fazer deste mundo um "eterno" CARNAVAL!! Contudo, onde entra, neste texto,  a tal "meritocracia"? O que é meritocracia? O poder do mérito!! E de onde vem o mérito? Segundo a "nata" bem nascida,  sabe-se lá como, vence na vida quem é "esforçado", que estuda e trabalha duro"; que tem uma imensa "força de vontade"; que acredita em Deus e é abençoada por "Ele"; que a inteligência é apenas "inata", ou seja, está no DNA do indivíduo que nasceu para vencer, porque é merecedor!! Uma pessoa realmente inteligente acredita nisso? Duvido...

Evidentemente, que o esforço pessoal, a força de vontade, o estudo e o trabalho duro são essenciais para uma pessoa "vencer na vida". Mas,  não podemos esquecer,  que uma pessoa que nasceu numa família das classes com maior poder aquisitivo, tem muito mais possiblidade de garantir o "mérito". Senão, vejamos: a alimentação balanceada, o acesso à cultura: teatro, cinema, livros, intercâmbios, escolas particulares, aprendizado de línguas, maior preparo, por causa do sustento dos pais, que bancam os estudos nas melhores escolas públicas federais, inclusive, a extensão desses privilégios,  até mesmo nas melhores universidades do mundo, fará ou não,  alguma diferença?

Eis a prova cabal desta tese: basta supor a adoção, de algumas crianças pobres,  desde a mais tenra idade, por famílias abastadas. Elas teriam, ou não, mais chances de conseguirem a tal "meritocracia"? Usufruiriam o conforto e as benesses, incluindo, além do supracitado, as diversas influências: política, econômica, social e cultural. Se tais crianças nascessem e crescessem numa família pobre ou miserável, só com muita "força de vontade", todavia, esta é uma exceção e não uma regra, afinal o fundamento da MERITOCRACIA é o "berço" em que se nasce. Algumas pessoas conseguem fugir do destino de reprodução da pobreza, porém, não é fácil.


Conclusão: A MERITOCRACIA É UM MITO, uma ideologia que inverte a realidade, cujo objetivo é naturalizar o que é social, econômico, político, histórico e cultural. "Os denominados "coxinhas" não sabem disso, porque a alienação faz com que o sujeito não saiba a diferença entre ele e um objeto...Ele não pensa, é pensado!! A sua voz é um eco do que há de mais podre neste País: o ódio de ter que dividir o mesmo espaço com os sem quase tudo...


TEXTO: Marco Aurélio Machado





quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

REFLEXÃO SOBRE LIVROS DE AUTOAJUDA!!

Os denominados livros de autoajuda e aqueles "especialistas" que fazem das palestras sobre tal tema,  um meio de ganhar a vida, sobretudo os mais "famosos",  provavelmente,  não devem ter o que reclamar em termos financeiros, pois o mercado referente à autoajuda parece que aumenta na proporção que se aprofunda a depressão, a angústia, o vazio existencial e o desejo infinito de ser feliz das pessoas.


Estamos "vivendo" numa época em que trocamos a reflexão pessoal pela "sabedoria" superficial dos vendedores de soluções fáceis para a tal decantada "felicidade". O importante é ser feliz, mas não perguntamos, questionamos, indagamos ou problematizamos o que significa a felicidade. Substituímos um tempo, que deveria ser necessário para mergulhamos profundamente nas questões essenciais da existência,  para lermos livros e frequentar palestras  dos conselheiros de autoajuda,  de como devemos pensar, sentir e agir.


Em outras palavras, trocamos a autonomia pela heteronomia; a escolha pessoal pelas escolhas dos especialistas da "alma humana"; a liberdade pela suposta experiência de quem sabe o que é a vida e a felicidade. Será que tais livros e "especialistas" de autoajuda sabem mesmo o que é ser feliz e são felizes em ato e não apenas em potência, como talvez diria Aristóteles?
É difícil acreditar naqueles que preconizam soluções para todos os dilemas e sofrimentos da vida, vivam, de fato, a felicidade ditada em livros e em frases decoradas nas constantes palestras. Parece-me, para relembrar aqui o grande filósofo, Epicuro, que aquilo que não é natural nem necessário, não pode nos proporcionar alegria e uma vida digna, honrada e feliz.


Pelo contrário, a ânsia de fama, poder, glória e muito dinheiro são desejos artificiais que podem nos trazer muitas amarguras. Não seria justamente isso, que a sociedade do consumo faz apologia,  como a panaceia de uma vida feliz?


A meu ver, os livros de autoajuda deveriam ser "lidos" com uma lupa. Deveriam ser comparados com a biografia dos autores, porque parece-me que quem propõe soluções fáceis para os grandes desafios da existência,  quase sempre não consegue resolver os próprios problemas. Dizer o que o outro precisa fazer em tal e qual situação é uma coisa; colocar em prática as "teorias" (conselhos),  é outra muito diferente...


Além do mais, é preciso ter-se uma visão de conjunto da realidade humana, afinal as vicissitudes  pessoais estão num contexto mais amplo, não são apenas psicológicas: o homem é um ser econômico, religioso, cético, cultural, social, político, entre outros. Ao nos depararmos com livros de autoajuda e especialistas da área, devemos nos perguntar: estes livros e as pessoas que os escreveram são sujeitos que escolhem e vivem a felicidade, ou estão mais interessados em serem escravos do dinheiro e são tão vazios e infelizes quanto a maioria das pessoas que os idolatram? É possível ser feliz sem saber o que é a dita cuja ou a felicidade só pode existir em ato,  neste sentido,  as crianças seriam os nossos melhores exemplos? Pois é...


TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO