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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O QUE É A VERDADE?

O que é a "verdade"? Eis uma pergunta que existe desde a mais tenra aurora da Filosofia. Muitos já morreram e tantos outros já mataram em nome de uma suposta "verdade". Penso que quando alguém diz que fulano de tal quer ser o dono da verdade, há um equívoco de interpretação conceitual. Aliás, a Filosofia deveria se preocupar em fazer uma terapia da linguagem.

Um dos maiores filósofos do século XX, o austríaco Wittgenstein, já nos alertava para tal fato. Ele dizia que muitos problemas filosóficos são pseudoproblemas que podem ser resolvidos ou dissolvidos apenas com uma boa análise da linguagem e da gramática. Concordo com ele...

Para o nosso texto aqui, vou tentar distinguir o conceito de "verdade" do conceito de "verdadeiro". A meu ver, muitos erros e equívocos da História da Filosofia poderiam ser evitados se tivéssemos prestado mais atenção na diferença entre eles. Por exemplo, quando digo que um quadrado tem quatro ângulos, posso afirmar, categoricamente, que daqui a milhões de anos ( se houver seres humanos ) tal verdade será reafirmada. É uma verdade necessária e universal. É uma verdade lógica, não depende de interpretação. A não ser num ceticismo radical, que costuma argumentar que um gênio maligno poderia nos enganar, nos mostrando um quadrado com quatro ângulos, quando na "verdade" ele teria cinco lados. Penso que a maioria das pessoas não defenderia uma tese tão absurda como a supracitada, não é mesmo? Em outras palavras, a lógica e a matemática nos dão uma verdade peremptória. A verdade, então, é um ente de razão. Uma razão inventada pelos seres humanos, pois eu não defendo a tese de que a matemática faça parte da própria estrutura do Universo. Mas isto é uma outra discussão...

A "verdade" só pode ser lógica, matemática e, portanto, abstrata, universal e necessária. Ela é atemporal e definitiva. Eis o grande problema: o que eu vou fazer com tal "verdade"? Resolver problemas lógicos e matemáticos! Mas a vida se resume em problemas de tais" natureza? Não. A vida não é congelada e estática. A vida é dinâmica, é movimento, é um processo que não pode ser enquadrado dentro de esquemas lógicos rígidos. A vida existe num espaço, num tempo, a vida é muito mais do que a invenção da lógica, a vida é ontológica.

A "verdade", então, por estar num mundo que contém o ser humano, não pode ir além daquilo que é o "verdadeiro". O conceito de algo verdadeiro é limitado; é temporal e finito. O verdadeiro neste sentido é humano, e o que é humano é sempre provisório. Muitas teorias científicas, hoje, são verdadeiras, mas daqui a alguns anos, décadas ou séculos continuarão a ser? Não. Mostrar-se-ão falsas. Novos modelos, paradigmas, conceitos, experimentos, mudanças culturais e históricas nos mostrarão o quão humildes e limitados são os seres humanos.

O "verdadeiro" é a única "verdade" em um mundo que vai muito além de uma lógica que confunde o "mapa com o território". O verdadeiro lida com o movimento, portanto, com a vida no sentido mais amplo da palavra. A "verdade" é a morte da vida, o verdadeiro é a essência da vida...A primeira é a inércia, a segunda é o dinamismo e a eterna transformação.

Quem sabe se os filósofos antigos tivessem prestado mais atenção ao filósofo Heráclito e menos a Parmênides e Aristóteles, não conceberíamos a vida de uma forma completamente diferente? A metafísica antiga é um amor não pela sabedoria, mas um amor pela morte. Por quê? Porque sempre valorizou o imóvel, o estático, ou seja, o imutável, como o fundamento daquilo que muda. Em outras palavras, como pode a essência ( o imutável ) ser a causa da aparência, do que muda? Mudemos isto: a aparência ( o dinamismo ) é o verdadeiro, a essência ( o estático ) é "verdade".

Qual é a "conclusão"? Penso que o verdadeiro é isto: A "verdade" é a morte; o verdadeiro é a vida. A "verdade" é universal; o verdadeiro é singular; a "verdade" é lógica; o verdadeiro é ontológico. A "verdade" é abstrata; o verdadeiro é um mergulho no oceano vital; a "verdade" é a essência morta; o verdadeiro é o mundo enquanto fenômeno existencial...Contraditório? Então preste atenção nisto: A mentira é "verdade". A mentira é mentira. Descubra por você mesmo (a) o que está certo ou errado nas frases acima, pois eu não vou dizer. O motor da vida é a contradição. Basta ver um ser humano agindo: grandes "verdades" e atos que envergonhariam os animais se eles tivessem consciência moral...

TEXTO: Marco Aurélio Machado

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O FILÓSOFO!

Neste blog refiro-me com frequência à Filosofia e demais áreas correlatas, contudo, é necessário me voltar para o filósofo. Quem é o filósofo? Não desejo escrever sobre a etimologia da palavra Filosofia. Gostaria de refletir sobre o conceito de filósofo, todavia, busco algo que vá além dos dicionários e do senso comum.

Um filósofo é quem estuda Filosofia numa faculdade? É alguém, que depois de graduado, torna-se professor nos vários níveis de educação? É aquele que faz um mestrado? Seria quem faz um doutorado com uma tese original? O que significa ser original, principalmente, quando buscamos um filósofo na rica História da Filosofia e fazemos uma leitura totalmente diferente ou mesmo uma crítica considerada única e, portanto, "original"? Mas como ser original nos baseando no trabalho de outros filósofos? Pode ser alguém que nunca frequentou um curso formal de Filosofia? No passado era muito comum, afinal, os filósofos antigos não frequentavam faculdades de Filosofia e nem recebiam um diploma. Em última análise, quem está autorizado a conferir um título de filósofo a alguém?

Fico perplexo com a Filosofia, pois até mesmo para decidir quem deve ser chamado de filósofo não há consenso. Um psicólogo é quem faz Psicologia; um sociólogo é quem faz Sociologia; um médico é quem faz Medicina, mas por que quem estuda Filosofia numa faculdade não é chamado de filósofo também? Não há consenso nem sobre o que se entende por Filosofia...

O senso comum chama de filósofo quem pensa em coisas estranhas, abstratas e que parece não ter conexão com a vida cotidiana, com o "mundo real". É até compreensível, pois dificilmente alguém que não estuda Filosofia, problematiza sobre o que é o "mundo real". Há muitos outros profissionais que se referem a quem é formado em Filosofia de uma forma pejorativa. Veem as pessoas da área como aqueles que ficam "filosofando" sobre o sexo dos anjos, que viajam num mundo onde a única realidade são as ideias, pensam que a Filosofia é muito teórica, outros acham-na inútil, etc. Mas para quem pensa que inútil é tudo aquilo que não seja dinheiro e bens materiais, então, para o filósofo não tem muita importância. Há filósofos complacentes com esse tipo de mentalidade tosca e infantil.

A meu ver, o filósofo é um apaixonado pelos pontos de interrogação, exclamação e as reticências. É a pessoa que faz perguntas simples, mas de uma complexidade profunda sobre a vida, o mundo, a natureza, a história, a política, a ética, a cultura, a beleza, a justiça, a ciência, a religião, o conhecimento, ou seja, sobre o conjunto de tudo o que existe, mas não sem antes perguntar sobre o que deve ser entendido por existência. A Filosofia é muito complexa e como há muitas doutrinas filosóficas, ela mais parece uma Torre de Babel.

O filósofo é um amante da sabedoria, da angústia e do desespero; gosta do abismo e da escuridão e a sua arma é a luz da razão, da inteligência e da reflexão. A angústia e o desespero vêm por causa da natureza da Filosofia. Uma pessoa que passou incólume pela Filosofia, pode ser um excelente citador de filósofos, pode ser um grande erudito, mas não mergulhou profundamente nos principais problemas humanos e, portanto, existenciais. O filósofo estuda muito e quanto mais estuda, descobre que não desvelou quase nada. A diferença é que ele sabe, que sabe muito pouco, por isso quer saber mais. O filósofo é também um desvelador das máscaras ideológicas e alienantes, mas isso só é possível quando ele não está alienado, na defesa de doutrinas filosóficas que defendem uma classe social em detrimento da humanidade...

Um filósofo é uma dinamite de ideias; faz uma pergunta aqui, ali e acolá; ensaia algumas respostas, mas nunca fica satisfeito com elas. Por outro lado, os questionamentos filosóficos parecem abstratos, mas não se enganem, quem já encontrou um grande filósofo no seu caminho, será marcado por ele definitivamente: num plano bem concreto, pois a pessoa muda a sua maneira de pensar, sentir e agir.

O filósofo incomoda; é alvo de inveja, maledicências, perseguições e ciúmes. As pessoas o respeitam, de uma forma ou de outra, mas não é incomum a desqualificação moral, mormente, quando ele não está presente. O filósofo é considerado perigoso e semeador de discórdias, porque quem faz muitas perguntas abala as certezas dos donos do poder e das massas ignaras. Como a maioria das pessoas prefere ser guiadas, visto ter uma "mentalidade de rebanho, "o filósofo não é bem visto. Ele é respeitado, mas quase sempre isolado. Não é fácil conviver com um filósofo, e mais difícil ainda é convivência dele com a maioria das pessoas. A impressão que se tem é que são habitantes de planetas diferentes.

Uma das rejeições que o filósofo mais sofre é a acusação de ateísmo. Mas ele sempre pergunta: "A qual deus(es) você se refere"? Pronto! A confusão está armada! Para o filósofo é apenas mais uma pergunta, todavia, para os crentes, em geral, isto é um absurdo. E normalmente o que um filósofo compreende como ateísmo é completamente diferente do que supõem os crentes. Em outras palavras, eles não falam a mesma língua. Por quê? Porque o filósofo busca compreender a totalidade da cultura humana, e, neste sentido, os homens já acreditaram e acreditam em milhares de deuses. Quem tem razão? O filósofo quer saber também...Ele parece um habitante de um outro planeta, porque faz deste mundo um lugar estranho, desconhecido e inóspito...Ele sempre pensa que algo lhe escapa...

Por ser um questionador radical, no sentido de ir à raiz dos problemas, o filósofo é tido como alguém metido a saber mais do que os outros, quando, na verdade, ele não tem respostas prontas, e as respostas tornam-se novos problemas. Mais: ele quer saber até o que uma pessoa entende por "problema". Não é de admirar, portanto, que ele seja considerado um "doido", um "aloprado" e outros adjetivos pejorativos. O que ele faz diante dessas acusações? Pergunta: "O que é ser doido"? "O que é ser aloprado"? "Ser normal é quem vive como gado"?

O filósofo se distancia do mundo, não tanto fisicamente, mas intelectualmente. É uma distância estratégica, para melhor se aproximar! A meu ver, o filósofo deve ter um compromisso com a vida nas suas várias dimensões: a reflexão filosófica não pode ficar restrita à Academia. A práxis é a palavra de ordem. Ele deve ter paciência para trocar ideias e participar dos problemas da sociedade sempre que possível. Afinal, a capacidade de elucidar conceitos e contribuir com algumas sugestões fazem parte da reflexão filosófica. Bom, eu entendo assim...

O filósofo brinca com os conceitos, como uma criança se diverte com os brinquedos; ele se parece com uma criança ao fazer tantas perguntas; o que os distingue é que a criança aceita a resposta de um adulto, inocentemente, como se fosse uma verdade peremptória (definitiva), o filósofo, por sua vez, faz perguntas, mas não há ingenuidade nelas. Há o desejo de se aprofundar, de ir além!

Um filósofo busca o óbvio incessantemente, porque sabe que o "óbvio" não é tão óbvio. O óbvio é evidente para os tolos. Para o filósofo, o óbvio não tem obviedade. O que é obviedade? Se alguém descobrir, estou muito interessado, mesmo que eu nunca tenha me considerado um filósofo, apesar de eu gostar muito de fazer umas "perguntinhas" ingênuas", mas que já implodiram e explodiram muitos dogmas, em vários campos do conhecimento, das ideologias e das crenças supersticiosas. Eu não quero muito, desejo apenas um pouco de sabedoria...



Texto: Marco Aurélio Machado

domingo, 16 de outubro de 2011

O CAPITALISMO É "CAPETALISTA"!

Eu sempre fui um crítico do sistema capitalista, e em todos os anos que estive (e ainda estou numa sala de aula), os alunos riam muito quando eu chamava o sistema capitalista de (CAPETALISTA). (Sim, é o próprio diabo, de carne e osso, que destrói tudo: transforma objetos e pessoas em simples mercadorias descartáveis, pois os objetos não têm valor de uso, mas de troca.) Ainda hoje alguns ex-alunos ao me encontrarem, brincam a respeito do que eu dizia.

Gostaria de escrever um pouco sobre este assunto, pois sempre disse também que não se deve enfrentar o inimigo quando ele está mais forte, porque a derrota é quase certa... A meu ver, o inimigo, de tanto ganhar, já não tem tanta força. E a INTERNET, grande ironia, instrumento para o avanço do capital globalizado, desta feita também serve de ponte para a voz do povo. Ela é a voz de um mundo sem fronteiras. Pois é...

Estamos vendo os jornais e demais mídias, perplexos, noticiarem as manifestações que varrem o planeta contra o sistema capitalista. O interessante é que tais protestos começaram justamente nos países mais beneficiados pela riqueza capitalista. Há protestos em vários países do Oriente Médio e da África também, entretanto, a meu ver, por motivos diferentes. Os primeiros querem a"saída" do capitalismo (tomara), os segundos desejam a entrada na "liberdade democrática," e nas promessas do Reino dos Céus, na Terra, feitas pela propaganda capitalista. Estão um pouco atrasados, não? Parece-me já ter ficado claro que o sistema capitalista atual é o "Reino do Inferno" para quase todas as pessoas no mundo. Ele é muito bom para uma minoria. A tal minoria que distribui desgraças pelo mundo, em busca de dinheiro, onde o INFINITO É O LIMITE, e ainda quer que o povo pague a conta. Tudo muito engraçado, não?!! O que está em jogo não é só o sistema capitalista, mas a sobrevivência do nosso ex-lindo planeta azul. A nossa casa. Até mesmo a casa dos defensores do capital!! Se eles não têm responsabilidade...

Quando os grandes conglomerados financeiros e industriais se tornam maiores que os Estados, os acontecimentos que ora presenciamos não poderiam ser diferentes. Os profetas da propaganda capitalista, defensores de que o DEUS mercado regula tudo, por que agora querem que os Estados paguem a conta com o dinheiro do povo? De novo? Todas as outras crises não foram suficientes para que as marionetes do capital (os politiqueiros de plantão) aprendessem a lição? O povo produz tudo, consome menos do que deveria (muitos não têm um prato de comida), têm serviços públicos geralmente muito ruins, mas, que, entretanto, se não fizer nada, pode ficar numa situação muito pior.

Nos momentos de crise o capital avança e faz o Estado mostrar a sua verdadeira face: a de que sempre foi uma extensão dos interesses capitalistas. A maioria dos políticos foi e ainda será agentes vestidos com as máscaras do interesse público, mas, na verdade, está a serviço do capital. VOU DIZER MAIS UMA VEZ: NÃO EXISTE CAPITAL SEM O SUPORTE ONTOLÓGICO DO ESTADO. As pessoas pensam que a esfera da produção (economia) é separada da esfera pública (política), mas isto é pura ilusão. São unha e carne. São a mesma coisa. Até mesmo no chamado "socialismo científico".

Vou dizer pela milésima vez: NÃO HÁ SALVAÇÃO DESTE PLANETA NO ATUAL MODO DE PRODUÇÃO, POIS ESTAS CRISES VIERAM PARA FICAR. Elas são estruturais. Os trabalhadores do mundo inteiro correm o risco de perder os parcos direitos trabalhistas que ainda têm. Não podemos e nem devemos pagar esta conta. Os jogadores, deste imenso cassino global, que paguem a fatura, ora. O povo ainda vai descobrir que só ele tem a força. E não me refiro à violência. De um modo pacífico, ficando em casa sem produzir durante 15 dias...Talvez, assim, as elites reacionárias vão aprender a nos respeitar.

A tecnologia tem que estar a serviço do povo e não pode ser instrumento da exploração e do desemprego das massas. Os pobres já estão acostumados à miséria e à esperança no Paraíso, todavia, parece que aqueles que estavam acostumados à riqueza no mundo material, começaram a sentir na pele o que o "Terceiro Mundo" já sente há muito.

A saída? O ideal seria o bom senso, mas nunca vi o capital abrir mão do lucro! O dilema? O capital sem fronteiras e Estados nacionais. Em última análise, será que o capital está buscando uma forma de implantar um Estado único? Afinal, quem segura o capital? Que a voz do povo seja a voz não de DEUS, mas do próprio povo. Infelizmente, a maioria daqueles que falam em nome de Deus, (é) são instrumentos do CAPITAL TAMBÉM!!!


TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO

domingo, 2 de outubro de 2011

FILOSOFIA DA MENTE: O MATERIALISMO ELIMINATIVO

Eu sou um neófito em Filosofia, apesar de estudá-la há uns trinta anos. Gosto de vários temas filosóficos, e um deles é a Filosofia da Mente. Vou tentar desenvolver brevemente uma das muitas teorias da mente, afinal sou apenas um "curioso no tema". Eu pretendo estudar mais sobre o assunto e de vez em quando colocar algum texto neste blog. Hoje vou escrever um texto bem básico sobre o "MATERIALISMO ELIMINATIVO". Esta teoria ganhou força a partir da década de 80 com o casal Paul e Patrícia Churchland. Não conheço quase nada sobre eles.

O materialismo eliminativo dá ênfase à neurociência. Os defensores desta teoria preconizam que a medida em que a neurociência progredir, a psicologia tenderá a desaparecer do cenário de explicação dos fenômenos mentais. Por exemplo, os sonhos, tão caros às várias correntes psicológicas serão "explicados" apenas como processos puramente bioquímicos no cérebro.

Desejos íntimos dos sonhos? Fenômenos bioquímicos, portanto, de natureza física, material, nada mais. Evidentemente, que outros processos subjetivos mentais também entrarão numa era primitiva, segundo o "materialismo eliminativo". Consequência: o próprio conceito de mente sumirá como num passe de mágica.

Diante de algumas leituras e de reflexões bem preliminares sobre o assunto, eu não poderia deixar de mencionar algumas considerações que chegam a ser bem caricaturais. O que será da profissão de psicólogo? PIOR: o que serão dos padres e dos pastores, que adoram exorcizar demônios que supostamente tomam os corpos das vítimas? Sumirão todos os capetas? Em vez de palavras de ordem aos demônios, em nome de Jesus, bastarão alguns comprimidos receitados por psiquiatras?

Sinceramente, não sei se o materialismo eliminativo conseguirá descobrir, através do mapeamento e do conhecimento do cérebro, a solução de todas as disfunções biológicas cerebrais; penso que é um reducionismo muito grande, entretanto, alguns sofrimentos mentais não podem esperar anos e mais anos pelas diversas correntes psicoterápicas. Neste sentido, os medicamentos são muito bem-vindos. Aliás, grande parte das doenças mentais já são bastante amenizadas com os medicamentos disponíveis atualmente. Doenças como o TOC, por exemplo, que trazem enormes sofrimentos aos seus portadores, são tratadas com sucesso pelos psiquiatras. Mas não sei até que ponto seremos simples zumbis...Alguém está feliz? Por quê? Porque encheu a pança de comprimidos, que por sua vez deram uma retificada no cérebro...Penso que se assim for, sentiremos saudades daquelas angústias e crises existenciais!

Algumas perguntas que não querem se calar: ONDE entra a história de vida do indivíduo em tal teoria? E as relações sociais, econômicas, culturais e políticas, não contam? Apenas terapias genéticas resolverão todos os problemas "psicológicos" de um ser humano? São os pensamentos desarmônicos que causam as disfunções biológicas ou são as disfunções biológicas que causam os pensamentos desarmônicos?

A meu ver, o ser humano tem um longo caminho pela frente. De minha parte, quero ser feliz neste mundo, mas não quero ser um robô feliz sem saber o porquê sou feliz...Por outro lado, como explicar os filósofos estóicos e o total domínio das emoções que eles desenvolviam, pois naquela época não havia antidepressivos? E os iogues indianos, por acaso, tomam fluoxetina? Pois é... A quem interessa a ideia de que não temos escolhas?

Texto: MARCO AURÉLIO MACHADO

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O FENÔMENO RELIGIOSO E A ALIENAÇÃO DO MUNDO!

Estou refletindo há muito sobre o problema do fenômeno religioso e a alienação, como um dilema que está relacionado ao modo de produção (economia), político ( legitimidade do poder e do uso da força), cultural (saber e ideologia) e social ( relações que os homens estabelecem entre si para a produção e reprodução da sua subsistência material). Vejo tantas pessoas tentando me convencer a ser uma pessoa espiritualista, como se elas tivessem recebido um download metafísico direto do MUNDO DAS IDEIAS PLATÔNICO. Sinceramente, a violência contra a lógica deveria ser punida com rigor! A punição? A leitura de Karl Marx, Sartre, Nietzsche, David Hume, Feuerbach, Krishnamurti, Michel Onfray, Marcel Conche, Epicuro, Sexto Empírico, Jean Meslier, entre outros grandes filósofos lúcidos!

Além de apelarem para o plano espiritual e de inverterem a ordem do mundo, essas pessoas pensam que tais problemas são questões morais que dependem de uma mudança de mentalidade espiritual, etc. Eu não creio que as coisas mudarão dessa forma. A meu ver, o modo de produção não é apenas uma questão de economia, é uma questão ontológica. Por que ontológica? Porque é o fundamento, a base, a essência que faz o ser humano ser um ser humano, e não qualquer outra coisa. Eis o nosso dilema...

Somos o que fazemos e como fazemos. Se o homem se encontra alienado naquilo que é fundamental ( o modo de produção) o que podemos esperar? Uma intervenção divina? A ajuda de espíritos ou almas evoluídas? Isto é a tal inversão do mundo que eu sempre critiquei. É uma ideologia perigosa, porque transfere a felicidade para um outro plano, ou seja, o ALÉM. Eu não sei se existe o além-túmulo. O único mundo que conheço é este: o mundo material. O problema é que essa ideologia é uma maravilha para quem explora a mão de obra alheia. Por quê? Porque Jesus disse: "O meu reino não é deste mundo". Se o reino dele não era deste mundo, e o Cristianismo é uma religião que domina o Ocidente, o que podemos esperar? Felicidade para os poderosos neste mundo e promessas vazias para os pobres num outro plano, "bem longe"...

Quem vence na vida, foi abençoado por Deus, quem não vence, pode esperar a felicidade no Reino dos Céus!! Quem vence na vida mereceu, quem não vence, pode esperar que o seu dia chegará, mesmo que o país esteja mergulhado numa profunda recessão econômica! E o que é um problema que pertence apenas e tão somente a este mundo, passa para um mundo que supostamente é transcendente. Eu quero ser feliz aqui e agora. E se houver um outro mundo, quero ser feliz lá também.

O Brasil é um país com uma profunda tradição cristã. Mas compartilhar o pão fica só no discurso. Migalhas, nada mais! Até se vê carros com adesivos: "FOI DEUS QUEM ME DEU". Já não é a economia "humana, demasiada humana", (obrigado, Nietzsche) quem gera empregos e renda, mas é uma bênção divina a quem supostamente merece mais do que os outros "filhos de Deus". Fico pensando o porquê essas bênçãos não chegam à África, onde a maioria das pessoas nem está pensando em carros, mas apenas num prato de comida... Pois é!

Eu queria ter a capacidade de analisar o discurso das pessoas e acreditar. Mas eu não analiso apenas palavras, observo comportamentos. É claro que o Brasil está bem melhor hoje do que há 20 anos, mas daí a acreditar que estamos no paraíso? Este país é um paraíso para uma minoria. Estes, sim, não têm o que reclamar. O que estou me referindo sobre o Brasil, serve para a maioria da população mundial.

Gostaria de pegar um economista liberal pelas mãos e levá-lo em algum lugar no Brasil, talvez muito parecido com a Etiópia. Eles enxergam muitos números, veem seres humanos como "despesas". Mas não preciso de números para ver que este país ainda está engatinhando rumo à democracia formal e abstrata, imagine a estrada para uma democracia substancial, concreta... A miséria está por todos os lados, mas para quem não quer enxergar, a miséria é tão invisível quanto um gari que passamos ao lado e não damos BOM DIA. Eles são invisíveis, mesmo tendo um "corpo físico". Engraçado, acabei de me lembrar do Boris Casoy! Isto é incrível!



Texto: Marco Aurélio Machado

domingo, 7 de agosto de 2011

O QUE É A LIBERDADE?

A palavra liberdade é de uma beleza singular. Sempre que eu penso nela, lembro-me dos pássaros voando num belo céu azul; das crianças brincando na areia e fazendo algazarras com a inocência e pureza que lhes são peculiares; dos cachorros e dos animais, em geral, "reproduzindo" as respectivas espécies sem culpa e vergonha; enfim, lembro-me da natureza com todas as suas belezas e horrores!!

Todavia, no parágrafo acima, a maior parte dos exemplos foi tirada da observação humana a respeito da natureza. As crianças não são apenas parte da natureza, elas aprendem regras, valores e normas, por isso, são também seres culturais. Se fosse possível deixar as crianças à vontade, provavelmente, cresceriam e se desenvolveriam sem culpas, remorsos e arrependimentos. Elas seriam "livres". Será? Eis o dilema humano. Encontramos no ser humano uma cisão, uma ruptura, um distanciamento da natureza. Ao criarmos uma moral, uma ética e as leis somos "forçados" a agir de acordo com os costumes e o aparato jurídico da sociedade em que estamos inseridos. Como, então, o homem pode se referir à liberdade? O que é a liberdade?

Há tantos conceitos de liberdade quanto o número de pessoas capazes de inventá-los e reinventá-los. Não tenho a pretensão de ter a última palavra sobre o assunto, mas vou tentar definir um conceito que me "agrada". A liberdade é a capacidade de o homem ser o senhor das situações dentro das suas possibilidades e limites. E quando me refiro à liberdade, estou me reportando a escolhas. O conceito de liberdade, uma teoria sobre a liberdade é tão fácil...O difícil é colocá-lo em prática, pois não existe liberdade apenas num plano intelectual, porque são as atitudes, os comportamentos e as ações humanas que vão conferir significado ao conceito e não o contrário.

Muitos filósofos se debruçaram sobre o assunto, entre eles, cito Kant e Sartre. O primeiro, preconizava que pôr um limite às paixões e aos desejos humanos, através da razão, é ser livre, pois o homem não é apenas natureza, mas também cultura. O homem livre, portanto, é aquele capaz de se impor limites, transcender os imperativos naturais, pois a razão é patrimônio universal, logo, devemos tratar o homem sempre como um fim em si mesmo e não como um meio. Kant dizia que devemos dizer a verdade em quaisquer situações, etc. Evidentemente, Kant escreveu muito mais a respeito da liberdade, no seu livro, "Crítica da razão prática". Mas não é minha intenção aprofundar neste assunto. Não vou escrever sobre o imperativo categórico kantiano. Fica o registro, neste texto, para futuras pesquisas dos interessados.

Sartre é o filósofo da liberdade por excelência. Não só por ter escrito muito sobre o assunto, mas por ter agido, segundo relatos que li, de acordo com a liberdade que preconizava. Aliás, Sartre fazia apologia de uma liberdade absoluta. Ficou famosa a sua frase: " A existência precede a essência". Para Sartre, o homem não tem a essência da liberdade! Sartre inverte os conceitos de essência e existência, porque ele fica "livre" da ideia de Deus. Para o filósofo existencialista francês, primeiro o homem existe no mundo, depois se define conforme às suas ações. Sartre não separa a teoria da prática. Ao escolher (agir) o homem realiza a sua liberdade e os seus projetos. O homem não é mais do que aquilo que ele faz. Sartre foi um dos ícones do existencialismo, corrente filosófica contemporânea de meados do século XX.

A meu ver, não é fácil ser livre. A liberdade humana carrega um "fardo de aço" de responsabilidade. Ser livre, teoricamente, é muito fácil. O difícil é realizar a liberdade em ato. Ser livre não é só a ausência de um obstáculo físico, ficar preso numa cadeia, por exemplo. Penso que a maioria das pessoas está presa, mesmo em uma suposta liberdade de "ir e vir".

Como ficar livre dos desejos mesquinhos, das crenças e superstições infundadas, do medo da morte, da culpa, do remorso e do arrependimento? Como ser livre, numa época em que queremos ter o último carro do ano (não tenho carro e ando de ônibus, não sei dirigir e nem sei se vou aprender um dia), dos celulares, televisores, computadores, roupas de grife, relógios caros ? Como ser livre do desejo de posse do companheiro(a)? Como ser livre dos meus próprios fantasmas psicológicos e emocionais? Como ser livre dos deuses que criamos e esquecemos que fomos nós quem os inventamos? Como ser livre da propaganda consumista que nos escraviza a todos? Bom, eu poderia citar vários outros exemplos, inclusive, os relacionados à depressão. Entretanto, este texto precisa ter um fim! Pois é...

Penso que antes de qualquer coisa, devemos ser livres, ao menos, para ter a paciência de refletir sobre a liberdade, pois as pessoas procuram tantas distrações, que morrem de medo de mergulhar na própria "alma". De minha parte, preciso refletir muito sobre a tal liberdade. Se eu conseguir ficar livre de muitos preconceitos, já me sentirei um vitorioso. Dentro do possível, sou livre da maioria das crenças, desejos e superstições, que atemorizam a maioria dos seres humanos. Se a razão e a força de vontade não podem tudo, eu, felizmente, só posso contar com elas...Não me sinto livre para fazer tudo o que desejo, mas sou livre para não fazer tudo o que desejo! Paradoxal? O homem é um ser paradoxal por excelência, ora!!! Não temos desculpas, mas sempre as inventamos para não termos que escolher, afinal, dói tanto a angústia da liberdade, não é? Imagine a situação de Sócrates...

Texto: MARCO AURÉLIO MACHADO

sábado, 2 de julho de 2011

METAFÍSICA DO INFERNO!

A metafísica é a parte da Filosofia mais abstrata, pois procura estudar as causas fundamentais, essenciais de tudo o que existe, de um ponto de vista estritamente racional. Exemplos de problemas metafísicos são a existência, a natureza e os atributos de Deus, da alma e do mundo que nos cerca. A metafísica quer ir além das aparências e, portanto, busca a essência do SER, sem recorrer às suas especificidades e particularidades. Daí a proposta metafísica ser um estudo totalmente abstrato. Mas o que tal assunto tem a ver com o INFERNO? NADA! Mas a "metafísica cristã" (teologia cristã) sempre deu um jeitinho de postular um ambiente bem quente, eterno e onde haveria um sofrimento indescritível: O INFERNO! A meu ver, uma "metafísica"irracional: violenta a lógica e o bom senso mais elementar, e aprisiona as pessoas inocentes e ingênuas, pois elas já estão no inferno em vida, porque vivem na esperança da salvação ou no pavor de um mergulho nas labaredas de fogo. Tudo isso por DEUS ser amor! Eis a "lógica"cristã deitando e algemando as pessoas na cama de ferro de Procusto! Uma "lógica" que faz um quadrado virar círculo. Discordar é heresia grave...

Vamos tentar demonstrar que a crença no inferno não resiste a uma teoria do conhecimento muito simples: o empirismo. Qual é a principal tese do empirismo? Aristóteles já dizia que "nada existe na mente que não tenha passado antes pelos sentidos". John Locke e David Hume, entre outros filósofos modernos, partem da experiência sensorial para explicar o processo de aquisição do conhecimento. John Locke, inclusive, vai dizer que ao nascermos somos como uma folha em branco, uma tábula rasa. Portanto, não acreditava em ideias inatas, teoria dos filósofos racionalistas, e da possibilidade de termos conhecimentos apenas através de deduções lógicas.


Essas digressões têm uma razão de ser. Por quê? Porque partiremos da tese empirista para refutarmos a suposta existência do inferno, que aprisiona a alma de bilhões de pessoas no mundo inteiro. Uma simples reflexão pode jogar por terra essa superstição infantil, porque se ela for verdadeira, espero encontrar muitos líderes religiosos cozinhando no fogo infernal, afinal, é isso o que eles têm feito às pessoas desde tempos imemoriais. Muitos por ignorância, inocência e estupidez, outros, por esperteza e desejo de poder material. Acreditam menos do que eu...

Para refutarmos o medo do inferno, vamos imaginar a seguinte situação: temos cinco sentidos físicos. Façamos de conta que acabamos de perder a visão; agora, perdemos o tato; logo em seguida, já não temos o olfato. Como desgraça pouca é bobagem, perdemos a audição e também o paladar. O que sobrou? O que eu sou? Um vegetal? Estamos agora na situação de uma pessoa que faleceu. Onde está a realidade? O empirismo preconiza que o conhecimento humano começa com as impressões sensoriais que temos com o mundo externo. Associamos as diversas impressões e formamos representações e conceitos das coisas e do nosso mundo interior ou psicológico.

Uma SEREIA, por exemplo, é a junção da impressão visual de uma "bela" mulher e o rabo de um peixe. Formamos a ideia de inferno, porque já tivemos as impressões visuais do fogo, do homem, dos chifres, do rabo, do ranger de dentes, das lágrimas e do sangue. Já sofremos a queimadura do fogo e já tivemos sofrimentos neste mundo. Associamos tudo e temos a representação do capeta e do inferno. Portanto, se fôssemos cegos e não tivéssemos a sensação do tato, não saberíamos o que é o fogo e nem o que é a queimadura, logo, não poderíamos formar a ideia do inferno. A partir de ideias simples formamos as ideias complexas. O que é um anjo? Um homem ou uma criança "branco(a)", olhos azuis, cabelos claros, asas...Mas por que não um anjo negro? Anjo negro é associado com o quê? Precisa dizer? O anjo tem que ser europeu? Por quê? Porque quem dominou e ainda domina? Pois é!! A imaginação faz o resto...

Para vermos o objeto, precisamos da visão; para sentirmos o cheiro, precisamos do olfato; para ouvirmos o som, precisamos da audição; para sentirmos o sabor do alimento, precisamos do paladar; para sentirmos a textura e outras propriedades de um objeto, precisamos do tato. Este último é tão importante, que para sentirmos dores, uma queimadura ou um corte de faca, por exemplo, precisamos do sentido do tato. Se eu der um beliscão em uma pessoa com um "alicate", provavelmente, ouviremos os gritos de longe, não é mesmo?

Prossigamos...Ficou evidente, espero, que para termos experiência do mundo, precisamos dos nossos sentidos físicos. Conseguimos sobreviver sem um ou outro sentido, mas sem os cincos sentidos físicos?!! Não conheço ninguém que tenha tido essa "experiência"! Suponhamos que exista uma alma dentro do nosso corpo e com a morte deste, ela vá para o céu, o purgatório ou para o inferno. A pergunta é: COMO PODE UMA ALMA SENTIR DOR SEM UM CORPO FÍSICO? Se o cérebro não funciona mais numa eventual morte ou na perda de todos os sentidos físicos, como pode experimentar o fogo do inferno? Na verdade, não temos experiência sem um corpo físico. O que seria uma "experiência" de uma alma? Sim, porque o "inferno" nada mais é que as diversas associações de impressões sensoriais do corpo físico e material. Experiências subjetivas e opiniões pessoais de "mestres e gurus" nunca me persuadiram...A mente humana é muito complexa e não é qualquer "explicação" subjetiva que me convencerá. Não se deve fazer apostas com o sobrenatural, quando estamos engatinhando ainda nas explicações do mundo natural. O remédio? Reflexão racional e moderação na imaginação. Simples! A meu ver, só através de muitas piruetas imaginárias alguém poderia ter medo do INFERNO.

Alguém poderia alegar que o INFERNO é uma alegoria, que não é um lugar físico, mas é a consciência divina purificando a alma das pessoas. A meu ver, tal explicação é mais inteligente e até mais bonita, mas também não resiste aos fatos. Podemos perguntar: ONDE ESTÁ O FOGO DA CONSCIÊNCIA DIVINA QUEIMANDO A ALMA DE UM PSICOPATA? Desde quando os psicopatas têm consciência moral? Que eu saiba eles não sentem culpa, remorso ou arrependimento por nada que fazem de cruel.

As religiões inventaram o inferno para manter as pessoas numa infantilidade tola. Fica bem mais fácil manipular as pessoas e mantê-las na ignorância com essas historinhas da carochinha. É lamentável, mas em pleno século XXI e com todos os avanços das ciências há, ainda, bilhões de pessoas presas aos dogmas religiosos mais infantis.

De minha parte, não tenho medo dessas fábulas. São invenções das religiões organizadas. Nada mais. Troque as crenças infantis por uma boa reflexão filosófica e você ficará livre para sempre!



TEXTO: Marco Aurélio Machado

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A CLONAGEM HUMANA!

Numa aula de Filosofia há muitos anos, um aluno ficou furioso comigo, porque coloquei em dúvida a existência da alma. Ele esperneou, tentou argumentar, mas fiz uma pergunta que jogou de vez o edifício ao chão. Perguntei:" E se fizessem um clone meu?" Se eu tenho uma alma, de onde sairia a alma do clone? Meia alma para cada um? E se fossem, por exemplo, uma centena de clones? A cabeça dele deve estar martelando até agora...A aula continuou e o debate acabou entrando na seara das especulações "espirituais". Excluindo a brincadeira, o tema é interessante e mexe com as "crenças inabaláveis" de muitas pessoas. Sem dúvida, tal assunto merece uma reflexão, mesmo que superficial...

Como provar a existência de uma alma humana? As provas são hipotéticas: baseadas em conceitos abstratos. A meu ver, as coisas continuam problemáticas; saímos da areia movediça e caimos no abismo. A alma é divisível como o é a matéria? O clone teria consciência das mesmas experiências vividas? Ou seria uma folha em branco, tal qual a teoria do conhecimento empirista, do filósofo inglês, John Locke? A aparência física poderia ser idêntica, mas e o intelecto e a inteligência? Um raciocínio lógico é suficiente para provar tal tese? Mesmo que a provássemos, logicamente, em última análise, quem determina se a teoria é verdadeira são os fatos. Sempre que a lógica se confronta com os fatos, ela sai perdendo. Afinal, alguns fatos científicos já derrubaram mais de um castelo lógico...

A alma existe? Se existe, poderá ser dividida? Se puder e houver um mundo espiritual oposto ao material, então será a mesma pessoa com as mesmas lembranças e memórias? Em outras palavras, a mesma história? Neste caso, se houver reencarnação e KARMA, o clone entrará de gaiato. Se não existir uma alma e se houver a clonagem das pessoas tais quais elas são e estão no momento da clonagem, então, seriam dois em um: uma separação física e duas personalidades iguais. Como saber? Se é que saberemos um dia...

Se houver reencarnação e, portanto, a lei do Karma, o que o clone tem a ver com as presepadas do original? Seria prejudicado inocentemente? Supostamente, as decisões espirituais sobre a reencarnação vêm do "além". Por outro lado, a decisão de fazer a clonagem é humana. Não seria uma grande injustiça? Um problema ético de proporção enorme, para dizer o mínimo...Eis o dilema! Eis o fardo pesado do ser humano. Ele precisa fazer escolhas...

O problema é que se admitirmos que a alma também é divisível, então o coitado do clone vai se dar mal também, porque na alma estariam todos os registros do passado e as conseqüências, a priori, da lei da ação e da reação do Karma. Eu não creio em nada disso. Penso que o clone seria uma folha em branco. Não teria a mesma história de vida do original, assim como gêmeos idênticos têm personalidades diferentes, pois não vivem as mesmas situações e, quando vivem, podem interpretá-las de uma forma diferente.

Não parto do princípio de que exista uma alma, porque, para mim, isso não é um fato. Vou esperar os avanços das ciências que estudam a mente-cérebro. Enquanto isso, tenho perguntas e a conseqüente suspensão do juízo, afinal, sou um cético. Será que vou continuar a ser? Qualquer coisa, me internem, pois se eu passar a defender piruetas místicas, alguma coisa estará errada comigo! Dizem que vou para o inferno. A alma sente o calor do fogo infernal sem um corpo físico? Duvido! Está aí uma coisa que dificilmente alguém me convencerá...

Segundo alguns filósofos da mente, as pesquisas na área estão bem adiantadas e surpresas, de um ponto de vista material, poderão ser confirmadas. Segundo eles, em última análise, a mente é biológica. Mente e cérebro seriam a mesma coisa. Não haveria dualidade, ou seja, um dualismo psicofísico do tipo cartesiano. Vamos esperar as pesquisas avançarem. Eles não se baseiam apenas em especulações filosóficas, mas em estudos dos neurocientistas e outros profissionais do ramo. Todavia, seja qual for a verdade, os filósofos colocarão novos problemas. Que bom! De minha parte, desejo somente a verdade. NADA MAIS.

Os filósofos ajudam muito, sem dúvida. Abrem novas clareiras com as suas perguntas. Muita água vai rolar debaixo da ponte. Esperemos. Quem sabe não acontecerá o contrário? Provar-se que a mente é espiritual e sobrevive à morte do corpo físico. Acho difícil, mas...

Ass: Marco Aurélio Machado

domingo, 1 de maio de 2011

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO!

O assunto sobre educação é interessante e fascinante, mas quase sempre partimos do pressuposto de que já sabemos o que é a educação. O que é a educação? Por que e para que precisamos de educação? Qual educação? A que liberta ou a que aprisiona? A educação existe só no espaço escolar ou ela é bem mais ampla? A minha intenção neste texto é fazer perguntas, pois há muitas coisas para serem explicitadas. Espero que alguns "especialistas" respondam algumas perguntas, pois não é novidade que a maioria têm muitas respostas e são amantes de um belo gabinete. Sabem tudo sobre conceitos abstratos de educação...Sabem tudo sobre a educação dos filhos dos outros, mas não educam os próprios filhos. Há exceções! Ainda bem, não é?!

A meu ver, o problema é complexo e envolve o tempo, a qualificação, o dinheiro, a vocação, a persistência e muitas outras dificuldades. Por exemplo: por que os professores das décadas de 50, 60, 70 não ficavam doentes como ficam os de hoje? Conheço vários profissionais que estão deprimidos, ansiosos, angustiados, medrosos e apáticos. Por que muitos professores faltam ao serviço e arrumam tantos atestados médicos? Por que tantos professores tomam remédios controlados-TARJAS PRETAS-, para poderem trabalhar? Por que vários professores têm receio de chamar a atenção de um aluno? Por que inúmeros professores já foram agredidos fisicamente e moralmente? Por que vários alunos não respeitam os professores? Por que tantos alunos vão para as escolas drogados? Por que muitos vão para as escolas alcoolizados? Por que muitos alunos querem ouvir MP3 dentro das salas de aula? Por que inúmeros alunos querem atender e fazer ligações em celulares dentro das salas? Por que os alunos, em vez de estudarem, começam a namorar e transar tão cedo? Por que tantos jovens estão morrendo antes de completarem os 25 anos? Por que os jovens das escolas particulares estudam o conteúdo das disciplinas e as escolas públicas dão ênfase em outros métodos, que supostamente são melhores, mas quem passa nos vestibulares das melhores universidades federais são justamente os conteudistas? Por que não comparar todos os recursos das escolas particulares com o sucateamento das escolas públicas? Por que a educação básica-valores morais e éticos- não começa na família? Por que os pais não colocam limites nos filhos? Por que os pais não têm tempo para ajudar na educação dos filhos? Por que os pais jogaram a responsabilidade para os professores? Por que os governos jogam a culpa do fracasso escolar nos professores? Por que um profissional que forma todos os outros profissionais ganha tão mal e os nossos políticos, a maioria parasitas, ganham tão bem? Por que os nossos sindicatos nunca propuseram uma greve em dezembro, mas preferem cometer os mesmos erros durante todos os anos? Por que a imprensa não diz quem são os verdadeiros culpados, ou seja, o sistema capitalista vigente que divide as pessoas em pobres e ricos, mas quem produz de fato não tem acesso à riqueza? Por que os filhos dos ricos recebem uma educação para mandar e os filhos dos pobres para obedecer?



As perguntas acima precisam de respostas. Os "especialistas em educação" se habilitam? Educação pública, principalmente, porque as escolas particulares de ensino fundamental e médio estão relativamente bem. Pagam caro, não é? A coisa pública no Brasil não é de todos. É de alguns. E as migalhas que sobram para os mais pobres, infelizmente, eles não as reconhecem como bem comum. Passa a ser de ninguém, pois o que é público, na visão deles, não precisa ser preservado e nem melhorado. Contentam-se com o pior e ainda agradecem! É da vontade de DEUS! Se não é de ninguém, como ter compromisso? Cidadania aqui é palavrão. ALGUNS MUNICÍPIOS FECHAM ATÉ ESCOLAS!! Isto é incrível!!



Por que os Estados têm dinheiro para salvar bancos e usam sempre o pretexto que não há dinheiro para políticas públicas? Por que a educação estimula a concorrência e a disputa, em vez de estimular a cooperação e a solidariedade? Por que as escolas continuam reproduzindo os valores capitalistas? Por que uma educação acrítica, sem compromisso com a reflexão e o questionamento? Por que a alienação tomou conta, inclusive, da maioria dos professores? Por que tantos professores olham com desdém para a área de humanas? São robôs também? Por que tantos levam a igreja para dentro das escolas? O "além" vai resolver os problemas humanos?


Perguntinhas chatas e incômodas, não é? Que coisa mais triste...Como, todas essas questões que coloquei, não tem nada a ver com a economia, com a política e o social? Evidentemente que tem. Não podemos formar alunos para continuar produzindo mercadorias na escala que ora vemos.


O PLANETA não suportará este modo de produção por muito tempo. É a própria espécie humana que será extinta. Não posso deixar de ver isso como um problema econômico, político e social, se a educação está contida no sistema. Como não perceber que os jovens de hoje em dia, não sejam capazes de cristalizar alguns valores, pois quando pensam em alguns valores, os mesmos já mudaram, porque o ritmo da produção capitalista faz com que tudo se torne obsoleto da noite para o dia? Como não ser mais um objeto neste sistema? Tudo vira mercadoria, inclusive o ser humano, ora! São desejos infinitos de felicidade e prazer, contudo, acaba-se de comprar um objeto de desejo e aparecem outros, numa escala sem fim. Tudo vira bosta, como disse a cantora RITA LEE. O sistema contém a educação, muito sofrimento ainda vai acontecer.


Como perguntar não ofende, então vou fazer mais umas perguntinhas básicas! Não será essa uma das razões do envolvimento com as drogas, tão cedo, por parte dos jovens? A realidade fica tão dura, que é preciso inventar um outro mundo cor-de-rosa; infelizmente, é isso o que acontece com muitos. Mais: que professor consegue competir com os valores do nossos meios de comunicação, as propagandas, a imprensa e as novelas? Duro demais, não?! É a alienação total!

Para concluir, quero deixar uma sugestão aos nossos jovens. Vocês são vítimas desta situação. São preparados para a guerra, para morrerem ou sobreviverem neste sistema cão. Apesar de discordar, porque ao ver a "floresta pegar fogo, penso que é necessário ajudar a apagá-lo com água e não com querosene ou álcool, é preciso prosseguir na luta por um mundo melhor; ser o mais humano e ético possível. Quem sabe? Pois é...


Aqui vão algumas ponderações para os que "querem vencer na vida". Quem disse que estudar é prazeroso? Estudar é algo árduo. Envolve sacrifícios. É preciso escolher entre "namorar" os livros e cadernos ou encontrar os amigos e ir ao cinema, talvez um barzinho, etc. É preciso ler, escrever e perder noites de sono. É necessário abrir mão dos prazeres imediatos para crescer em todas as dimensões humanas. Quem não deseja isso, pode ser chamado de estudante? Quem não é capaz de tolerar frustrações, em prol de um objetivo nobre, pode ser chamado de aluno? Quem só quer se divertir e, por isso, foge de um livro como o "capeta foge da cruz," passará nas melhores universidades? Será que não serão analfabetos com diplomas, pois passarão nos vestibulares de faculdades que são verdadeiros tamboretes?



Jovem, coloque na cabeça que um mundo sem reflexão é muito pior. Ninguém é melhor do que os outros por usar roupas de grife, ter bens materiais e ser famoso. Somos melhores pelo nosso caráter e dignidade e pelo exemplo das nossas atitudes. De que adianta ter uma embalagem bonita e ser oco por dentro? Ter um corpo "malhado" e o cérebro atrofiado? Ganhar muito dinheiro e ser um um "cidadão" alienado? Resolver os seus problemas e ser vítima dos menos favorecidos? Pense nisso! A escolha é sua! Boa sorte!
Texto: Marco Aurélio Machado

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O QUE É A REALIDADE NATURAL E PSICOLÓGICA?

O que é a realidade? Seria muita pretensão, por parte de um ser humano finito e limitado, tentar definir a natureza do real. Entretanto, não custa fazer uma pequena reflexão sobre o tema. Este texto baseia-se numa cosmovisão oriental do mundo, principalmente, na leitura do pensador indiano, Krishnamurti. Todavia, é uma reflexão pessoal minha, portanto, é apenas uma pequena contribuição para um tema profundo e fascinante. Estou "engatinhando" nesta floresta densa e escura...Bom, comecemos...


O que é a realidade? É movimento incessante. A vida é movimento, fluidez, dinamismo: é como se fosse um rio, que ao deparar-se com um obstáculo, o contorna e continua. Assim são os pensamentos. O conflito vem quando queremos ser diferentes do que somos. Isso explica a metafísica grega antiga e o nosso desejo de estabilizar e enquadrar as coisas num conceito! Se tivéssemos seguido Heráclito, talvez a forma de vermos o mundo seria totalmente diferente. Queremos segurança. Não nos conformamos com o movimento. Não queremos perder. Queremos apego. Queremos controlar tudo. E a vida é dinâmica, particular, concreta. Por isso, não podemos achar que as ideias e os conceitos, ou seja, os símbolos, sejam mais importantes que o real. O real é muito mais rico e complexo do que supõe a nossa vã filosofia. O que é a crença? Um apego e um desejo de tornar o que é essencialmente movimento e impermanência em algo estático e permanente. Desejo de segurança. Nada mais que isso. Desejamos fazer um monte de coisas, mas não percebemos que é fuga. Fugimos o tempo todo de nós mesmos.


Não queremos esse confronto. Não queremos saber que somos a inveja, os ciúmes, o medo, a insegurança, o ódio, o amor, a raiva, o desespero, a felicidade e a infelicidade, enfim, somos tudo isso. Compreende-se o porquê essa história de inconsciente não se sustentar. O inconsciente nada mais é do que memória e lembrança. Para que preciso dividir a mente? Não há separação. Existe, sim, uma ilusão de um "EU". Se o "EU" fosse separado de mim, bastaria não me identificar com os meus supostos pensamentos e sentimentos. Assim, ficaria livre das neuroses e psicoses de todos os tipos. Mas quando acontece qualquer coisa, todo o meu ser sofre ou se alegra. Não há separação mente-corpo. Sócrates, Platão e Descartes foram os responsáveis por essa forma de pensar, ou seja, separar uma suposta alma do corpo.


O "EU" é justamente essa organização e capacidade de articular as coisas. Só que ao fazer isso, ele é diferente de mim? Claro que não. Ele não passa de passado e lembrança. Se penso, falo e ajo no mundo, é porque antes eu tenho isso como memória e lembrança. Caso contrário, como poderia reconhecer o que não conheço? Tanto é assim que se tenho uma experiência ela vira memória e lembrança. Mais um "EU". Ao querer repetir, ficarei desapontado, porque nunca mais terei a mesma experiência. O prazer que tive ontem ou a dor, nunca mais serão iguais. Sempre que queremos fazer o mesmo, advém a dor. O prazer contém a dor. Não são opostos. Fazem parte de uma mesma escala, porém, em graus diferentes. Esta frase ilustrará o que quero dizer:"ERA FELIZ E NÃO SABIA". Por quê? Porque só se pode se feliz em ato. Quando penso em repetir a mesma experiência, não conseguirei. Tudo não passará de memória.


Cada experiência é única, pois a vida é dinâmica. São os apegos que nos fazem sofrer. Se olhasse para todas as coisas como se fosse a primeira vez que a tivesse vendo, não teria memória e lembrança, logo, o novo surgiria. Outra: dizemos que temos medo do desconhecido. Falso. Temos medo de perder o conhecido. Se não conheço, como posso temer? É a suposta segurança que tenho, quem me faz ter medo de perdê-la. Se aprendêssemos a morrer todos os dias-simbolicamente-, para as coisas do mundo, então, teríamos uma outra relação com a existência. Como se pode ver, estamos muito longe disso. Eu sei que isso é verdadeiro, mas o meu CENTRO NÃO QUE SER O CONJUNTO DE TUDO.


Se existisse um "EU" separado de nós e que não se identificasse com os nossos pensamentos e sentimentos, logo, não teríamos neuroses e todo tipo de doenças psicológicas e emocionais. Bastaria estarmos separados. Isso acontece? Não! Todo o meu ser sofre. É a interação mente-corpo que dissera antes... Isso não significa abrir mão do mundo. O mundo está aí para ser usufruído. A natureza é bela e nos oferece tudo o que precisamos. Usufruir, sim, possuir, não. Os animais usufruem ou alguém teria coragem de dizer que um animal rouba alguma coisa da natureza? O engraçado é o ser humano dizer que os animais são irracionais! Nós somos tão racionais, que "saqueamos" a natureza para acumularmos bens e sofrimentos! Afinal, desde quando escravos de bens materiais são felizes?


Podemos ter uma vida plena e feliz. Não a temos por causa desse desgraçado do "EU". Gerador de uma falsa segurança psicológica e, que na verdade, gera todo tipo de apego e posse. E apego é sinônimo de sofrimento. Olhe o sistema vigente de acumulação de capital. Não dá para separar as coisas.Tudo está interligado. Nós e o UNIVERSO SOMOS UM. Somos a própria existência. A EXISTÊNCIA É NEUTRA, PORTANTO, NADA TEM A VER COM UM DEUS PESSOAL separado do UNIVERSO. Aliás, na Bíblia, Jesus disse: "EU E O PAI SOMOS UM". Pois é...



Texto: Marco Aurélio Machado

quarta-feira, 23 de março de 2011

Educação: Filosofia e Sociologia no Ensino Médio

Fiquei indignado, ao ler um texto desses especialistas de araque, filosofastros do ar-condicionado, a infeliz opinião de diminuir aulas de Filosofia, Sociologia, Arte e Educação Física. Mais? Afinal, Filosofia e Sociologia só têm uma aula semanal!! Cada um tem o direito de dizer o que quiser, todavia, devemos ter compaixão daqueles que não conseguem enxergar para além do próprio umbigo...

Mais uma vez, vem essa ladainha de procurar o problema na moral e na força de vontade dos professores, os atuais bodes expiatórios do sistema. O problema não é moral como costumam pensar muitos imbecis, a raiz do problema é ontológica. Quando digo que é ontológica, é porque a ontologia vai além da economia ou o modo de produção atual. A necessidade fundamental do ser humano é a sua subsistência material. O problema é ontológico, porque sem produção e reprodução da vida vida material não há sociedade humana, mas isso não significa que a única alternativa que temos seja a exploração e o lucro desenfreado. Podemos fazer diferente. Tudo muito simples, quando se estuda as coisas em profundidade. A ideologia reacionária deste sistema perverso está fazendo "festa" na cabeça dos "especialistas de gabinete". Talvez as pessoas não percebam isso, porque não sabem que a ideologia e a alienação são "almas gêmeas: SÃO VERSO E REVERSO DA MESMA MOEDA. Em outras palavras, ao não perceber a ideologia, a pessoa está alienada; e não percebe a alienação por causa da ideologia. Esta inverte a ordem do mundo; aquela transfere a sua consciência e a pessoa passa a ser comandada de fora. O alienado não é capaz de pensar e compreender a realidade em todas as suas dimensões: POLÍTICA, ECONÔMICA, SOCIAL, CULTURAL E HISTÓRICA.

As únicas disciplinas que podem ajudar a ampliar a visão do mundo, de um ponto de vista bem amplo, são a Filosofia e a Sociologia. Justamente as que muitos querem ver fora da escola. Hoje, alguém preconiza diminuir as aulas, amanhã, vão preconizar que elas não servem para nada! Tenho pena dos nossos jovens...

Muitas pessoas têm a doce ilusão de que há uma total liberdade nas nossas escolhas!! Cada um faz o que quer? Tem certeza? Eu não pedi para ninguém fazer uma lavagem cerebral na minha cabeça quando eu era criança, me impondo valores, crendices e superstições religiosas; eu não pedi para ninguém me dizer opiniões que nem elas sabem que são apenas opiniões; enfim, dar para escrever um livro a esse respeito.


O mais "interessante" é isto: alguém acreditar que a educação é uma coisa e consumismo é outra. A educação está fora da sociedade? A escola não está no sistema? A escola, por acaso, não reproduz também os valores capitalistas? A escola não preconiza a disputa, a concorrência, inclusive, entre os professores? O próprio ensino não é vendido? O que são as escolas particulares? São gratuitas? Estudar numa escola particular do ensino infantil ao médio, não é status, enquanto a escola pública é sucateada? Menos as federais, porque lá, os cursos de elite, como MEDICINA, por exemplo, são para os ricos, não é mesmo? É...


Ser uma espécie de voz, de eco no deserto é duro...Tento demonstrar que as duas disciplinas são essenciais para a compreensão da realidade em todas as suas dimensões. A educação é apenas parte dessa compreensão. Todavia, uma educação que abre mão da Filosofia e da Sociologia, com certeza, será empobrecida. Quantos acreditam que as aulas de Matemática, Física, Português, Biologia, entre outras, são mais importantes? Mas não são. Os jovens e também a maioria dos adultos, precisam dessas disciplinas como uma pessoa que está morrendo, necessita do ar. Não adianta as pessoas serem excelentes engenheiros(as), médicos(as), advogados,(as) administradores(as) de empresas, se elas não têm noções de cidadania, de raciocínio lógico ( são vítimas das falácias e sofismas), ética e valores magnânimos que as façam ser seres humanos no sentido mais nobre desse conceito. Elas precisam ser mais do que consumidores. Necessitam saber distinguir quem é o sujeito e quem é mercadoria numa relação de consumo, visto que, atualmente, sujeito e objeto se confundem. Já não há seres humanos, apenas mercadorias descartáveis. Fica claro o porquê dessa antipatia gratuita contra a Filosofia e a Sociologia. Afinal, robôs não pensam, apenas executam, de acordo com a sua programação, o seguinte MANTRA: COMPREM, pois essa é a única maneira de serem felizes!! As mercadorias valem mais do que a dignidade e o caráter...O importante é a embalagem!! Conteúdo mental? Nada disso. Os donos do sistema pensam por nós...Pensam para ganhar dinheiro, pois são escravos do próprio egoísmo.

O consumo deve ser sadio. A reflexão sobre quando, como e o porquê comprar, deve fortalecer a nossa vontade e não instigar o nosso condicionamento produzido pela fábrica de propagandas ilusórias.
E o vazio existencial? Será preenchido com novas "comprinhas", em dez vezes sem juros, no cartão de crédito. Mas crédito não é o que entra na nossa conta? Na verdade, é um cartão de débito!!!


É urgente termos uma alternativa para a sobrevivência humana neste planeta. Este modo de produção perverso, que destrói a natureza; que retira recursos naturais do planeta como se eles fossem infinitos; que acumula riquezas materiais como se as pessoas fossem levá-las para o túmulo; que preconiza a concorrência em detrimento da solidariedade e da cooperação...O que será dos nossos filhos e netos, porque a continuar assim, não teremos bisnetos.


A escolha é nossa. A natureza não precisa de nós. Assim como matamos as formigas, o mesmo será feito conosco: seremos varridos do "mapa". Se não for pela natureza, será por uma guerra atômica. Pobre, rico homem! Tão capaz de construir coisas belas e tão incapaz de controlar a sua própria ganância de poder e de destruição...

Eu disse também que não há seres humanos fora da sociedade e da cultura. Somos bichos com um verniz miserável de cultura. Entretanto, não fazemos uso da nossa racionalidade, porque se fizéssemos, não seríamos presas fáceis de uma ideologia tão cruel com a natureza, a maioria dos seres humanos e com todo SER que vive...ainda...


Ainda bem que a natureza não precisa de nós. E ela fará o que tem de ser feito, se nós não modificarmos a nossa forma de pensar, sentir e agir. Não sei se estarei aqui para ver isso acontecer, mas não posso pensar só em mim. Tenho filhas, quero ter netos, quem sabe, bisnetos. Será possível isso? Com essa educação em nível planetário, que acha feio tudo o que não é novo e descartável, onde tudo se torna obsoleto da noite para o dia, as coisas só tendem a piorar. Não vai demorar e vamos começar a comer pedaços dos nossos celulares, computadores, carros, etc, porque a continuar assim, não haverá uma árvore em pé; não haverá um único rio; não haverá água potável e muito menos comida. Tudo será contaminado por essa sede de riqueza que eu não consigo compreender. Tanta ganância para quê? E depois as pessoas dizem acreditar em "Deus". Não acreditam em "DEUS", acreditam nos pequenos deuses que dão sentido à vida delas: celulares, mansões, sítios, fazendas, ações nas bolsas de valores, carros do ano, etc. DEPOIS NÃO RECLAMEM!

Quero deixar claro que não faço apologia do socialismo ou comunismo, tal qual alguns regimes que já foram implantados no século XX. Babá estatal? Para quê e para quem? Não compactuo com ditaduras, sejam de "direita ou de esquerda". Sei que é preciso termos uma alternativa, mas não tenho a receita pronta. A única certeza que eu tenho é esta: O ATUAL MODO DE PRODUÇÃO COLOCARÁ UM FIM À ODISSEIA HUMANA NO PLANETA TERRA...


A Filosofia e a Sociologia podem fazer muito pouco, porque concorrer com alienados, com a mídia e as propagandas, não é fácil. Mas pelo menos as pessoas não podem alegar que não foram alertadas. Eu tenho feito isso há 14 anos. A minha voz é um pequeno eco no deserto, mas ela vai continuar. Se não para mudar as pessoas, pelo menos direi algumas verdades que farão muitos "seres humanos racionais" sentir vergonha da sua ganância e sede de poder. Se somos mortais e temos tanta sede, imagine se fôssemos imortais?!! Acho graça!


"Rezemos", irmãos e irmãs, para os nossos pequenos deuses!! AMÉM!


Texto: MARCO AURÉLIO MACHADO

domingo, 20 de fevereiro de 2011

ATEÍSMO E EXISTÊNCIA HUMANA!

Deus, para mim, é uma questão existencial; não gnosiológica, ou seja, não tem nada a ver com conhecimento racional sobre DEUS, visto que, a meu ver, a razão é do tamanho da dimensão humana. O resto é sonho do delírio humano... Não acredito em nenhum conceito de Deus. Eu digo isso o tempo todo, mas as pessoas fazem de conta que não leram, ou se leram, preferem dizer o contrário do que afirmei. É a velha intolerância e preconceito daqueles que odeiam o mundo no discurso, entretanto, adoram o conforto do mundo...E a "mesada vem todos os meses"...

Quase sempre volto a este assunto, porque, infelizmente, por ignorância ou má-fé, muitos preferem distorcer o conceito de ateísmo. Desde quando o ateísmo é a negação de um DEUS? Como posso negar a existência de DEUS, se não sei se existe tal SER? Se existe um DEUS, como posso negá-lo? Como se pode negar a inexistência, se não se pode negar o nada? Eu nego as crenças humanas em seres sobrenaturais, todavia, não invento uma crença que diz que deuses não existem. Afinal, ausência de crença não é crença na ausência. Crenças, cada cultura inventa as suas, nada mais. O mais engraçado disso tudo é que a maioria das pessoas não sabe que também é ateia. Quem nunca viu um cristão questionar os deuses de outras sociedades e culturas? Tal atitude não é ateísmo com relação aos deuses alheios? E outras culturas, por acaso, não negam o DEUS cristão? Estamos dispostos a colocar "ZEUS" na conta de "historinha da carochinha", mas quando alguém faz o mesmo com os deuses e santos que acreditam, a maioria perde a calma, em vez de analisar racionalmente tal possibilidade. A verdade nua e crua: todos somos ateus!!


Se as crenças em DEUS(ES) fossem verdadeiras, teríamos apenas uma crença, não é mesmo? Uma única e, portanto, verdadeira para todos os habitantes da Terra. Mas é isso que vemos? Não! Em nome das crenças nunca se viu tantas mortes e guerras. Por quê? Porque DEUS é amor!!! Imagine se não fosse...Penso que o ateísmo (NEGAÇÃO DAS CRENÇAS, DOS CONCEITOS LIMITADOS POR PARTE DE PESSOAS HUMANAS A RESPEITO DE UM SER DIVINO OU SERES DIVINOS), o livra da culpa, do medo do inferno, da esperança de ser salvo. Dá-se mais valor à vida, porque é uma só; de fazer o bem pelo prazer de ajudar, não para ganhar o paraíso; de inventar os próprios valores, já que não existem valores predeterminados; de ser humano em todos os sentidos e não renegar os desejos mais ocultos; de estar em harmonia com a natureza e de saber que se faz parte dela; de aceitar os fenômenos naturais e mudar o que é possível; de saber que o que não posso explicar racionalmente, não preciso inventar um ser imaginário, etc. Viver e ser feliz, porque a vida é única e bela. Se houver um Deus, ótimo, a vida continua, se não houver, excelente; não saberei que morri...

Em primeiro lugar, quero dizer que sou um humanista. Baseio minha vida em valores estritamente naturais. Não acredito em seres sobrenaturais: deuses, fadas, duendes, demônios, anjos, arcanjos, serafins, capetas, diabos, anjos caídos, anjos que subiram, unicórnios, elementais, astrologia e seus signos, poder dos cristais, macumbas, espíritos das trevas, espíritos de luz, almas encarnadas e nem desencarnadas, fogo do inferno e em nenhuma religião e seus supostos salvadores ou MESSIAS.

Acredito na finitude da minha razão, nos limites das minhas impressões sensoriais e na recusa radical de dar asas à minha imaginação, inventando deuses e tornando-me prisioneiro dos seus caprichos e ameaças. Não se preocupem comigo. Quando morrer estarei debaixo da terra. Mas, quero fazer nesta vida curta e finita, o que muitos só fazem no discurso. Para terminar: todas as minhas convicções são baseadas nas CIÊNCIAS E NA FILOSOFIA. ATÉ QUE SE PROVE O CONTRÁRIO, ELAS SÃO AS LUZES DA MINHA VIDA E DO MEU CAMINHAR FINITO, MAS SOLIDÁRIO, FRATERNO E HUMANO!!!

Texto: Marco Aurélio Machado

sábado, 29 de janeiro de 2011

CRÍTICA AO RACIONALISMO CARTESIANO!

Neste texto, gostaria de fazer uma crítica ao racionalismo cartesiano e a uma suposta linguagem privada que, infelizmente, ainda encontra defensores...

Descartes é um racionalista. Ele, depois de colocar tudo em dúvida, chega à conclusão que existe, porém, como RES COGITANS, como alma, como pensamento, como consciência, como EU, ou o nome que se queira atribuir às piruetas e acrobacias lógicas dele. O PENSO, LOGO EXISTO, é isto: existe apenas e tão-somente enquanto algo que está separado do CORPO FÍSICO. É como se a alma, o espírito, existisse fazendo presepada por aí, tal qual um fantasma. Não tem nenhuma correlação com o mundo material, carnal, corporal.

Quando ele percebeu que existia como um FANTASMA apenas, o que ele fez? Recorreu a Deus. Para quê? Para que Deus assegurasse a existência do mundo e o do próprio corpo de Descartes. Ora, para Descartes existiam ideias inatas que não dependiam de nenhuma experiência. Uma delas é a da perfeição divina e a sua infinitude. Só que ele está apenas num plano lógico, racional, idealista.

Ele inverteu tudo. O que eu questiono? Ele não poderia pensar sem um corpo físico; sem aprender uma linguagem; sem viver em sociedade, porque não há um EU que possa existir sem O OUTRO; sem intersubjetividade; sem relações sociais de produção, porque ninguém pensa de barriga vazia, certo?

Não é muito difícil refutar tal tese. Para isto, vejamos um pouco o EMPIRISMO. Qual é o lema principal do EMPIRISMO? "Nada existe na mente que antes não tenha passado pelos sentidos". Descartes desconfia dos sentidos, ora. Mas ele dependeu, para formular o COGITO, ERGO SUM, justamente daquilo que ele negava: O CORPO FÍSICO. Mais do que isso eu não posso ir. É preciso mergulhar nisso. Descartes e o raciocínio lógico são apaixonantes, tal qual Hegel também o é. Entretanto, ideias lógicas são apenas ideias. É uma inversão do mundo. Para mim, ele não provou coisa nenhuma. NADA. Apenas viajou em devaneios a priori e entrou na gaiola solipsista!

Nada em FILOSOFIA é óbvio. Se fosse, ela já teria acabado há tempos. Se ela existe desde o século VI a.C, é porque as diversas correntes filosóficas partem de questionamentos e premissas diferentes. Uma Filosofia perfeita, apenas num plano lógico, não serve para mim. A Filosofia só tem valor para mim se tiver relação com o mundo dos fenômenos e deve ser engajada nas diversas dimensões da vida política, econômica, social e cultural. É por isso que a tradição idealista de Platão, Descartes, Espinosa, Hegel, entre outros, para mim, não serve para nada.

O conhecimento deve ser práxis. Relação do sujeito teórico com a prática e relação da prática com o sujeito teórico. Uma aperfeiçoando a outra. Mas o sujeito só pode ser sujeito dentro de uma sociedade, pois não existe sociedade sem sujeito e vice-versa. INTERSUBJETIVIDADE HUMANA, no mundo natural, fenomenal. Aqui e agora; não no além-mundo e na esperança que se sustenta num tempo futuro. E tenho dito!!!


Texto: Marco Aurélio Machado