Página

MAPA DOS VISITANTES DESDE O DIA 29/11/2009

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

TEÍSMO AGNÓSTICO E ATEÍSMO AGNÓSTICO: UM CAMINHO PARA A TOLERÂNCIA RELIGIOSA?

 Há tantas nuances a respeito de crenças religiosas; o assunto é tão extenso, amplo, rico e também problemático e polêmico. Geralmente, apenas uma minoria conhece ou foi um pouco além do senso comum. Para citar algumas concepções de crenças e descrenças, temos: Panteísmo, Teísmo, Ateísmo forte e fraco, Agnosticismo,  Deísmo, Animismo, Ceticismo ( não nega nem afirma), Politeísmo,  entre outras. Não cabe neste texto uma pesquisa exaustiva, esta deixo para quem tiver curiosidade, portanto, se desejar saber mais, na era da internet o que não falta é informação. Ficarei, mesmo que de uma forma superficial, com o título deste texto: Teísmo Agnóstico e Ateísmo agnóstico: um caminho para a tolerância religiosa?

Concordando com Lukács, talvez o maior filósofo marxista do século XX, o trabalho é a categoria ontológica, fundante do ser social. Ele escreveu uma vasta obra sobre a ontologia do ser social, baseada, principalmente, na obra de Karl Marx, O Capital. As outras categorias,  como, por exemplo, valores, mitologia, religião, costumes são derivadas.

E nada disso aconteceria se não fosse as vicissitudes da luta do homem com a natureza por meio da práxis. A relação dialética, transformadora da natureza e do próprio homem, para a satisfação das suas necessidades materiais. E, a longa trajetória humana, para  a sobrevivência da  espécie, é histórica. Parece óbvio, não é? Mas não foi bem assim. Hegel, e depois, Marx, num outro patamar, desvelaram o "óbvio". 

Fiz tal regressão, para tentar argumentar que a mitologia e a religião tiveram uma grande importância nos primórdios da epopeia humana, mas elas são derivadas daquela função ontológica, fundante, ou seja, o trabalho. Elas foram as primeiras abordagens dos seres humanos diante de uma realidade hostil e amedrontadora. O homem precisava dar um sentido, um significado à vida, daí a invenção, não consciente, claro, dos mitos e das religiões,  mas que nos acompanham ainda nos dias de hoje. 

Espero que os leitores compreendam o quão fundamental é ir à raiz dos acontecimentos para que possamos demonstrar que somos o outro nome da História, do tempo, dos diversos modos de produção e das diferentes organizações sociais e culturais. Em outras palavras, somos produtos da História e do que fizemos com ela desde a mais tenra aurora da Humanidade. Agora, sim, podemos retornar ao assunto principal do objetivo deste texto.

Se queremos paz no mundo, serão as religiões os faróis que iluminarão a humanidade? Talvez a solução esteja num outro lugar. Enquanto existir a exploração do homem pelo homem, a meu ver, não haverá paz. E as religiões fazem parte deste conflito. Todas querem ter os seus deuses e dizem, categoricamente, que estão com a verdade;  querem ser advogados(as) dos diversos deuses "existentes" no mundo; são intérpretes do divino, numa guerra sem fim...Enquanto olhamos para o céu, os donos do planeta têm orgasmos múltiplos...

Penso que os nossos principais problemas são de outro nível, mas seria bom demais se todos fôssemos ou teístas agnósticos ou ateístas agnósticos. Os primeiros, seriam mais tolerantes, porque poderiam acreditar em Deus, terem a sua fé, portanto, teístas, mas não saberem, se de fato,  existe um Deus, daí serem  agnósticos também. O lema para os teístas agnósticos seria: "tenho fé em Deus, mas devido às limitações da mente humana, não sei se existe de fato". Por outro lado, os ateístas agnósticos seriam mais tolerantes, afinal, poderiam ter a descrença em Deus, por isso, ateístas, mas não terem certeza, se de fato, ele existe, daí serem agnósticos também. O lema dos ateístas agnósticos seria: "não acredito em Deus, mas não sei se existe, afinal, enquanto ser humano, sou racional,  mas a razão tem os seus limites".

Seria uma forma de tolerância...Penso que estava sonhando...


TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO


domingo, 30 de maio de 2021

DÚVIDAS SOBRE A LIBERDADE ABSOLUTA E ANGÚSTIA EM SARTRE

 Tenho uma certa simpatia pelo filósofo francês, do século XX, nascido em 1905 e falecido em 1980,  Jean Paul Sartre; na opinião de muitos, o maior filósofo francês de todos os tempos. Talvez, seja verdade, mas, que foi o mais famoso não tenho dúvida. Para variar, só para alertar, não faço consultas para escrever os textos deste blog, Cismo que vou escrever e escrevo. O meu objetivo não é o de fazer um trabalho acadêmico, mas provocar polêmicas e estimular o pensamento crítico entre quem gosta de Filosofia, em geral, e do Existencialismo,  em particular. Nunca, jamais tenho a intenção de esgotar o assunto que vou abordar de forma superficial, mas desde as minhas primeiras leituras de Sartre, algumas entrevistas de especialistas, entre outras, que me faço algumas perguntas sobre alguns conceitos do grande filósofo francês. Diga-se de passagem, que Sartre não foi apenas um filósofo, mas também romancista, teatrólogo, entre outros predicados. Além de não ser um filósofo que apenas teorizava, pois o engajamento político sempre fez parte das suas lutas pela pela liberdade dos povos.  Era uma enciclopédia ambulante...

Esclarecido, espero, o parágrafo supracitado, farei um recorte a respeito de dois conceitos caros ao filósofo francês: liberdade absoluta e angústia. Não quero um ponto final, desejo interrogações. É uma tradição na Filosofia a pergunta se o homem é livre ou determinado. Inclusive, se algum leitor pesquisar este blog, encontrará tal tema entre os meus textos. Sartre, ao contrário de muitos filósofos, quiçá à maioria, preconiza uma liberdade absoluta. Será? 

Se compreendermos por liberdade absoluta, ações em que o homem pode fazer tudo, sem freios, regras, leis, normas, obstáculos e interditos, penso ser impossível tal liberdade. Todavia,  Sartre defende uma liberdade absoluta, no entanto, com a responsabilidade do indivíduo que comete a ação. Há um fardo, consequências que a pessoa tem que assumir. Tendo a concordar com isso, entretanto, vamos tentar nos aprofundar mais um pouco...

Sartre pensa assim, porque ele é ateu, ou seja, não há, para ele, um ser superior que tenha a mais ínfima responsabilidade conosco; já nascemos no mundo e não escolhemos uma determinada família, País, sociedade, classe social, etc., No entanto, todas as outras situações são um problema de cada indivíduo, afinal, ele tem a liberdade absoluta para fazer as suas escolhas e ações e se responsabilizar por elas. Uma das frases mais famosas de Sartre é esta: "Estamos condenados a ser livres"! Condenado e livre? Como conciliar tal contradição? Para ele, condenados, porque não pedimos para nascer e livres, porque não há desculpas, temos a liberdade para agir e não há consolo divino. Somos os responsáveis por tudo o que fazemos ou deixamos de fazer. (Ele cita frases interessantes sobre isso, mas foge ao objetivo deste texto.)

Eu poderia escrever a respeito de vários outros conceitos de Sartre, entre muitos, os de SER-PARA-SI e SER-EM-SI; fenomenologia e intencionalidade, essência e existência, mas já há um texto enorme sobre esses temas que escrevi há alguns anos. 

Vou dar alguns exemplos para ficar mais claro a questão da liberdade em Sartre e, a partir daí, fazer um contraponto com o conceito de angústia. Sartre inverteu a ideia de essência e existência. Na Filosofia tradicional e, até hoje, referimo-nos muito a chamada essência, uma espécie de potencialidade, que em tese, nasce, é fundamental ao homem. Quem nunca ouviu estas frases: ele tem muito potencial; é preciso desenvolver todas as potencialidades dos nossos discentes. Ora, Sartre pensa diferente. Para ele não há essência nenhuma no homem, ou seja, "a existência precede a essência", primeiro existimos no mundo, escolhemos, agimos, fazemos e assim a essência não está em potencial no homem, ele a constrói pela ação, pela liberdade. Sartre, dizia: "O homem é aquilo que ele faz". 

Uma outra coisa importante é que a consciência não é uma substância, não existe um conjunto de emoções, traumas, uma caixa com todos os problemas humanos dentro do cérebro ou da consciência do homem. A consciência é intencional, ela vai sempre em direção ao mundo e a partir disso, dá significado ao mundo e às ações humanas. Em outras palavras, ela é um NADA. Se é nada, logo, tem uma liberdade absoluta. Lembre-se: LIBERDADE para escolher, de tentar mudar algo, de se responsabilizar pelos próprios atos, mas não é livre para escapar dos efeitos e das consequências.

Escrevi tudo isso, para questionar como Sartre pode conciliar esta tal liberdade absoluta com a angústia. Sim, porque quem realmente escolhe é considerado alguém que tem uma vida autêntica, livre e responsável; quem finge escolher, vive no  que ele chama de má-fé. O problema maior, a meu ver, é este: como conciliar a liberdade absoluta com a angústia? Se a angústia é ontológica, ou seja, faz parte do homem, ela não seria uma espécie de essência? Mas ele nega isso!! De onde vem a angústia, se ela não é biológica? Afinal, se a consciência é NADA, SER-PARA-SI, por que ela não pode escapar da angústia? A angústia não seria uma escolha também? Se não o é, podemos falar em liberdade absoluta? Se faz parte do ser que não pode escolher tê-la, como defender a liberdade? Não haveria um fundamento ontológico, um determinismo? Sartre caiu em contradição? Não tenho certeza, mas se for para levar Sartre a sério, ele teria que preconizar que a própria angústia é uma escolha...Por que escolher a angústia, se a liberdade é absoluta? E ela é absoluta, porque a consciência não é uma substância, ela vai em direção ao mundo,  ao SER-EM-SI, ou seja, ela está fora. Como articular consciência e o corpo físico se,  em tese, ela não está no cérebro? De que forma, uma consciência pode ter angústia sem que o corpo físico não a sinta? 


TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO




segunda-feira, 16 de novembro de 2020

REFLEXÃO SOBRE MUDANÇAS!!

Eu gostaria de mudar de mim e viver, temporariamente, na mente de outras pessoas e vice-versa. Desejaria que outras pessoas vivessem na minha mente, ou seja, eu não seria eu, seria a mente de alguém, uma outra pessoa não seria ela, mas eu. Apenas, é claro, de um ponto de vista psicológico 


Talvez essa fosse a "verdadeira" empatia...Ser, essencialmente, a história de vida de alguém, de um ponto de vista mais amplo possível: experiências, traumas, memórias, prazeres, dores, pensamentos, preconceitos, emoções, loucuras, crises existenciais, enfim, tudo...

Quantos de nós pensaram sobre tal assunto? Se existisse essa possibilidade, será que muitos se candidatariam? Sim, porque afirmar que deveríamos ter a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro é fácil, não é mesmo? Todavia, ser o outro, ontologicamente, não mais com a sua existência mental, mas "encarnar" a mente de uma outra pessoa, como se você nunca tivesse existido, a situação muda de figura.

Em outras palavras, você seria você, apenas na aparência física, mas sentiria tudo o que o outro(a) sentiu e sente. Como diz o ditado popular: literalmente, "estar na pele do outro". Mais uma vez: é até compreensível, dados os nossos limites, referirmo-nos a sentimentos nobres, como empatia, solidariedade, entre outros, entretanto, é impossível, (pelo menos por enquanto)  encarnamos uma outra pessoa...

Enquanto seres humanos, somos um caos de contradições. Muitos nos chamam de narcisistas,  arrogantes, imaturos, ou nos fazem elogios, que massageiam o nossos egos, não é mesmo? No entanto, quem pode ser "a referência" para ser o juiz(a) do comportamentos dos outros? 

Por outro lado, há comportamentos que jogam por terra tudo o que foi supracitado, como, por exemplo, o genocídio, o nazismo, o fascismo, entre muitas outras violências. Seria muito interessante que as pessoas que defendem tais maldades sofressem uma metamorfose e se tornassem verdadeiramente as vítimas da violência em todas as situações possíveis...Será que aprenderiam? 

O assunto é polêmico e, com certeza, dá uma boa discussão filosófica, todavia, a minha intenção é provocar. Quem é o dono da verdade? E o que é a dita cuja?!!


TEXTO: Marco Aurélio Machado



quarta-feira, 10 de junho de 2020

O HOMEM EM RELAÇÃO AO UNIVERSO E O VÍRUS EM RELAÇÃO AO HOMEM!

Neste período, de profunda crise mundial causada por um vírus mortal, que afeta as relações pessoais, familiares, sociais, políticas, econômicas, entre outras, mas, principalmente e, acima de tudo, a saúde dos mais de oito bilhões de habitantes do planeta, levando milhares de seres humanos ao óbito, neste dia em que escrevo este texto. Todavia, ainda é muito cedo para afirmarmos que não teremos milhões de pessoas mortas, afinal, a doença parece estar longe de ser controlada no planeta e ainda não sabemos quase nada a respeito do novo Coronavírus, denominado, pela ciência, de COVID-19.

Neste texto, proponho uma reflexão sobre a importância do homem diante do Universo, e a de um vírus, um simples micro-organismo, diante do ser humano. O interessante é que o ser humano não deixa de ser "uma espécie de Universo"em que os vírus "habitam", resta saber a relação que ambos tem com os seus "respectivos Universos"... (Aqui não coloco a possibilidade de multiuniversos estudados pelas diversas áreas da Física. Refiro-me ao nosso Universo "conhecido". Apenas faço uma analogia entre o ser humano em relação ao Universo e o vírus diante do ser humano.)

Entendido o que foi supracitado, o que é o homem em relação ao Universo? NADA! O que é um vírus patogênico (causador de doenças) mais especificamente, o COVID-19,  em relação ao ser humano, o "Universo do vírus"? TUDO!! O homem, que se acha tudo, perante o Universo, não é nada; o COVID-19, que não pode pensar, portanto, não pode se achar tudo ou nada, na verdade, mesmo sem o saber, tem um poder de destruição tremendo, tão grande, que faz inveja aos grandes "gênios", que em nome da vaidade e do progresso, inventaram as armas mais temíveis e terríveis para a destruição dos seus semelhantes. 

O homem pode destruir o Universo? Penso que não. Pode, no máximo, aniquilar quase todos os seres vivos do nosso minúsculo e insignificante planeta Terra. Mesmo assim é provável que a Terra se recupere com o decorrer do tempo...O COVID-19 que habita o "Universo humano", pode destruir o homem? Pode e tem destruído, mesmo não sendo consciente, inteligente e ético. E o que é pior: os vírus habitam o planeta Terra há alguns bilhões de anos: sofrem mutações e continuam "sobrevivendo nos diversos "alojamentos" dos seres vivos em geral. O ser humano está por aqui no máximo há algumas centenas de milhares de anos. 

E eu não poderia terminar este texto sem a seguinte e terrível lembrança: se pelo menos trabalhássemos para eliminar "muitos micro-organismos, adversários inconscientes, na luta pela sobrevivência, ainda estaria muito bom. Entretanto, por causa do poder político e econômico e a vontade de ser superior aos seus semelhantes, sendo que não o é nem contra micro-organismos patogênicos,  o homem já é "capaz" de fabricar vírus em laboratório. Não basta a natureza, o todo-poderoso ser humano quer ter armas "biológicas" que talvez fizesse do COVID-19 apenas um brinquedinho de dizimar pessoas inocentes, pois os cientistas, em tese, são capazes de produzir micro-organismos várias vezes mais potentes. 

O homem não passa de natureza que  produziu um "relâmpago" de consciência e inteligência em si mesma ( a natureza), e enquanto ele não se sentir como parte do Universo, a tendência é que essa luz se apague para sempre. Não é o vírus que é maldito, maldito é quem é consciente para destruir...

TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO



sábado, 16 de novembro de 2019

O MITO SOBRE AS ESCOLAS SEM PARTIDO!!


Estamos diante de mais uma aberração dos poderes políticos e econômicos para tentar nos impor uma ideologia supostamente boa e imparcial mas, que na verdade, oculta um plano diabólico de dominação em todas as áreas das diversas ocupações e relacionamentos humanos. Nenhuma novidade, afinal os seres humanos sempre estiveram perdidos e dependeram, dependem e, provavelmente, dependerão de soluções por parte dos poderosos nas várias dimensões da realidade.

Para que tal reflexão seja possível, precisamos da ajuda de uma chave, não da solução de todos os problemas, mas a condição fundamental, essencial, para problematizarmos e trazer à tona os interesses escusos e maquiavélicos daqueles que querem tornar mais fácil a dominação: o ponto de interrogação (?). Ledo engano de quem pensa que tal ideologia, rasa e superficial, não parece, à primeira vista, algo de muito positivo. Em outras palavras, um método que, em tese, seria imparcial, justo, sem influência de pessoas ou de grupos!! Alguém acredita que seja possível uma escola sem partido? Seria possível essa verdadeira revolução nas sociedades humanas? Façamos algumas perguntas...

Propor uma escola sem partido já não é tomar partido? Esqueçamos, por enquanto, a escola formal, pois esta apareceu muito tempo depois da existência das primeiras comunidades primitivas. "A educação"está disseminada desde os primórdios. O que são, por exemplo, os rituais, os ritos de passagens, as crenças, os valores, enfim, a cultura de um povo? É a educação, evidentemente, baseada na tradição, ou seja, era passada por meio da via oral, não havia escrita à época.

Nos dias de hoje, a educação existe nas escolas formais, mas também acontece em todas as instituições sociais: na família, na igreja, no trabalho, na comunidade, na arte, e em todos os demais relacionamentos humanos. O ser humano não nasce educado instintivamente, ele não é como os animais. Estes são regidos pelos instintos, "já sabem o que fazer, aqueles têm que aprender, ou seja, precisam interagir com a natureza e os diversos grupos sociais para se tornar humano. Para relembrar o grande filósofo grego, Aristóteles, quando ele se refere aos conceitos de "potência e ato."Não vou entrar em detalhes, porque o Existencialismo, corrente filosófica de meados do século XX, principalmente, com Sartre, inverte tais conceitos aristotélicos: para Sartre, "a existência precede a essência". Há controvérsias, aliás, como tudo na Filosofia...

A pergunta que joga por terra toda essa argumentação fajuta de escola sem partido, que, todavia, toma partido para impor a mordaça e o pensamento crítico aos cidadãos, mas que preconiza a imparcialidade no ambiente escolar formal, é uma falácia: se a educação não é privilégio da educação formal, pelo contrário, acontece em todas as demais instituições e, talvez, a mais importante seja a família, como pregar uma uma educação sem partido? Ou não há partidos,(opiniões) formas de ver o mundo, valores morais, éticos, religiosos, econômicos e políticos que começam na família?

Que cidadão, em qualquer parte do mundo, foi respeitado sem ter sido moldado e "enquadrado" em alguma forma de "educação"? Há a mesma educação religiosa nas várias igrejas existentes no mundo? Falamos a mesma língua em todos os lugares? Os economistas defendem apenas uma teoria econômica válida para todos? Os valores capitalistas não são partidários, ou seja, não têm interesses? Eles são ou não impostos, inclusive, dentro das escolas formais? Se nem as ciências naturais são imparciais, porque há divergências entre os métodos, critérios, técnicas, como defender uma escola sem partido? Só de algumas pessoas defenderem isso, por acaso, já estão tomando partido: "O partido da escola sem partido". Isto é possível? As forças amadas não têm partido? Partidos, não como agremiação política, mas influenciada por eles, pelas doutrinas econômicas, pelos valores e práticas consideradas corretas? A interpretação de textos políticos, econômicos, filosóficos, sociológicos, históricos e jornalísticos não são partidários, ou seja, não há um pré-conceito e um preconceito entre outras possibilidades e alternativas?

A quem interessa, por exemplo, que disciplinas como Filosofia e Sociologia sejam desvalorizadas por governos de direita e de extrema-direita? Odeiam o pensamento crítico, porque o questionamento é o fundamento do respeito e das mudanças. Temos que acabar com essa ideologia furada, de que há imparcialidade total em termos de questões humanas, porque isso é mais um mito, no sentido de mentira.

Se nem as ciências naturais conseguem ser imparciais, porque elas não conseguem ser um reflexo objetivo da realidade, caso contrário, não teríamos teorias deferentes para explicar os mesmos fatos. Em última análise, quem tem a última palavra nas chamadas teorias científicas? Não há partido, poder político e econômico nas conclusões finais das ciências?

A proposta de escola sem partido é ridícula. É mais uma ideologia dos partidários do Neoliberalismo e daqueles que querem nos impor crenças sociais como se fossem um carimbo divino ou natural. Aqueles que querem nos impor tal ideologia, são os que mais se aproveitam do partido, da escola sem partido. Tenho dito!!

TEXTO: Marco Aurélio Machado




quarta-feira, 3 de abril de 2019

A ÉTICA DE EPICURO E A ÉTICA ESTATAL CUBANA

Epicuro de Samos é da época helenística: nasceu, como o nome já diz, em Samos, na Grécia, em 341 a.C e faleceu em 270 a.C, em Atenas, na Grécia. Como não faço consultas, vou me ater apenas à ética epicurista, mesmo assim de forma bem sucinta. Por outro lado, tentarei fazer uma "comparação" anacrônica,  pois quando refiro-me à ética de Cuba, o contexto histórico são os séculos XX e XXI.

A meu ver, há uma relação de semelhança entre os ensinamentos éticos de Epicuro, também conhecido como "o filósofo do Jardim", e a ética "capitalista de Estado cubano", que muitos confundem com o socialismo. Farei um recorte dessa ética, afinal existe uma diferença cultural e temporal de mais de dois milênios.

Todavia, como ver relação de semelhança entre a doutrina ética de Epicuro e o Estado cubano? Vejamos, uma doutrina ética do epicurismo muito simples, mas de profunda sabedoria. Epicuro preconizava que há 1)"coisas naturais e necessárias"; 2)"coisas naturais, mas não necessárias" , e a última, talvez a mais importante nos tempos atuais: 3) aquelas que não são "nem naturais nem  necessárias". O que há de comum entre a doutrina ética epicurista e à cubana?

Basta refletir um pouco. Tanto Epicuro quanto o Estado cubano são adeptos do primeiro comportamento ético, lembrando, como se pode perceber acima, que ele citou três formas: uma que é essencial, fundamental para uma vida digna, e as outras duas podem ser descartadas, principalmente, a última, esta que é atual no "sistema capitalista de mercado globalizado" Por quê?

Para uma melhor compreensão, darei alguns exemplos, não necessariamente iguais aos de Epicuro, pois pretendo fazer uma "atualização" para a nossa época. A primeira, diz respeito às "coisas naturais e necessárias": dormir, beber, comer, ter um teto, saúde, amigos(as), prazeres moderados, em outras palavras, ser feliz com uma vida simples, mas digna. A segunda, refere-se às mesmas coisas da primeira, são necessidade naturais, mas, ao contrário da primeira, não necessárias: dormir é algo vital, natural, mas não é necessário que seja numa cama luxuosa; beber e comer são naturais, mas não há necessidade que sejam  bebidas caras e refinadas, o mesmo serve para a comida. Nada de luxo e banquetes, com alimentos que serviriam para os "deuses". Ter um teto é natural, mas não precisa ser um palacete de mármore. Amigos, sim, contudo, não é prudente querer ter apenas amigos ricos e poderosos. Quanto aos prazeres,  a mesma coisa: nada em excesso. A última, está relacionada àquilo que não é nem natural nem necessário: o poder, todos os poderes, a fama a qualquer custo, a riqueza sem limite, a glória, a busca de prazeres, ou seja, o hedonismo, onde o céu é o limite. E onde o Estado cubano entra nisso?

O Estado cubano está fundamentado no primeiro ensinamento da ética de Epicuro: "o que é natural e necessário". Com todos os problemas enfrentados por Cuba, todos comem, bebem, têm um teto, amigos(as) que procuram cooperar entre si, educação e saúde simples, mas da melhor qualidade, e todos estudam; não há crianças fora da escola. Muitos podem dizer que a situação de Cuba é assim, porque o socialismo não deu certo, que eles sonham com muito mais. Será? Cuba está, desde 1959, sob fortes sanções econômicas e políticas. E Cuba não pode transformar-se num País socialista, pois este depende de solidariedade, cooperação e ajuda recíproca de outros Estados socialistas. Ou seja, só é possível um socialismo, de fato, se existisse o mesmo regime de produção em todo ou em quase todos do planeta. O capitalismo está presente em nível global, mas entregou as promessas de felicidade e prosperidade a todas as pessoas, ou ao menos, uma certa dignidade? Não, muito antes pelo contrário. 

Cuba não é o paraíso, mas está longe de ser o inferno. Melhor: ela cumpre a ética epicurista de coisas  naturais e necessárias. Imagine, se todo ser humano vivesse uma vida simples, mas que tivesse o mínimo para ser chamado de ser humano, no sentido mais nobre da palavra?

Evidentemente, a minha reflexão teve como objetivo fazer uma comparação apenas "ética". Não levei em consideração questões políticas nem econômicas. Epicuro procurava sossego, felicidade e ataraxia, fugia da situação política da época, num contexto "local"; a ética cubana é uma política de Estado, possível e pautada em outros valores, que devem ser comparados ao capitalismo neoliberal contemporâneo e planetário. Este busca muito dinheiro, riquezas, fama, poderes,  luxos descartáveis, o hedonismo exacerbado, ideologia,  alienação e exploração. 

Um sistema, uma sociedade globalizada, que destrói o próprio habitat, por causa da busca ambiciosa, gananciosa e egoísta, de coisas que não são nem naturais nem necessárias, não terá sossego, tranquilidade, serenidade, segurança. Ter um teto ( o planeta Terra) é algo natural e necessário. Quando alguém "destrói" a sua moradia (casa) para fazer uma reforma, a intenção é melhorá-la. Quando destruímos o planeta, existe a possibilidade de ser para melhor? Resultado: ansiedade, depressão, insegurança, vazio existencial, ignorância, entre outras situações degradantes. Mesmo sabendo disso, quantos abrem mão do atual modo de vida? Jamais poderíamos condenar um suicida, afinal,  estamos fazendo a mesma coisa, só que num nível global e sem volta. Infelizmente...

Texto: Marco Aurélio Machado