Li, no ano passado, se não me engano, um texto do portal UOL, que o ministro da Educação do Japão sugeriu que as universidades excluíssem os cursos de Humanidades do sistema universitário, pois se deveria substituí-los por cursos mais úteis à sociedade. Algumas universidades já colocaram em prática a decisão do ministro, mas a maioria, ou não quis, ou preferiu discutir o assunto mais profundamente. O interessante é que até o curso de Direito (segundo a notícia) não escapou da possibilidade de extinção...Logo, o Japão? O capital é avassalador...
Tenho visto muitas brincadeiras, nas mais diversas redes sociais e muito antes do advento delas, no próprio cotidiano da universidade onde eu cursava Filosofia. Cursos de Filosofia, Sociologia, História, Psicologia, Ciência Política, Antropologia, dentre outros, não são valorizados numa sociedade capitalista. É até compreensível, pois quando a conta bancária tem a possibilidade de construir um padrão de vida material rico e "confortável", a "alma" (reflexão, pensamento racional) com certeza, se empobrece. Evidentemente, que não estou generalizando. Mesmo porque pessoas que pensam assim nem têm culpa de ser alienadas: o desejo de ter um carrão, uma mansão, ser empresário, ou empregado de uma grande indústria e ser, portanto, bem remunerado, além de fazer parte de uma classe social importante, conhecer pessoas influentes, frequentar festas chiques, comprar produtos de grife, ter um bom plano de saúde, dentre outras coisas que o dinheiro pode comprar. Eis a utilidade do alienado pela ideologia perversa da burguesia. O sujeito, quase sempre, não é o proprietário nem das próprias ideias, mas pensa com a cabeça dos seus verdugos(carrascos).
Todavia, não custa lembrar de uma célebre frase de Karl Marx, que é mais ou menos a seguinte: "Não são as ideias que determinam o modo de produção, mas, pelo contrário, é o modo de produção que determina as nossas ideias". Fica explícito, aqui, que aqueles que "brincam" com a suposta inutilidade das Ciências Humanas, servem de cobaias para reproduzir o discurso de quem os explora. Eles não pensam a situação política, econômica, social, cultural, histórica, sociológica, filosófica, psicológica, antropológica do modo de produção que está em curso no PLANETA; eles são pensados, pois alguém pensa por eles o que devem sentir, pensar e agir. São úteis enquanto estão produzindo riquezas, contudo, serão descartados quanto qualquer coisa que envelhece no atual sistema.
O atual modo de produção não quer pessoas e cidadãos plenos, quer robôs. Robôs só recebem ordens, lidam bem com a manipulação de mercadorias e produtos, porém, não percebem que também são mercadorias. Uma pessoa da área de humanas, normalmente, tem uma visão de conjunto; estabelece relações entre todas as dimensões da realidade. Logo, não enxergam apenas números, mesmo porque o ser humano é muito mais do que um número.
Por outro lado, quantas pessoas da área de exatas que odeiam as Ciências Humanas, mas são fanáticas religiosas? A religião, por acaso, é uma Ciência Exata? Partindo deste pressuposto a religião não é inútil e, por isso, não deveria ser descartada? Por que o capitalismo despreza a área de Humanas, embora valorize a religião, principalmente, nos países mais pobres? Não seria para deixar a pessoa conformada, pois o que o religioso não conseguir neste mundo, existe a possibilidade de obter no Paraíso, não é mesmo? Ao menos enquanto promessa...
Para refletir: EXISTE alguma ciência que não seja humana? Toda ciência é humana, ora! Ou alguém já viu qualquer outro animal, que não seja humano, produzindo Ciências Exatas? Será por que quase todas as pessoas que conheço que são da área de exatas são, politicamente, de DIREITA? Talvez, porque faltem a elas a capacidade de se preocupar com todos os seres humanos, e não ter um olhar direcionado apenas ao próprio umbigo...Se tivessem uma consciência crítica sobre a totalidade do real, provavelmente, o ser humano seria mais importante do que a conta bancária!!!
TEXTO: Marco Aurélio Machado