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quarta-feira, 4 de julho de 2012

O MISTÉRIO!

A palavra mistério é, sem dúvida, uma das mais pronunciadas no mundo. Há vários exemplos na vida cotidiana sobre o conceito de mistério, mas gostaria de me deter no seu sentido metafísico, e a contradição entre a dúvida ou a certeza daquilo que existe e o suposto inexistente...

Desde a primeira vez que ouvi tal palavra, ela sempre ocupou ao menos um pouco a minha mente. Ao me interessar cada vez mais pela Filosofia em geral e pela metafísica em particular, evidentemente que a capacidade de pensar e repensar o conceito de mistério também foi crescendo. Numa palavra, ao refletir sobre um assunto supostamente tão espinhoso, agora tenho sérias dúvidas sobre a possibilidade de alguém tentar sair pela tangente quando é questionado até as últimas consequências sobre assuntos metafísicos relacionados ao "mistério". E penso ser este um problema de paradoxo da linguagem, de contradição lógica, como tantos outros que poderíamos citar, mas que não vou colocar aqui.

É muito comum a discussão e o debate entre as pessoas de fé e aquelas mais ligadas à Filosofia e à Ciência. E não é segredo para ninguém que muitas pessoas religiosas também gostam de Ciência e tentam, na medida do possível, fazer uma conexão, uma ponte entre essas "adversárias". Afinal, contar com o apoio da Ciência seria muito bom. Entretanto, será possível alguém se referir ao mistério sem cair numa grande contradição?

Mas afinal de contas, o que é o mistério? Algo que ninguém pode saber, que é incognoscível para sempre à percepção e ao conhecimento humano, dirão uns; algo totalmente desconhecido e que só Deus sabe, dirão outros. E, provavelmente, muitas outras formas de definição devem existir, mas fiquemos, para o que nos interessa aqui, apenas com os dois conceitos supracitados.

O problema é o seguinte: se o mistério é misterioso, como pode alguém se referir a ele? Em outras palavras, se não sei o que é o mistério, como posso me referir a algo que não sei o que é? Se sei o que é o mistério, como posso continuar a dizer que é um mistério, ou seja, algo desconhecido e misterioso? Se conheço o mistério, ele ainda é misterioso e desconhecido? Se sei o que é o mistério, ele não é mais o mistério, porque pode ser conhecido, se não sei o que é o mistério, não posso falar sobre ele. Logo, o conceito de mistério não pode ser afirmado e nem negado. É apenas mais uma gaiola metafísica... Mais um paradoxo da linguagem humana!

Para terminar, eis mais um paradoxo para quem adora dizer que tem a palavra divina. Como pode Deus ser misterioso e ao mesmo tempo a sua palavra estar na Bíblia ou em outros livros sagrados? Se Deus é um mistério, então, é desconhecido e nada pode se falar a respeito dele; se a palavra de Deus está nos livros sagrados, então não existe mistério algum e tudo o que se precisa saber sobre já está escrito e a humanidade não pode mais se referir à palavra mistério. Fiquem à vontade para escolher...

Penso que o maior "mistério" é saber quem diz a verdade, pois os religiosos não se entendem...O interessante é que poderíamos, diante da tal contradição, dizer que somos todos agnósticos. Penso, sinceramente, que haveria mais tolerância e humildade diante da nossa imensa ignorância do desconhecido...Alguém dizer que a palavra de Deus está contida nos livros sagrados e, diante de questionamentos insolúveis, afirmar que é um mistério, é o mesmo que dizer que um triângulo é um quadrado. Haja pirueta mística!!! Pois é...


Texto: Marco Aurélio Machado