O que é a "verdade"? Eis uma pergunta que existe desde a mais tenra aurora da Filosofia. Muitos já morreram e tantos outros já mataram em nome de uma suposta "verdade". Penso que quando alguém diz que fulano de tal quer ser o dono da verdade, há um equívoco de interpretação conceitual. Aliás, a Filosofia deveria se preocupar em fazer uma terapia da linguagem.
Um dos maiores filósofos do século XX, o austríaco Wittgenstein, já nos alertava para tal fato. Ele dizia que muitos problemas filosóficos são pseudoproblemas que podem ser resolvidos ou dissolvidos apenas com uma boa análise da linguagem e da gramática. Concordo com ele...
Para o nosso texto aqui, vou tentar distinguir o conceito de "verdade" do conceito de "verdadeiro". A meu ver, muitos erros e equívocos da História da Filosofia poderiam ser evitados se tivéssemos prestado mais atenção na diferença entre eles. Por exemplo, quando digo que um quadrado tem quatro ângulos, posso afirmar, categoricamente, que daqui a milhões de anos ( se houver seres humanos ) tal verdade será reafirmada. É uma verdade necessária e universal. É uma verdade lógica, não depende de interpretação. A não ser num ceticismo radical, que costuma argumentar que um gênio maligno poderia nos enganar, nos mostrando um quadrado com quatro ângulos, quando na "verdade" ele teria cinco lados. Penso que a maioria das pessoas não defenderia uma tese tão absurda como a supracitada, não é mesmo? Em outras palavras, a lógica e a matemática nos dão uma verdade peremptória. A verdade, então, é um ente de razão. Uma razão inventada pelos seres humanos, pois eu não defendo a tese de que a matemática faça parte da própria estrutura do Universo. Mas isto é uma outra discussão...
A "verdade" só pode ser lógica, matemática e, portanto, abstrata, universal e necessária. Ela é atemporal e definitiva. Eis o grande problema: o que eu vou fazer com tal "verdade"? Resolver problemas lógicos e matemáticos! Mas a vida se resume em problemas de tais" natureza? Não. A vida não é congelada e estática. A vida é dinâmica, é movimento, é um processo que não pode ser enquadrado dentro de esquemas lógicos rígidos. A vida existe num espaço, num tempo, a vida é muito mais do que a invenção da lógica, a vida é ontológica.
A "verdade", então, por estar num mundo que contém o ser humano, não pode ir além daquilo que é o "verdadeiro". O conceito de algo verdadeiro é limitado; é temporal e finito. O verdadeiro neste sentido é humano, e o que é humano é sempre provisório. Muitas teorias científicas, hoje, são verdadeiras, mas daqui a alguns anos, décadas ou séculos continuarão a ser? Não. Mostrar-se-ão falsas. Novos modelos, paradigmas, conceitos, experimentos, mudanças culturais e históricas nos mostrarão o quão humildes e limitados são os seres humanos.
O "verdadeiro" é a única "verdade" em um mundo que vai muito além de uma lógica que confunde o "mapa com o território". O verdadeiro lida com o movimento, portanto, com a vida no sentido mais amplo da palavra. A "verdade" é a morte da vida, o verdadeiro é a essência da vida...A primeira é a inércia, a segunda é o dinamismo e a eterna transformação.
Quem sabe se os filósofos antigos tivessem prestado mais atenção ao filósofo Heráclito e menos a Parmênides e Aristóteles, não conceberíamos a vida de uma forma completamente diferente? A metafísica antiga é um amor não pela sabedoria, mas um amor pela morte. Por quê? Porque sempre valorizou o imóvel, o estático, ou seja, o imutável, como o fundamento daquilo que muda. Em outras palavras, como pode a essência ( o imutável ) ser a causa da aparência, do que muda? Mudemos isto: a aparência ( o dinamismo ) é o verdadeiro, a essência ( o estático ) é "verdade".
Qual é a "conclusão"? Penso que o verdadeiro é isto: A "verdade" é a morte; o verdadeiro é a vida. A "verdade" é universal; o verdadeiro é singular; a "verdade" é lógica; o verdadeiro é ontológico. A "verdade" é abstrata; o verdadeiro é um mergulho no oceano vital; a "verdade" é a essência morta; o verdadeiro é o mundo enquanto fenômeno existencial...Contraditório? Então preste atenção nisto: A mentira é "verdade". A mentira é mentira. Descubra por você mesmo (a) o que está certo ou errado nas frases acima, pois eu não vou dizer. O motor da vida é a contradição. Basta ver um ser humano agindo: grandes "verdades" e atos que envergonhariam os animais se eles tivessem consciência moral...
Um dos maiores filósofos do século XX, o austríaco Wittgenstein, já nos alertava para tal fato. Ele dizia que muitos problemas filosóficos são pseudoproblemas que podem ser resolvidos ou dissolvidos apenas com uma boa análise da linguagem e da gramática. Concordo com ele...
Para o nosso texto aqui, vou tentar distinguir o conceito de "verdade" do conceito de "verdadeiro". A meu ver, muitos erros e equívocos da História da Filosofia poderiam ser evitados se tivéssemos prestado mais atenção na diferença entre eles. Por exemplo, quando digo que um quadrado tem quatro ângulos, posso afirmar, categoricamente, que daqui a milhões de anos ( se houver seres humanos ) tal verdade será reafirmada. É uma verdade necessária e universal. É uma verdade lógica, não depende de interpretação. A não ser num ceticismo radical, que costuma argumentar que um gênio maligno poderia nos enganar, nos mostrando um quadrado com quatro ângulos, quando na "verdade" ele teria cinco lados. Penso que a maioria das pessoas não defenderia uma tese tão absurda como a supracitada, não é mesmo? Em outras palavras, a lógica e a matemática nos dão uma verdade peremptória. A verdade, então, é um ente de razão. Uma razão inventada pelos seres humanos, pois eu não defendo a tese de que a matemática faça parte da própria estrutura do Universo. Mas isto é uma outra discussão...
A "verdade" só pode ser lógica, matemática e, portanto, abstrata, universal e necessária. Ela é atemporal e definitiva. Eis o grande problema: o que eu vou fazer com tal "verdade"? Resolver problemas lógicos e matemáticos! Mas a vida se resume em problemas de tais" natureza? Não. A vida não é congelada e estática. A vida é dinâmica, é movimento, é um processo que não pode ser enquadrado dentro de esquemas lógicos rígidos. A vida existe num espaço, num tempo, a vida é muito mais do que a invenção da lógica, a vida é ontológica.
A "verdade", então, por estar num mundo que contém o ser humano, não pode ir além daquilo que é o "verdadeiro". O conceito de algo verdadeiro é limitado; é temporal e finito. O verdadeiro neste sentido é humano, e o que é humano é sempre provisório. Muitas teorias científicas, hoje, são verdadeiras, mas daqui a alguns anos, décadas ou séculos continuarão a ser? Não. Mostrar-se-ão falsas. Novos modelos, paradigmas, conceitos, experimentos, mudanças culturais e históricas nos mostrarão o quão humildes e limitados são os seres humanos.
O "verdadeiro" é a única "verdade" em um mundo que vai muito além de uma lógica que confunde o "mapa com o território". O verdadeiro lida com o movimento, portanto, com a vida no sentido mais amplo da palavra. A "verdade" é a morte da vida, o verdadeiro é a essência da vida...A primeira é a inércia, a segunda é o dinamismo e a eterna transformação.
Quem sabe se os filósofos antigos tivessem prestado mais atenção ao filósofo Heráclito e menos a Parmênides e Aristóteles, não conceberíamos a vida de uma forma completamente diferente? A metafísica antiga é um amor não pela sabedoria, mas um amor pela morte. Por quê? Porque sempre valorizou o imóvel, o estático, ou seja, o imutável, como o fundamento daquilo que muda. Em outras palavras, como pode a essência ( o imutável ) ser a causa da aparência, do que muda? Mudemos isto: a aparência ( o dinamismo ) é o verdadeiro, a essência ( o estático ) é "verdade".
Qual é a "conclusão"? Penso que o verdadeiro é isto: A "verdade" é a morte; o verdadeiro é a vida. A "verdade" é universal; o verdadeiro é singular; a "verdade" é lógica; o verdadeiro é ontológico. A "verdade" é abstrata; o verdadeiro é um mergulho no oceano vital; a "verdade" é a essência morta; o verdadeiro é o mundo enquanto fenômeno existencial...Contraditório? Então preste atenção nisto: A mentira é "verdade". A mentira é mentira. Descubra por você mesmo (a) o que está certo ou errado nas frases acima, pois eu não vou dizer. O motor da vida é a contradição. Basta ver um ser humano agindo: grandes "verdades" e atos que envergonhariam os animais se eles tivessem consciência moral...
TEXTO: Marco Aurélio Machado