Página

MAPA DOS VISITANTES DESDE O DIA 29/11/2009

domingo, 9 de setembro de 2012

DIÁLOGO POLÍTICO - O FILÓSOFO E O CANDIDATO A CIDADÃO!

CANDIDATO A CIDADÃO: _ Senhor filósofo, eu sempre quis conversar com um sábio e ouvi dizer que um filósofo poderia me ensinar como votar nestas eleições sem o risco de ser enganado. O senhor poderia me ajudar?

FILÓSOFO:_ Bem, nós poderíamos conversar um pouco sobre o assunto. Em primeiro lugar, um filósofo não é um sábio, mas é um amante da sabedoria. Ele busca a sabedoria, assim como uma pessoa que está morrendo sufocada busca o ar. Em segundo lugar, você estaria disposto a votar em quem eu lhe indicasse?


CANDIDATO A CIDADÃO:_ Acho que sim. Por que não deveria?, afinal, sendo um filósofo, com certeza, o senhor poderia me dizer o nome de dois bons candidatos: um para o Legislativo e o outro para o Executivo.

FILÓSOFO: _ Mas o que é ser um bom candidato?

CANDIDATO A CIDADÃO: _ Ora, senhor filósofo, não é possível que não saiba o que é uma coisa boa e muito menos que não tenha noção do que é ser um bom candidato...Em vez de me ajudar, o senhor só sabe fazer perguntas?! Não me leve a mal, mas acho que perdi o meu tempo.

FIlÓSOFO:_ O que é ajuda? O que é uma pergunta? O que é o tempo? Você pode me dizer?

CANDIDATO A CIDADÃO:_ Ó!! O senhor filósofo é louco, o senhor é completamente aloprado!

FILÓSOFO:_ Mas você poderia me dizer o que é a loucura?

CANDIDATO A CIDADÃO:_Eu já estou perdendo a paciência com o senhor, mas vou responder essa perguntinha imbecil e vou embora daqui, antes que eu fique doido também. Esta é fácil, ora! Loucura é o nome que se dá às pessoas que perderam a noção das coisas, que não sabem distinguir o estado de consciência, da inconsciência, é uma pessoa que não pode ser responsável pelos seus atos. Enfim, alguém que se encontra num estado mental precário e alienado. Gostou ou quer mais? O senhor está pensando que eu sou bobo? Agora, posso ir? Pra mim chega...

FILÓSOFO:_Você é livre para ir e vir...E um filósofo não vai tirar todas as suas dúvidas. Pelo contrário, ele pode até gerar mais algumas. Quer mesmo ir embora ou podemos continuar o nosso diálogo? Podemos tentar encontrar as respostas sobre este assunto juntos...

CANDIDATO A CIDADÃO:_Senhor filósofo, tenha misericórdia, eu só queria saber como escolher um candidato para o Legislativo e um para o Executivo. Mais nada. A minha cabeça já está doendo por causa das suas perguntas sem fim. Por favor, diga logo como eu devo fazer.

FILÓSOFO:_Lembra-se quando eu o perguntei sobre o tempo? Evidentemente, que fazer uma reflexão sobre o tempo é bastante difícil, mas na rica História da Filosofia alguns filósofos já se debruçaram sobre esse tema fascinante e se for do seu interesse, procure numa boa biblioteca ou na internet que, com certeza, você achará. Mas voltando ao nosso assunto: a ideia de tempo nos remete à História. No caso, a História de um partido político, em geral, e a de um indivíduo que coloca o seu nome à disposição de um partido para ser candidato, em particular. Penso que não sabemos como será o futuro, e a lógica nos assuntos sobre o comportamento humano não nos autoriza a dizer que o passado será igual ao presente e muito menos ao futuro. Todavia, no que se refere à ética e à política, talvez o passado de um partido ou de um indivíduo possa nos dar alguma pista. O que você acha?

CANDIDATO A CIDADÃO:_Mais uma pergunta! Eu quero é ter certeza, pois a dúvida é um verdadeiro pesadelo para mim. Eu acho que vou anular o meu voto. Todo político é desonesto mesmo! Talvez, quem sabe, vender o meu voto... São todos iguais! E eu ainda ganharia um dinheiro extra. O que tem o passado que ver com a política? A maioria absoluta dos políticos é corrupta. Uma vez corrupto sempre corrupto. Além do mais, não está escrito na testa de ninguém a palavra "honestidade". E mesmo que a pessoa seja honesta, quando chega "lá" tem que entrar no esquema, caso contrário, não faz nada. Eu vou é vender o meu voto mesmo e pronto.

FILÓSOFO:_Calma! Vamos analisar a situação mais de perto. De um ponto de vista lógico, não podemos dizer que o passado necessariamente repetir-se-á no futuro. Aqui caímos numa situação complexa, pois desse prisma, mesmo que um político tenha sido desonesto, não podemos concluir que ele o será no futuro. O mesmo argumento serve para o político honesto, pois o fato de ele ter sido honesto no passado, não legitima a inferência que ele o será no futuro, certo?

CANDIDATO A CIDADÃO:_Onde eu estava com a cabeça quando resolvi procurá-lo? Agora as coisas pioraram de vez. Pode explicar melhor?

FILÓSOFO:_Claro. Se logicamente é possível, tanto um político desonesto, ficar honesto e vice-versa, então o silogismo dedutivo não serve para resolver o problema, pois os fatos podem nos contradizer, ou seja, um único político desonesto, ficar honesto , ou um único político honesto, ficar desonesto. Basta isso, para que o nosso silogismo seja falso.

CANDIDATO A CIDADÃO:_Que confusão! Mas estou começando a gostar disso. Continue, por favor!

FILÓSOFO:_Não temos garantias em nada que é humano. Ser humano é estar aberto para as escolhas. Nós escolhemos dentro dos limites humanos. O ser humano não é como o animal, que já nasce "sabendo" das coisas, instintivamente. Ele é um ser social e cultural. Ele tem que se autoconstruir o tempo todo. Fica claro que a política é uma dimensão muito importante da vida em sociedade. Se todos nós fôssemos programados pela leis naturais apenas, não precisaríamos da política. E se todos fôssemos éticos, não precisaríamos de leis, logo, o Estado não seria necessário. Concorda?

CANDIDATO A CIDADÃO:_Estou tentando acompanhar o seu raciocínio, mas confesso que ainda está muito teórico e eu estou começando a acreditar que os que dizem ser a Filosofia muita abstrata não deixam de ter razão. Para que tanto lenga-lenga para responder uma simples pergunta? Tudo me parece tão óbvio...

FILÓSOFO:_O óbvio só é óbvio para os tolos. Se as pessoas tivessem o hábito de fazer reflexões sobre a vida, o mundo, a natureza e a cultura, talvez o mundo humano fosse bem mais rico e feliz. E a política, volto a dizer, é uma dimensão essencial para que possamos viver em sociedade. Ao menos nos próximos séculos, isto é, se os homens não abrirem mão da política e partir para a selvageria de uma guerra atômica...

CANDIDATO A CIDADÃO:_Deus nos livre e guarda, senhor filósofo! Vire essa boca para lá! Credo! O senhor ainda vai demorar muito, hein?!

FILÓSOFO:_Deus? Bom, se ele existe, parece que não interfere no mundo, por outro lado, se não existe, nunca saberemos. Então, até que se prove o contrário, só podemos contar com a capacidade humana de resolver os seus problemas. É por isso que a política é laica, leiga e os seres sobrenaturais devem ser assunto para as religiões, mas na esfera da vida privada. A política é da ordem do público, profano, mundano...

CANDIDATO A CIDADÃO:_O senhor não deveria blasfemar! O senhor não teme a palavra de Deus? Deus castiga, viu?

FILÓSOFO:_Por quê? Porque estamos buscando a verdade? Se Deus castiga, ele terá muito trabalho para condenar tantos religiosos e políticos que ganham dinheiro explorando pessoas humildes com falsas promessas. Sem contar as guerras santas feitas em nome do amor divino, certo? Não se preocupe com isso agora. Precisamos saber algumas regras para escolher os nossos representantes.

CANDIDATO A CIDADÃO:_Tudo bem...Termina hoje ainda? Queria assistir à novela das 9h.


FILÓSOFO:_Sim, não vamos demorar. Não há como prever o comportamento humano. Como vimos, o passado não determina necessariamente os nossos atos no futuro, e quando se trata do poder político, então, a situação é imprevisível. Todavia, não temos muitas escolhas. Numa "democracia" temos direitos e deveres. Se, como você disse antes, não está escrito na testa de uma pessoa ou político, a palavra "honestidade", logo só podemos contar com os atos do passado do político. Não há outra alternativa. É importante saber a vida pregressa do candidato (a). Ter um passado "limpo", tanto do ponto de vista ético, quanto do ponto de vista jurídico. Como tal candidato(a) aborda o cidadão para pedir votos. A meu ver, um "bom candidato diz exatamente quais são as funções do cargo que ele deseja ser eleito. Por exemplo, o candidato a vereador (Legislativo) não é candidato ao Executivo. Como pode , então, fazer promessas que são da alçada do prefeito? Um vereador não faz obras e nem tem a obrigação de fazer "serviço social". Um vereador deve legislar ( fazer leis); fiscalizar os atos do prefeito ( Executivo); denunciar possíveis irregularidades na administração pública; fazer emendas ao orçamento municipal, ou seja, pode tentar negociar uma verba para fazer obras em uma determinada região, por exemplo; e pode ainda fazer parte da oposição ou participar da base de apoio do prefeito, e ser um canal de comunicação entre o prefeito e o povo. É pouco? Pelo contrário, é muita coisa.

CANDIDATO A CIDADÃO:_O que o senhor disse é muito importante, sem dúvida, mas ainda não disse como identificar um bom candidato...

FILÓSOFO:_Eu já disse sobre o passado do candidato. É muito importante procurar se informar a esse respeito. Contudo, há informações que não podem faltar. Por exemplo: o candidato solicita o seu título de eleitor para anotar? Se faz isso, então é bom desconfiar. Isto é ilegal e também uma tentativa de controlar o voto do eleitor. Um "bom" candidato não faz promessas absurdas e levianas, não doa cestas básicas, dentaduras, cimento, tijolos, e outros favores. Não promete empregos. Isto não é da alçada de um candidato. E torna a eleição profundamente desigual, pois o poder econômico é para os ricos. Evidentemente que para cada comprador de votos há um vendedor. E quem é o vendedor de votos? O próprio eleitor. Neste sentido, onde está a diferença entre comprador e vendedor de votos? A meu ver, não há distinção entre os dois: ambos são desonestos. Existe uma relação de cliente: comercial ou de favor. O político é o retrato da sociedade, afinal ele também faz parte dela, não é mesmo? E tal relação custa muito caro para o eleitor, porque esse dinheiro sairá de algum lugar. Que lugar? Fica aí uma sugestão para uma posterior reflexão. Pensar "dói" um pouco, mas liberta...

CANDIDATO A CIDADÃO:_É...Realmente, eleição para escolher os nossos representantes é uma coisa muita séria. Eu nunca tinha pensado em todas essas coisas...

FILÓSOFO:_Vamos fazer uma pequena digressão agora? Eu me lembro de cada palavra sua quando fiz uma pergunta sobre a loucura. Todavia, vou dizer o mínimo. É o filósofo realmente um louco como você disse? Quem parece não ter consciência, de não ser o responsável pelos próprios atos; de estar num estado de insconsciência, e que confunde o sonho com a realidade é, por acaso, o filósofo? A maioria das pessoas vive num estado de entorpecimento, de alienação, que chega a dar pena. E são essas criaturas que normalmente chamam o filósofo de louco. Quem é o verdadeiro louco? Podemos concluir, que é aquele que vegeta no mundo, que não apenas desrespeita o seu voto, mas que vende o maior tesouro que um ser pode ter: A SUA CONSCIÊNCIA! O que eu disse sobre o Legislativo, serve também para o Executivo. Isto não é uma conclusão, ao contrário, é o ponto de partida para um debate, uma discussão para todos os candidatos a cidadão. BOM VOTO nas próximas eleições!


TEXTO: Marco Aurélio Machado