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sábado, 3 de abril de 2010

ÉTICA OU FILOSOFIA MORAL

O ser humano, diferentemente dos animais, segue regras, princípios, valores e normas. Podemos definir, então, a moral como esse conjunto de valores que dão um norte à vida dos indivíduos em sociedade. Não há sociedade humana sem algum tipo de preceito que orienta a vida das pessoas.

Quando chamamos alguém de imoral, queremos dizer que, às vezes, a pessoa até acredita nos valores morais, mas, em algum momento, o transgride. Por exemplo, uma pessoa pode acreditar na fidelidade, mas se conhece alguém interessante e "trai" o seu companheiro(a), ela cometeu um ato imoral. Posso acreditar que roubar seja errado e pautar as minhas ações na honestidade, entretanto, por uma questão de vida ou morte, posso abrir mão da honestidade e matar a fome dos meus filhos, através de algum ato "condenável": furtar uma fruta ou qualquer outro alimento. Evidentemente, posso cometer atos leves ou pesados como o "chumbo". As perguntas são: a minha consciência me acusará? Eu terei paz? O que fiz foi justo? Veja que não estamos nos referindo às leis feitas pelos homens, ou seja, não se trata de uma questão jurídica. Como exemplo, podemos citar o salário de um político no Brasil. Pode até ser legal, mas será moral, num país onde a maioria do povo ganha salários miseráveis? Pois é...

O amoral é alguém que não tem nenhum compromisso com os valores morais. Não segue uma regra; não tem consciência moral; não sente culpa, remorso ou arrependimento. É capaz de enganar, manipular e até assassinar pessoas, para satisfazer desejos egoístas. São os chamados psicopatas e outros adjetivos pouco "nobres".

A ética, quase sempre, é confundida com a moral. A palavra ética vem do grego (ethos) e significa costumes. A palavra moral vem do latim ("mores", "morus") e tem o sentido de costumes também. A ética é a morada do homem. Ela nos tira do estado de natureza bruto e nos dar um verniz de cultura. Percebe-se que ambas têm raízes comuns. De um ponto de vista prático, podemos até usá-las com o mesmo significado, todavia, filosoficamente, a ética serve para designar a parte da Filosofia que faz uma reflexão teórica a respeito dos fundamentos da moral. Ela é também chamada de Filosofia moral. Ela busca refletir e teorizar sobre o que é o "certo e o errado"; o que é o "justo e injusto"; o que é "permitido e proibido". Em suma, busca os fundamentos sobre o conjunto das ações humanas. Assim, uma pessoa pode agir uma vida inteira moralmente, mas nunca agir eticamente. A ética pressupõe o questionamento sobre todos os nossos atos e procura dar-lhes um significado. O agir ético exige a autonomia do sujeito. Enquanto a moral é o agir de forma heterônoma, ou seja, os valores vêm de fora, pois são dados pela sociedade ou cultura em que vivemos, e não são questionados, a ética é autônoma, pois ao questionar, refletir e teorizar sobre os fundamentos da moral, agora eu mesmo posso aceitá-los ou rejeitá-los e, até mesmo, preconizar outras formas de pensar, sentir e agir, mas de forma consciente e livre.

Agir eticamente não é fácil. Exige coragem e disposição para enfrentar os obstáculos da moral constituída. Neste sentido, é a partir do constituído ( a moral ) que prescrevemos novos valores constituíntes. O indivíduo deve ser livre para agir eticamente. O fundamento não pode ser divino, porque senão a ética passa a ser um meio sobrenatural para resolver dilemas da consciência humana. Agir eticamente, é agir com a própria consciência e assumir a responsabilidade pelos próprios atos. O interessante é que o que hoje pode ser considerado imoral e antiético, amanhã poderá ser perfeitamente aceito como um valor ético. Com0 exemplo, podemos defender o direito de que todo padre poderia casar-se e constituir uma família. Talvez os escândalos de pedofilia diminuissem bastante. Seria quase que o apocalipse, entretanto, com o passar do tempo tornar-se-ia um fato banal. Daí o fundamento tão somente humano...

Eis um dos maiores dilemas humanos: o fardo de carregar a liberdade tal qual uma praga que nos assombra; liberdade de fazer escolhas o tempo todo. Os animais não se preocupam com isso, já são programados biologicamente; o homem, infelizmente ou felizmente, não sei, precisa escolher e assumir os seus atos. Como já dizia Caetano Veloso: "Cada um sabe a delícia e a dor de ser o que é".

Texto: Marco Aurélio Machado