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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

TEÍSMO AGNÓSTICO E ATEÍSMO AGNÓSTICO: UM CAMINHO PARA A TOLERÂNCIA RELIGIOSA?

 Há tantas nuances a respeito de crenças religiosas; o assunto é tão extenso, amplo, rico e também problemático e polêmico. Geralmente, apenas uma minoria conhece ou foi um pouco além do senso comum. Para citar algumas concepções de crenças e descrenças, temos: Panteísmo, Teísmo, Ateísmo forte e fraco, Agnosticismo,  Deísmo, Animismo, Ceticismo ( não nega nem afirma), Politeísmo,  entre outras. Não cabe neste texto uma pesquisa exaustiva, esta deixo para quem tiver curiosidade, portanto, se desejar saber mais, na era da internet o que não falta é informação. Ficarei, mesmo que de uma forma superficial, com o título deste texto: Teísmo Agnóstico e Ateísmo agnóstico: um caminho para a tolerância religiosa?

Concordando com Lukács, talvez o maior filósofo marxista do século XX, o trabalho é a categoria ontológica, fundante do ser social. Ele escreveu uma vasta obra sobre a ontologia do ser social, baseada, principalmente, na obra de Karl Marx, O Capital. As outras categorias,  como, por exemplo, valores, mitologia, religião, costumes são derivadas.

E nada disso aconteceria se não fosse as vicissitudes da luta do homem com a natureza por meio da práxis. A relação dialética, transformadora da natureza e do próprio homem, para a satisfação das suas necessidades materiais. E, a longa trajetória humana, para  a sobrevivência da  espécie, é histórica. Parece óbvio, não é? Mas não foi bem assim. Hegel, e depois, Marx, num outro patamar, desvelaram o "óbvio". 

Fiz tal regressão, para tentar argumentar que a mitologia e a religião tiveram uma grande importância nos primórdios da epopeia humana, mas elas são derivadas daquela função ontológica, fundante, ou seja, o trabalho. Elas foram as primeiras abordagens dos seres humanos diante de uma realidade hostil e amedrontadora. O homem precisava dar um sentido, um significado à vida, daí a invenção, não consciente, claro, dos mitos e das religiões,  mas que nos acompanham ainda nos dias de hoje. 

Espero que os leitores compreendam o quão fundamental é ir à raiz dos acontecimentos para que possamos demonstrar que somos o outro nome da História, do tempo, dos diversos modos de produção e das diferentes organizações sociais e culturais. Em outras palavras, somos produtos da História e do que fizemos com ela desde a mais tenra aurora da Humanidade. Agora, sim, podemos retornar ao assunto principal do objetivo deste texto.

Se queremos paz no mundo, serão as religiões os faróis que iluminarão a humanidade? Talvez a solução esteja num outro lugar. Enquanto existir a exploração do homem pelo homem, a meu ver, não haverá paz. E as religiões fazem parte deste conflito. Todas querem ter os seus deuses e dizem, categoricamente, que estão com a verdade;  querem ser advogados(as) dos diversos deuses "existentes" no mundo; são intérpretes do divino, numa guerra sem fim...Enquanto olhamos para o céu, os donos do planeta têm orgasmos múltiplos...

Penso que os nossos principais problemas são de outro nível, mas seria bom demais se todos fôssemos ou teístas agnósticos ou ateístas agnósticos. Os primeiros, seriam mais tolerantes, porque poderiam acreditar em Deus, terem a sua fé, portanto, teístas, mas não saberem, se de fato,  existe um Deus, daí serem  agnósticos também. O lema para os teístas agnósticos seria: "tenho fé em Deus, mas devido às limitações da mente humana, não sei se existe de fato". Por outro lado, os ateístas agnósticos seriam mais tolerantes, afinal, poderiam ter a descrença em Deus, por isso, ateístas, mas não terem certeza, se de fato, ele existe, daí serem agnósticos também. O lema dos ateístas agnósticos seria: "não acredito em Deus, mas não sei se existe, afinal, enquanto ser humano, sou racional,  mas a razão tem os seus limites".

Seria uma forma de tolerância...Penso que estava sonhando...


TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO


domingo, 30 de maio de 2021

DÚVIDAS SOBRE A LIBERDADE ABSOLUTA E ANGÚSTIA EM SARTRE

 Tenho uma certa simpatia pelo filósofo francês, do século XX, nascido em 1905 e falecido em 1980,  Jean Paul Sartre; na opinião de muitos, o maior filósofo francês de todos os tempos. Talvez, seja verdade, mas, que foi o mais famoso não tenho dúvida. Para variar, só para alertar, não faço consultas para escrever os textos deste blog, Cismo que vou escrever e escrevo. O meu objetivo não é o de fazer um trabalho acadêmico, mas provocar polêmicas e estimular o pensamento crítico entre quem gosta de Filosofia, em geral, e do Existencialismo,  em particular. Nunca, jamais tenho a intenção de esgotar o assunto que vou abordar de forma superficial, mas desde as minhas primeiras leituras de Sartre, algumas entrevistas de especialistas, entre outras, que me faço algumas perguntas sobre alguns conceitos do grande filósofo francês. Diga-se de passagem, que Sartre não foi apenas um filósofo, mas também romancista, teatrólogo, entre outros predicados. Além de não ser um filósofo que apenas teorizava, pois o engajamento político sempre fez parte das suas lutas pela pela liberdade dos povos.  Era uma enciclopédia ambulante...

Esclarecido, espero, o parágrafo supracitado, farei um recorte a respeito de dois conceitos caros ao filósofo francês: liberdade absoluta e angústia. Não quero um ponto final, desejo interrogações. É uma tradição na Filosofia a pergunta se o homem é livre ou determinado. Inclusive, se algum leitor pesquisar este blog, encontrará tal tema entre os meus textos. Sartre, ao contrário de muitos filósofos, quiçá à maioria, preconiza uma liberdade absoluta. Será? 

Se compreendermos por liberdade absoluta, ações em que o homem pode fazer tudo, sem freios, regras, leis, normas, obstáculos e interditos, penso ser impossível tal liberdade. Todavia,  Sartre defende uma liberdade absoluta, no entanto, com a responsabilidade do indivíduo que comete a ação. Há um fardo, consequências que a pessoa tem que assumir. Tendo a concordar com isso, entretanto, vamos tentar nos aprofundar mais um pouco...

Sartre pensa assim, porque ele é ateu, ou seja, não há, para ele, um ser superior que tenha a mais ínfima responsabilidade conosco; já nascemos no mundo e não escolhemos uma determinada família, País, sociedade, classe social, etc., No entanto, todas as outras situações são um problema de cada indivíduo, afinal, ele tem a liberdade absoluta para fazer as suas escolhas e ações e se responsabilizar por elas. Uma das frases mais famosas de Sartre é esta: "Estamos condenados a ser livres"! Condenado e livre? Como conciliar tal contradição? Para ele, condenados, porque não pedimos para nascer e livres, porque não há desculpas, temos a liberdade para agir e não há consolo divino. Somos os responsáveis por tudo o que fazemos ou deixamos de fazer. (Ele cita frases interessantes sobre isso, mas foge ao objetivo deste texto.)

Eu poderia escrever a respeito de vários outros conceitos de Sartre, entre muitos, os de SER-PARA-SI e SER-EM-SI; fenomenologia e intencionalidade, essência e existência, mas já há um texto enorme sobre esses temas que escrevi há alguns anos. 

Vou dar alguns exemplos para ficar mais claro a questão da liberdade em Sartre e, a partir daí, fazer um contraponto com o conceito de angústia. Sartre inverteu a ideia de essência e existência. Na Filosofia tradicional e, até hoje, referimo-nos muito a chamada essência, uma espécie de potencialidade, que em tese, nasce, é fundamental ao homem. Quem nunca ouviu estas frases: ele tem muito potencial; é preciso desenvolver todas as potencialidades dos nossos discentes. Ora, Sartre pensa diferente. Para ele não há essência nenhuma no homem, ou seja, "a existência precede a essência", primeiro existimos no mundo, escolhemos, agimos, fazemos e assim a essência não está em potencial no homem, ele a constrói pela ação, pela liberdade. Sartre, dizia: "O homem é aquilo que ele faz". 

Uma outra coisa importante é que a consciência não é uma substância, não existe um conjunto de emoções, traumas, uma caixa com todos os problemas humanos dentro do cérebro ou da consciência do homem. A consciência é intencional, ela vai sempre em direção ao mundo e a partir disso, dá significado ao mundo e às ações humanas. Em outras palavras, ela é um NADA. Se é nada, logo, tem uma liberdade absoluta. Lembre-se: LIBERDADE para escolher, de tentar mudar algo, de se responsabilizar pelos próprios atos, mas não é livre para escapar dos efeitos e das consequências.

Escrevi tudo isso, para questionar como Sartre pode conciliar esta tal liberdade absoluta com a angústia. Sim, porque quem realmente escolhe é considerado alguém que tem uma vida autêntica, livre e responsável; quem finge escolher, vive no  que ele chama de má-fé. O problema maior, a meu ver, é este: como conciliar a liberdade absoluta com a angústia? Se a angústia é ontológica, ou seja, faz parte do homem, ela não seria uma espécie de essência? Mas ele nega isso!! De onde vem a angústia, se ela não é biológica? Afinal, se a consciência é NADA, SER-PARA-SI, por que ela não pode escapar da angústia? A angústia não seria uma escolha também? Se não o é, podemos falar em liberdade absoluta? Se faz parte do ser que não pode escolher tê-la, como defender a liberdade? Não haveria um fundamento ontológico, um determinismo? Sartre caiu em contradição? Não tenho certeza, mas se for para levar Sartre a sério, ele teria que preconizar que a própria angústia é uma escolha...Por que escolher a angústia, se a liberdade é absoluta? E ela é absoluta, porque a consciência não é uma substância, ela vai em direção ao mundo,  ao SER-EM-SI, ou seja, ela está fora. Como articular consciência e o corpo físico se,  em tese, ela não está no cérebro? De que forma, uma consciência pode ter angústia sem que o corpo físico não a sinta? 


TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO