Epicuro de Samos é da época helenística: nasceu, como o nome já diz, em Samos, na Grécia, em 341 a.C e faleceu em 270 a.C, em Atenas, na Grécia. Como não faço consultas, vou me ater apenas à ética epicurista, mesmo assim de forma bem sucinta. Por outro lado, tentarei fazer uma "comparação" anacrônica, pois quando refiro-me à ética de Cuba, o contexto histórico são os séculos XX e XXI.
A meu ver, há uma relação de semelhança entre os ensinamentos éticos de Epicuro, também conhecido como "o filósofo do Jardim", e a ética "capitalista de Estado cubano", que muitos confundem com o socialismo. Farei um recorte dessa ética, afinal existe uma diferença cultural e temporal de mais de dois milênios.
Todavia, como ver relação de semelhança entre a doutrina ética de Epicuro e o Estado cubano? Vejamos, uma doutrina ética do epicurismo muito simples, mas de profunda sabedoria. Epicuro preconizava que há 1)"coisas naturais e necessárias"; 2)"coisas naturais, mas não necessárias" , e a última, talvez a mais importante nos tempos atuais: 3) aquelas que não são "nem naturais nem necessárias". O que há de comum entre a doutrina ética epicurista e à cubana?
Basta refletir um pouco. Tanto Epicuro quanto o Estado cubano são adeptos do primeiro comportamento ético, lembrando, como se pode perceber acima, que ele citou três formas: uma que é essencial, fundamental para uma vida digna, e as outras duas podem ser descartadas, principalmente, a última, esta que é atual no "sistema capitalista de mercado globalizado" Por quê?
Para uma melhor compreensão, darei alguns exemplos, não necessariamente iguais aos de Epicuro, pois pretendo fazer uma "atualização" para a nossa época. A primeira, diz respeito às "coisas naturais e necessárias": dormir, beber, comer, ter um teto, saúde, amigos(as), prazeres moderados, em outras palavras, ser feliz com uma vida simples, mas digna. A segunda, refere-se às mesmas coisas da primeira, são necessidade naturais, mas, ao contrário da primeira, não necessárias: dormir é algo vital, natural, mas não é necessário que seja numa cama luxuosa; beber e comer são naturais, mas não há necessidade que sejam bebidas caras e refinadas, o mesmo serve para a comida. Nada de luxo e banquetes, com alimentos que serviriam para os "deuses". Ter um teto é natural, mas não precisa ser um palacete de mármore. Amigos, sim, contudo, não é prudente querer ter apenas amigos ricos e poderosos. Quanto aos prazeres, a mesma coisa: nada em excesso. A última, está relacionada àquilo que não é nem natural nem necessário: o poder, todos os poderes, a fama a qualquer custo, a riqueza sem limite, a glória, a busca de prazeres, ou seja, o hedonismo, onde o céu é o limite. E onde o Estado cubano entra nisso?
O Estado cubano está fundamentado no primeiro ensinamento da ética de Epicuro: "o que é natural e necessário". Com todos os problemas enfrentados por Cuba, todos comem, bebem, têm um teto, amigos(as) que procuram cooperar entre si, educação e saúde simples, mas da melhor qualidade, e todos estudam; não há crianças fora da escola. Muitos podem dizer que a situação de Cuba é assim, porque o socialismo não deu certo, que eles sonham com muito mais. Será? Cuba está, desde 1959, sob fortes sanções econômicas e políticas. E Cuba não pode transformar-se num País socialista, pois este depende de solidariedade, cooperação e ajuda recíproca de outros Estados socialistas. Ou seja, só é possível um socialismo, de fato, se existisse o mesmo regime de produção em todo ou em quase todos do planeta. O capitalismo está presente em nível global, mas entregou as promessas de felicidade e prosperidade a todas as pessoas, ou ao menos, uma certa dignidade? Não, muito antes pelo contrário.
Cuba não é o paraíso, mas está longe de ser o inferno. Melhor: ela cumpre a ética epicurista de coisas naturais e necessárias. Imagine, se todo ser humano vivesse uma vida simples, mas que tivesse o mínimo para ser chamado de ser humano, no sentido mais nobre da palavra?
Evidentemente, a minha reflexão teve como objetivo fazer uma comparação apenas "ética". Não levei em consideração questões políticas nem econômicas. Epicuro procurava sossego, felicidade e ataraxia, fugia da situação política da época, num contexto "local"; a ética cubana é uma política de Estado, possível e pautada em outros valores, que devem ser comparados ao capitalismo neoliberal contemporâneo e planetário. Este busca muito dinheiro, riquezas, fama, poderes, luxos descartáveis, o hedonismo exacerbado, ideologia, alienação e exploração.
Um sistema, uma sociedade globalizada, que destrói o próprio habitat, por causa da busca ambiciosa, gananciosa e egoísta, de coisas que não são nem naturais nem necessárias, não terá sossego, tranquilidade, serenidade, segurança. Ter um teto ( o planeta Terra) é algo natural e necessário. Quando alguém "destrói" a sua moradia (casa) para fazer uma reforma, a intenção é melhorá-la. Quando destruímos o planeta, existe a possibilidade de ser para melhor? Resultado: ansiedade, depressão, insegurança, vazio existencial, ignorância, entre outras situações degradantes. Mesmo sabendo disso, quantos abrem mão do atual modo de vida? Jamais poderíamos condenar um suicida, afinal, estamos fazendo a mesma coisa, só que num nível global e sem volta. Infelizmente...
Evidentemente, a minha reflexão teve como objetivo fazer uma comparação apenas "ética". Não levei em consideração questões políticas nem econômicas. Epicuro procurava sossego, felicidade e ataraxia, fugia da situação política da época, num contexto "local"; a ética cubana é uma política de Estado, possível e pautada em outros valores, que devem ser comparados ao capitalismo neoliberal contemporâneo e planetário. Este busca muito dinheiro, riquezas, fama, poderes, luxos descartáveis, o hedonismo exacerbado, ideologia, alienação e exploração.
Um sistema, uma sociedade globalizada, que destrói o próprio habitat, por causa da busca ambiciosa, gananciosa e egoísta, de coisas que não são nem naturais nem necessárias, não terá sossego, tranquilidade, serenidade, segurança. Ter um teto ( o planeta Terra) é algo natural e necessário. Quando alguém "destrói" a sua moradia (casa) para fazer uma reforma, a intenção é melhorá-la. Quando destruímos o planeta, existe a possibilidade de ser para melhor? Resultado: ansiedade, depressão, insegurança, vazio existencial, ignorância, entre outras situações degradantes. Mesmo sabendo disso, quantos abrem mão do atual modo de vida? Jamais poderíamos condenar um suicida, afinal, estamos fazendo a mesma coisa, só que num nível global e sem volta. Infelizmente...
Texto: Marco Aurélio Machado