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sábado, 16 de novembro de 2019

O MITO SOBRE AS ESCOLAS SEM PARTIDO!!


Estamos diante de mais uma aberração dos poderes políticos e econômicos para tentar nos impor uma ideologia supostamente boa e imparcial mas, que na verdade, oculta um plano diabólico de dominação em todas as áreas das diversas ocupações e relacionamentos humanos. Nenhuma novidade, afinal os seres humanos sempre estiveram perdidos e dependeram, dependem e, provavelmente, dependerão de soluções por parte dos poderosos nas várias dimensões da realidade.

Para que tal reflexão seja possível, precisamos da ajuda de uma chave, não da solução de todos os problemas, mas a condição fundamental, essencial, para problematizarmos e trazer à tona os interesses escusos e maquiavélicos daqueles que querem tornar mais fácil a dominação: o ponto de interrogação (?). Ledo engano de quem pensa que tal ideologia, rasa e superficial, não parece, à primeira vista, algo de muito positivo. Em outras palavras, um método que, em tese, seria imparcial, justo, sem influência de pessoas ou de grupos!! Alguém acredita que seja possível uma escola sem partido? Seria possível essa verdadeira revolução nas sociedades humanas? Façamos algumas perguntas...

Propor uma escola sem partido já não é tomar partido? Esqueçamos, por enquanto, a escola formal, pois esta apareceu muito tempo depois da existência das primeiras comunidades primitivas. "A educação"está disseminada desde os primórdios. O que são, por exemplo, os rituais, os ritos de passagens, as crenças, os valores, enfim, a cultura de um povo? É a educação, evidentemente, baseada na tradição, ou seja, era passada por meio da via oral, não havia escrita à época.

Nos dias de hoje, a educação existe nas escolas formais, mas também acontece em todas as instituições sociais: na família, na igreja, no trabalho, na comunidade, na arte, e em todos os demais relacionamentos humanos. O ser humano não nasce educado instintivamente, ele não é como os animais. Estes são regidos pelos instintos, "já sabem o que fazer, aqueles têm que aprender, ou seja, precisam interagir com a natureza e os diversos grupos sociais para se tornar humano. Para relembrar o grande filósofo grego, Aristóteles, quando ele se refere aos conceitos de "potência e ato."Não vou entrar em detalhes, porque o Existencialismo, corrente filosófica de meados do século XX, principalmente, com Sartre, inverte tais conceitos aristotélicos: para Sartre, "a existência precede a essência". Há controvérsias, aliás, como tudo na Filosofia...

A pergunta que joga por terra toda essa argumentação fajuta de escola sem partido, que, todavia, toma partido para impor a mordaça e o pensamento crítico aos cidadãos, mas que preconiza a imparcialidade no ambiente escolar formal, é uma falácia: se a educação não é privilégio da educação formal, pelo contrário, acontece em todas as demais instituições e, talvez, a mais importante seja a família, como pregar uma uma educação sem partido? Ou não há partidos,(opiniões) formas de ver o mundo, valores morais, éticos, religiosos, econômicos e políticos que começam na família?

Que cidadão, em qualquer parte do mundo, foi respeitado sem ter sido moldado e "enquadrado" em alguma forma de "educação"? Há a mesma educação religiosa nas várias igrejas existentes no mundo? Falamos a mesma língua em todos os lugares? Os economistas defendem apenas uma teoria econômica válida para todos? Os valores capitalistas não são partidários, ou seja, não têm interesses? Eles são ou não impostos, inclusive, dentro das escolas formais? Se nem as ciências naturais são imparciais, porque há divergências entre os métodos, critérios, técnicas, como defender uma escola sem partido? Só de algumas pessoas defenderem isso, por acaso, já estão tomando partido: "O partido da escola sem partido". Isto é possível? As forças amadas não têm partido? Partidos, não como agremiação política, mas influenciada por eles, pelas doutrinas econômicas, pelos valores e práticas consideradas corretas? A interpretação de textos políticos, econômicos, filosóficos, sociológicos, históricos e jornalísticos não são partidários, ou seja, não há um pré-conceito e um preconceito entre outras possibilidades e alternativas?

A quem interessa, por exemplo, que disciplinas como Filosofia e Sociologia sejam desvalorizadas por governos de direita e de extrema-direita? Odeiam o pensamento crítico, porque o questionamento é o fundamento do respeito e das mudanças. Temos que acabar com essa ideologia furada, de que há imparcialidade total em termos de questões humanas, porque isso é mais um mito, no sentido de mentira.

Se nem as ciências naturais conseguem ser imparciais, porque elas não conseguem ser um reflexo objetivo da realidade, caso contrário, não teríamos teorias deferentes para explicar os mesmos fatos. Em última análise, quem tem a última palavra nas chamadas teorias científicas? Não há partido, poder político e econômico nas conclusões finais das ciências?

A proposta de escola sem partido é ridícula. É mais uma ideologia dos partidários do Neoliberalismo e daqueles que querem nos impor crenças sociais como se fossem um carimbo divino ou natural. Aqueles que querem nos impor tal ideologia, são os que mais se aproveitam do partido, da escola sem partido. Tenho dito!!

TEXTO: Marco Aurélio Machado




quarta-feira, 3 de abril de 2019

A ÉTICA DE EPICURO E A ÉTICA ESTATAL CUBANA

Epicuro de Samos é da época helenística: nasceu, como o nome já diz, em Samos, na Grécia, em 341 a.C e faleceu em 270 a.C, em Atenas, na Grécia. Como não faço consultas, vou me ater apenas à ética epicurista, mesmo assim de forma bem sucinta. Por outro lado, tentarei fazer uma "comparação" anacrônica,  pois quando refiro-me à ética de Cuba, o contexto histórico são os séculos XX e XXI.

A meu ver, há uma relação de semelhança entre os ensinamentos éticos de Epicuro, também conhecido como "o filósofo do Jardim", e a ética "capitalista de Estado cubano", que muitos confundem com o socialismo. Farei um recorte dessa ética, afinal existe uma diferença cultural e temporal de mais de dois milênios.

Todavia, como ver relação de semelhança entre a doutrina ética de Epicuro e o Estado cubano? Vejamos, uma doutrina ética do epicurismo muito simples, mas de profunda sabedoria. Epicuro preconizava que há 1)"coisas naturais e necessárias"; 2)"coisas naturais, mas não necessárias" , e a última, talvez a mais importante nos tempos atuais: 3) aquelas que não são "nem naturais nem  necessárias". O que há de comum entre a doutrina ética epicurista e à cubana?

Basta refletir um pouco. Tanto Epicuro quanto o Estado cubano são adeptos do primeiro comportamento ético, lembrando, como se pode perceber acima, que ele citou três formas: uma que é essencial, fundamental para uma vida digna, e as outras duas podem ser descartadas, principalmente, a última, esta que é atual no "sistema capitalista de mercado globalizado" Por quê?

Para uma melhor compreensão, darei alguns exemplos, não necessariamente iguais aos de Epicuro, pois pretendo fazer uma "atualização" para a nossa época. A primeira, diz respeito às "coisas naturais e necessárias": dormir, beber, comer, ter um teto, saúde, amigos(as), prazeres moderados, em outras palavras, ser feliz com uma vida simples, mas digna. A segunda, refere-se às mesmas coisas da primeira, são necessidade naturais, mas, ao contrário da primeira, não necessárias: dormir é algo vital, natural, mas não é necessário que seja numa cama luxuosa; beber e comer são naturais, mas não há necessidade que sejam  bebidas caras e refinadas, o mesmo serve para a comida. Nada de luxo e banquetes, com alimentos que serviriam para os "deuses". Ter um teto é natural, mas não precisa ser um palacete de mármore. Amigos, sim, contudo, não é prudente querer ter apenas amigos ricos e poderosos. Quanto aos prazeres,  a mesma coisa: nada em excesso. A última, está relacionada àquilo que não é nem natural nem necessário: o poder, todos os poderes, a fama a qualquer custo, a riqueza sem limite, a glória, a busca de prazeres, ou seja, o hedonismo, onde o céu é o limite. E onde o Estado cubano entra nisso?

O Estado cubano está fundamentado no primeiro ensinamento da ética de Epicuro: "o que é natural e necessário". Com todos os problemas enfrentados por Cuba, todos comem, bebem, têm um teto, amigos(as) que procuram cooperar entre si, educação e saúde simples, mas da melhor qualidade, e todos estudam; não há crianças fora da escola. Muitos podem dizer que a situação de Cuba é assim, porque o socialismo não deu certo, que eles sonham com muito mais. Será? Cuba está, desde 1959, sob fortes sanções econômicas e políticas. E Cuba não pode transformar-se num País socialista, pois este depende de solidariedade, cooperação e ajuda recíproca de outros Estados socialistas. Ou seja, só é possível um socialismo, de fato, se existisse o mesmo regime de produção em todo ou em quase todos do planeta. O capitalismo está presente em nível global, mas entregou as promessas de felicidade e prosperidade a todas as pessoas, ou ao menos, uma certa dignidade? Não, muito antes pelo contrário. 

Cuba não é o paraíso, mas está longe de ser o inferno. Melhor: ela cumpre a ética epicurista de coisas  naturais e necessárias. Imagine, se todo ser humano vivesse uma vida simples, mas que tivesse o mínimo para ser chamado de ser humano, no sentido mais nobre da palavra?

Evidentemente, a minha reflexão teve como objetivo fazer uma comparação apenas "ética". Não levei em consideração questões políticas nem econômicas. Epicuro procurava sossego, felicidade e ataraxia, fugia da situação política da época, num contexto "local"; a ética cubana é uma política de Estado, possível e pautada em outros valores, que devem ser comparados ao capitalismo neoliberal contemporâneo e planetário. Este busca muito dinheiro, riquezas, fama, poderes,  luxos descartáveis, o hedonismo exacerbado, ideologia,  alienação e exploração. 

Um sistema, uma sociedade globalizada, que destrói o próprio habitat, por causa da busca ambiciosa, gananciosa e egoísta, de coisas que não são nem naturais nem necessárias, não terá sossego, tranquilidade, serenidade, segurança. Ter um teto ( o planeta Terra) é algo natural e necessário. Quando alguém "destrói" a sua moradia (casa) para fazer uma reforma, a intenção é melhorá-la. Quando destruímos o planeta, existe a possibilidade de ser para melhor? Resultado: ansiedade, depressão, insegurança, vazio existencial, ignorância, entre outras situações degradantes. Mesmo sabendo disso, quantos abrem mão do atual modo de vida? Jamais poderíamos condenar um suicida, afinal,  estamos fazendo a mesma coisa, só que num nível global e sem volta. Infelizmente...

Texto: Marco Aurélio Machado