Observo, atento, há anos, um processo ideológico ocorrendo na educação por parte dos "pensadores da educação", os chamados especialistas. Confesso que quando ouço dizer que alguém é especialista numa determinada área, procuro observar com "olhos de lince" tais afirmativas. Nada contra o especialista em si, mas a carga ideológica implícita no conceito...
Parece-me também que ao chamar alguém de especialista, não nos damos conta da "falácia da autoridade", ou seja, passa-se a impressão "inocente"de que o especialista aprofundou-se tanto em uma área do conhecimento humano que os "leigos" devem estudá-lo, ouvi-lo, prestar atenção e reproduzir o discurso sem uma análise crítica ampla. Desconfio sempre do que não aparece como poder num primeiro momento, mas em nome de uma suposta "especialização," em vez de termos estudos sérios, tenhamos uma "autoridade" sobre o assunto. Assim, trocamos estudos científicos aprofundados, baseados na experiência, e generalizamos a ideologia de um determinado grupo como se fosse uma verdade inquestionável, porque a falácia da autoridade passa a ser a verdade. Quem nunca ouviu neste país? "Sabe com quem você está falando"?
Evidentemente, que não faço neste texto uma crítica generalizada sobre a especialização em si, mesmo porque em muitos aspectos ela é essencial. Questiono, sim, uma ideologia que se passa por ciência, cujo objetivo é ocultar e não desvelar, interesses econômicos, sociais, políticos e culturais como se fossem tabus, afinal, são teorias de especialistas na área, uma autoridade!
Diante do supracitado, tenho observado vários colegas de profissão que têm muito orgulho de dizer que são educadores. Participam de vários cursos, leem os grandes "filósofos da educação", encantam-se com as belas palavras encadeadas através de deduções lógicas impecáveis, mas quase sempre não se dão conta que a ideologia violentou a ciência. Principalmente, quando esses "especialistas" estão a serviço de algum governo que se preocupa mais com a quantidade do que com a qualidade do ensino.
Penso que é necessário tomar muito cuidado e não confundirmos a figura do professor com a de educador. Por quê? Porque o professor ensina, leciona, tem um compromisso de preparar aulas, corrigir provas, avaliações, testes, trabalhos, exercícios e demais rotinas da profissão. O educador, não, pois além de tudo o que foi mencionado acima, torna-se uma espécie de pai, mãe, irmão, babá, psicólogo, amigo, disciplinador, referência, enfim, uma espécie de ser mitológico supra-humano. E se o "educador" não fizer isso, a culpa é dele, e não do sistema educacional, ou seja, o "educador" é o bode expiatório ideológico para as mazelas da educação. E quem prepara a "teoria"? O especialista!!
De minha parte, prefiro dizer que sou um professor e um "educador complementar". Afinal, a educação informal, básica deve vir da família. O problema é que a família também está situada no contexto do capitalismo; é mais uma peça desta imensa engrenagem. Contudo, apesar das dificuldades, valores, princípios, regras, normas e virtudes devem começar no seio familiar. Como pode um jovem chegar à escola como se nunca tivesse ouvido um "não" na sua curta existência?
O discurso do talento, do dom, da profissão "nobre", da missão divina já está ultrapassado. O profissional da educação não é uma máquina de ferro e nem é filósofo estóico, para fazer um papel que ultrapassa a sua capacidade de ser um ser humano como outro qualquer. Portanto, reflitam sobre este assunto e procurem perceber que o conceito de "educador" é de uma responsabilidade enorme, tão grande que pouquíssimos profissionais têm conseguido carregar sem adoecer...Quem está numa sala de aula sabe disso na prática, afinal, apenas palavras bonitas não mudam a realidade nas suas várias dimensões...
TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO