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MAPA DOS VISITANTES DESDE O DIA 29/11/2009

terça-feira, 24 de outubro de 2017

CETICISMO POLÍTICO E OUTROS...

Felizmente ou infelizmente, ao contrário de outras épocas, tenho tido bastante tempo. A "alienação" que o trabalho provoca e que não nos permite refletir muito, talvez seja necessária: "distraímos-nos", além de ser uma forma de não mergulhamos nas questões que deveriam nos interessar...

Tenho vivido, ultimamente, como se estivesse no Helenismo, quando o apogeu da cultura grega deu lugar à invasão macedônica, e toda aquela atmosfera cultural anterior entrou em profunda crise. Logo, surgiram escolas filosóficas gregas que se isolaram e passaram a ter preocupações, principalmente, éticas, visto que com a balbúrdia política da época de dominação, por outros povos, era preciso arrumar um meio de buscar a serenidade, a tranquilidade, a felicidade, e uma vida simples. E a política, com certeza, não é o lugar "ideal" para se encontrar a tranquilidade, muito antes pelo contrário...

Algumas escolas filosóficas, tais como o Cinismo, o Estoicismo e o Epicurismo foram as mais importantes. Vou me ater ao Epicurismo, mas sem a intenção de aprofundar o assunto. Cito-o mais para fazer uma analogia, mesmo que anacrônica, com a situação que me encontro atualmente...

Diante do dilema que a Humanidade, em geral, e o Brasil, em particular, vivem,  o meu "retiro" não é o "Jardim Epicurista", local onde Epicuro vivia em paz com os seus amigos e amigas, filosofando sobre a melhor maneira de obtenção da ataraxia ( tranquilidade da "alma"). O meu "jardim" é de puro concreto e numa zona urbana...

Ao contrário de Epicuro, com a sua Filosofia dogmática, o que tem acontecido comigo é um ceticismo generalizado, mormente, na questão política, social e econômica, tanto no que tange à situação caótica do mundo quanto a total desesperança no Brasil, nos seus políticos, empresários, trabalhadores e o povo. Tenho procurado suspender o juízo, como faziam os céticos antigos, todavia, com todas as limitações do nosso tempo histórico. 

Já não creio em mais nada; nada faz mais sentido para mim. Vivo mergulhado em leituras, reflexões, não para que aconteça alguma transformação na minha vontade, mas, sobretudo, para que eu continue chegando à conclusão de a causa humana já está perdida. As mentiras, as ilusões, estão em toda parte; só me resta a epoché ( suspender o juízo dentro do possível) e esvaziar a minha mente, de tanto lixo acumulado, durante décadas, e que um dia acreditei que pudesse contribuir com alguma mudança...Mera ilusão. A única pessoa que posso mudar sou eu mesmo. E ela consiste no vazio absoluto. A paz está no vazio...

TEXTO: Marco Aurélio Machado

sábado, 29 de abril de 2017

LIBERDADE E DETERMINISMO!!!

O animal "irracional" é determinado. Nasce com instintos, já é "programado," aleatoriamente, pela natureza para fazer o que nasce sabendo. O animal não tem moral, ética ou amoralidade. Afirmar, como muitos por aí, que o animal é malvado, é, no mínimo,  ignorância. A "natureza" do animal é ser o que é e não outra coisa. Ele não faz escolhas...

O homem, que se julga superior aos animais, na verdade,  foi "amaldiçoado" pela mãe natureza, pois não é apenas natureza e também não é só um ser cultural. Ele é e não é cultura e natureza. É um ser determinado e livre; racional e irracional; bondoso e maldoso; ético e antiético; generoso e mesquinho; capaz de amar e de odiar. Competente para construir e destruir coisas belas...

O homem é o único ser que nasce como uma "tábula rasa," como dizia o filósofo inglês, empirista, John Locke. Uma vez nascido neste mundo, necessita de cuidados por parte de outros humanos: não sabe andar, falar, pedir; nasce sem crenças, portanto, é ateu (ausência de crenças); não conhece o bem e o mal, logo não tem moral ou ética. Numa palavra: é um animal irracional inferior aos outros animais, afinal é totalmente dependente. O homem, quando bebê, compartilha de alguns instintos naturais com outros mamíferos: ninguém ensina um bebê a mamar. Há outros, o choro, talvez, seja o mais importante...

Desconfio que o maior problema humano na atualidade ( começou bem antes ) seja a arrogância de pensar que não é um animal inferior e o distanciamento da natureza. Exceto pequenas comunidades tribais isoladas, que têm uma relação de respeito com o mundo natural, porque não foram "contaminadas" pela maneira "civilizada" de pensar, sentir e agir da nossa sociedade "sofisticada".  Há um grande dilema da "espécie humana". Esta quis transcender uma parte da essência que lhe é imanente. Como fugir do próprio corpo? O corpo é natureza, ora!! Como viver só como corpo? O homem não é só corpo, ora!! Ele é também cultura; é capaz de fazer escolhas... Como viver só como corpo? Impossível,  pois como viver em sociedade, agindo apenas com os instintos naturais?  

O equilíbrio se perdeu e penso que é muito tarde...As religiões preconizam uma vida como se o homem não tivesse um corpo e, por consequência, desejos naturais. O capitalismo, consumista, por essência, preocupa-se só com o lucro, a glória, a fama e o hedonismo sem limites. A palavra de ordem é: prazer! Nada de moderação,  porque a produção e o consumo não podem parar.

Alguns homens estão descobrindo o seguinte: éramos natureza e cultura; agora não somos nem uma coisa nem outra. Estamos em estado de derrelição, desamparados pela nossa própria estupidez...


TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO

domingo, 6 de novembro de 2016

"CAMINHOS PARA COMBATER A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA NO BRASIL" *


As pessoas de bom senso, lúcidas e inteligentes não aceitam quaisquer tipos de intolerância: esportiva, econômica, cultural, social, política, entre outras. Todavia, a intolerância religiosa é inaceitável, por vários motivos.

Primeiro, que a CF/88 preconiza que o Estado é laico, ou seja, não tem uma religião oficial. Segundo, que para ser possível a vida na sociedade é extremamente necessário a tolerância e o respeito recíproco entre os cidadãos. E, por último, a educação é fundamental para se ampliar a visão de mundo na mais tenra idade. Dever-se-ia estudar a História das Religiões, assim, não prevaleceria apenas a visão cristã do mundo. Diga-se de passagem que até entre a religião cristã há divergências...

O ser humano é um eterno buscador da verdade. Por ser carente e não ter a maioria das respostas sobre a sua condição no mundo, muitos religiosos querem impor a sua verdade, contudo, não levam em conta que fazem parte de um planeta composto de várias culturas. E cada uma delas acredita que os seus valores são únicos, e a religião tem um peso muito grande nessas circunstâncias, pois trata-se de crença na salvação das almas e, portanto, da vida eterna.

Não é fácil acabar com preconceitos arraigados há anos, porém, o diálogo, o respeito, inclusive, àqueles que não professam nenhuma fé, é essencial para que possamos ter no Brasil concepções de mundo diferentes, desde que possamos nos colocar no lugar daqueles que pensam e agem de outras formas. O fortalecimento da democracia é muito importante para o combate à intolerância, ao fanatismo e ao sectarismo religioso.

TEXTO: Marco Aurélio Machado

* TEMA DA REDAÇÃO DO ENEM DE 2016

segunda-feira, 13 de junho de 2016

REFLEXÃO SOBRE CIÊNCIAS EXATAS E HUMANIDADES!

Li, no ano passado, se não me engano, um texto do portal UOL, que o ministro da Educação do Japão sugeriu que as universidades excluíssem os cursos de Humanidades do sistema universitário, pois se deveria substituí-los por cursos mais úteis à sociedade. Algumas universidades já colocaram em prática a decisão do ministro, mas a maioria, ou não quis, ou preferiu discutir o assunto mais profundamente. O interessante é que até o curso de Direito (segundo a notícia) não escapou da possibilidade de extinção...Logo, o Japão? O capital é avassalador...

Tenho visto muitas brincadeiras, nas mais diversas redes sociais e muito antes do advento delas, no próprio cotidiano da universidade onde eu cursava Filosofia. Cursos de Filosofia, Sociologia, História, Psicologia, Ciência Política, Antropologia, dentre outros, não são valorizados numa sociedade capitalista. É até compreensível, pois quando a conta bancária tem a possibilidade de construir um padrão de vida material rico e "confortável", a "alma" (reflexão, pensamento racional) com certeza, se empobrece. Evidentemente, que não estou generalizando. Mesmo porque pessoas que pensam assim nem têm culpa de ser alienadas: o desejo de ter um carrão, uma mansão, ser empresário, ou empregado de uma grande indústria e ser, portanto, bem remunerado, além de fazer parte de uma classe social importante, conhecer pessoas influentes, frequentar festas chiques, comprar produtos de grife, ter um bom plano de saúde, dentre outras coisas que o dinheiro pode comprar. Eis a utilidade do alienado pela ideologia perversa da burguesia. O sujeito, quase sempre, não é o proprietário nem das próprias ideias, mas pensa com a cabeça dos seus verdugos(carrascos).

Todavia, não custa lembrar de uma célebre frase de Karl Marx, que é mais ou menos a seguinte: "Não são as ideias que determinam o modo de produção, mas, pelo contrário, é o modo de produção que determina as nossas ideias". Fica explícito, aqui, que aqueles que "brincam" com a suposta inutilidade das Ciências Humanas, servem de cobaias para reproduzir o discurso de quem os explora. Eles não pensam a situação política, econômica, social, cultural, histórica, sociológica, filosófica, psicológica, antropológica do modo de produção que está em curso no PLANETA; eles são pensados, pois alguém pensa por eles o que devem sentir, pensar e agir. São úteis enquanto estão produzindo riquezas, contudo, serão descartados quanto qualquer coisa que envelhece no atual sistema.

O atual modo de produção não quer pessoas e cidadãos plenos, quer robôs. Robôs só recebem ordens, lidam bem com a manipulação de mercadorias e produtos, porém, não percebem que também são mercadorias. Uma pessoa da área de humanas, normalmente, tem uma visão de conjunto; estabelece relações entre todas as dimensões da realidade. Logo, não enxergam apenas números, mesmo porque o ser humano é muito mais do que um número. 

Por outro lado, quantas pessoas da área de exatas que odeiam as Ciências Humanas, mas são fanáticas religiosas? A religião, por acaso, é uma Ciência Exata? Partindo deste pressuposto a religião não é inútil e, por isso, não deveria ser descartada? Por que o capitalismo despreza a área de Humanas, embora valorize a religião, principalmente, nos países mais pobres? Não seria para deixar a pessoa conformada, pois o que o religioso não conseguir neste mundo, existe a possibilidade de obter no Paraíso, não é mesmo? Ao menos enquanto promessa...

Para refletir: EXISTE alguma ciência que não seja humana? Toda ciência é humana, ora! Ou alguém já viu qualquer outro animal, que não seja humano, produzindo Ciências Exatas? Será por que quase todas as pessoas que conheço que são da área de exatas são, politicamente, de DIREITA? Talvez, porque faltem a elas a capacidade de se preocupar com todos os seres humanos, e não ter um olhar direcionado apenas  ao próprio umbigo...Se tivessem uma consciência crítica sobre a totalidade do real, provavelmente, o ser humano seria mais importante do que a conta bancária!!!

TEXTO: Marco Aurélio Machado




quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

REFLEXÃO SOBRE O EGO!!

Em breve, daqui a algumas horas, este lado do planeta comemorará mais um "Ano Novo"!! Fogos de artifícios, pessoas vestidas de branco, oferendas para Iemanjá, shows de "músicos" em diversos lugares, promessas de mudanças comportamentais, renovação da esperança, abandonos de vícios e apostas na busca de virtudes...Evidentemente, há muitos outros desejos em cada ser humano e a "eterna" luta maniqueísta entre o bem e o mal: queremos nos identificar com o bem e nos afastarmos do mal, como se não fôssemos os dois ao mesmo tempo...

Perceber o Ego em movimento é extremamente difícil. Encará-lo frente a frente, não quando se olha  no espelho, mas por meio dos pensamentos, que dão a impressão de que somos muitos, quando, na verdade, há uma integração. O problema é "saber" disso sem o uso de pensamentos e de palavras; até parece algo místico...

O Ego humano nos prepara muitas armadilhas; talvez esta época do ano, quando, amanhã, estaremos em 2016, seja o momento mais propício para encarar o "monstro de mil faces": o Ego. Sim, porque somos uma legião de Egos, ou seja, para resumir,  há dentro de cada ser humano lembranças e memórias da nossa vida, da história pessoal que todos nós construímos e que também foram "edificadas" pela sociedade e a cultura em que nascemos. Isto para quem não crê na reencarnação, pois para quem vive como se existissem outras oportunidades de reviver num outro corpo e continuar evoluindo, tais lembranças e memórias também constituem o Ego de outras vidas passadas. Eu, particularmente, creio que só existe uma vida: esta que estou "vivendo". E depois de muito refletir sobre o assunto, tenho me questionado se vale a pena preocupar-me com os meus muitos disfarces, o outro nome do Ego!! 

Penso que a humanidade sofreu, sofre e sofrerá muito ainda por causa dos movimentos dessas sombras que obscurecem a inteligência e a lucidez das pessoas. Alguns exemplos, podem nos ajudar a explicitar o tema. Quantos indivíduos consultam tarôs, mandalas, búzios, mapas astrais, horóscopos, bolas de cristal, baralhos, fazem oferendas, rezam e oram pedindo a Deus que o Ano Novo seja abençoado e que a "roda da fortuna", o destino lhes tragam "coisas boas", principalmente, bens materiais? Além disso, querem saúde, paz, felicidade, entre outros pedidos...Todavia, são poucos os que têm noção do movimento sutil do Ego, o ilusionista das mais variadas máscaras...

O mundo só mudará quando cada um mudar. Entretanto, todas as vezes que uma pessoa se achar especial perante deuses, destinos, reencarnações de "espíritos evoluídos", almas de reis e rainhas do passado, "mestres espirituais" que vieram neste mundo para ajudarem pessoas atrasadas, não perceberemos o Ego que nos escraviza!! 

Estou muito longe de percebê-lo plenamente, contudo, procuro observá-lo, o que para tantas pessoas é pura arrogância. Qual é a melhor forma de observar os movimentos do Ego e livrar-se deles? Encarando-os. Porém, isso dói, dói muito, mas não é fugindo que se escapa, pelo contrário, é "abraçando" todas as suas lembranças e memórias e não se identificar com nenhuma. No entanto, este parto deve ser de cada ser humano. Pior: não há anestesia para ele...

TEXTO: Marco Aurélio Machado

P.S.: Este é o último texto mensal que estou escrevendo no blog neste ano. A partir de janeiro de 2016, só vou escrever quando puder, estiver inspirado e se aparecer um tema interessante.






quinta-feira, 26 de novembro de 2015

AS MÁSCARAS DOS HUMANOS E O MITO DOS SUPER-HERÓIS NA CONTEMPORANEIDADE!

Quando era criança gostava muito do Fantasma, também denominado " o espírito que anda". A lenda do Fantasma espalhava-se pela floresta de Bengala pelos nativos. Estes diziam que ele tinha 400 anos e que ele não morria,  mas os nativos,  que fizeram de tal lenda uma tradição, nunca se perguntavam sobre o motivo de alguém ter uma idade tão avançada e não morrer. Na verdade, os "Fantasmas morriam", contudo, eram substituídos pelos filhos. E estes continuavam a tradição. (Não vou me alongar, porque não faço consultas ao escrever; se alguém se interessar,  poderá fazer uma pesquisa mais profunda.)
 
Temos muitos super-heróis criados pela imaginação de pessoas capazes de despertar em nós, simples humanos, o desejo da imortalidade, da força, da coragem, da justiça, da ética, da luta maniqueísta entre o bem e o mal (este sempre perde), na vida real, geralmente, acontece o contrário.  Há   algo em comum entre todos: a luta sem trégua para salvar a humanidade!! E quantos de nós até hoje lemos revistinhas em quadrinho e assistimos aos filmes dos nossos super-heróis prediletos,  não é mesmo?
 
Uma outra questão interessante é que os justiceiros supracitados quase sempre usam máscaras e na vida real são considerados educados, refinados, "frágeis", e incapazes de salvarem o mundo dos malvados cujo objetivo é usar os seus poderes para dominarem o pobre planeta e a  humanidade, que no mundo do faz de conta, só faz o "bem"...Saliento, ainda, que os super-heróis jamais revelam os seus segredos, mesmo que sejam ridicularizados pela sociedade. As máscaras "ajudam" a manter as suas verdadeiras identidades,  veladas, ocultas, escondidas...
 
Tais seres "mitológicos" representam o desejo da humanidade de ser como eles, todavia, somos o oposto. As máscaras humanas são a plástica, e todos os produtos de beleza capazes de fazer uma pessoa considerada fora dos padrões estéticos, como se fosse alguém,  se não linda,  ao menos "razoável". Isto se tivermos contato pessoal com ela, se não for o caso, há mil recursos para transformar um "zumbi "num Brad Pitt... As redes sociais que o digam!!!
 
Todavia, a reflexão até agora está no plano físico. As verdadeiras máscaras estão no nível psicológico. E, neste plano,  a situação é deprimente. Por mais que tentemos disfarçar, as máscaras caem, mesmo que não estejamos num baile à fantasia. Elas estão na "alma", "no espírito",  no ego...
 
Não há um ser humano capaz de escapar: uns mais, outros menos, mas todos somos as máscaras. Não temos máscaras, somos as próprias máscaras. E quem é a referência para nos dizer que os outros "se acham"? Que deveriam ser mais humildes? Talvez, só um Deus!! Se tivéssemos acesso aos pensamentos e sentimentos dos que se autodenominam humildes e sinceros, provavelmente, teríamos a maior decepção do mundo!! A arrogância dessas pessoas está na alma. Se por um azar do destino os pensamentos e sentimentos delas viessem à tona sem "querer"... Nossa!!!
 
Somos anti-heróis por natureza. Daí o gosto pelo mito. O mito é fantasia, imaginação, e neles podemos desejar e ser o que quisermos. Na vida real, cotidiana,  não passamos de mascarados que se julgam no direito de criticarem as máscaras alheias. Prefiro o arrogante tagarela, apesar de ter (ser) a minha coleção de máscaras também...Adoro ser chamado de arrogante, pois descubro muito mais da pessoa do que ela imagina...
 
 
Texto: Marco Aurélio Machado
 






P.S.: Este é o penúltimo texto que estou escrevendo. A partir de janeiro não quero ter compromisso de colocar um texto por mês neste espaço, mas só quando tiver vontade, inspirado e se aparecer um tema interessante.
 
 
 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

PROFESSOR DE FILOSOFIA!!


Ser professor de qualquer disciplina não é tarefa fácil, contudo, lecionar Filosofia é andar no fio da navalha; é provocar os estudantes, não para brigar fisicamente, porém, "desestruturar" emocionalmente, psicologicamente, e concomitantemente sofrer mais do que eles, afinal, lidar com jovens é ter consciência de que eles estão no meio de uma "ponte de madeira" sobre um rio perigoso...Eles não são crianças nem adultos, porém, adquiriram uma educação familiar com valores, princípios, normas e regras, alheias, quase sempre, à Filosofia. Esta convive com a dúvida, o ponto de interrogação, exclamação e as reticências, ou seja, nada está pronto, nada está acabado; nada está construído....Aquela (educação familiar) é composta de pontos finais e os dois pontos. A obediência e a autoridade são valorizadas, mesmo que não sejam "explicadas". A Filosofia, pelo contrário, é a busca "amorosa" pelo conhecimento. Um "amor", que antes, por parte de grande parte dos neófitos (iniciantes), é raiva, rancor e ódio!!

O professor de Filosofia, antes de ser amado, é "odiado". Ele mesmo, às vezes, se odeia, como muitas vezes já aconteceu comigo ao ir para casa depois de mais um dia de trabalho. Uma angústia profunda toma o seu ser, justamente, porque é tal sentimento que ele gera nos seus discentes. O parto de novas ideias é doloroso; é o infarto, não do coração, mas da alma (intelecto). Uma dor quase que insuportável...
Um professor de Filosofia que nunca sentiu um vazio existencial terrível, nunca poderá dizer que esteve numa sala de aula, pois lecionar tal disciplina é querer que a dor do "aluno" passe para ele, assim como os pais gostariam que as dores físicas e espirituais (sentimentais) dos filhos fossem suas (deles).

Um professor de Filosofia, de fato, não sabe o que é um parto sem anestesia, embora, por intuição, "sabe" que deve ser a dor física mais pavorosa que as mulheres sentem. Mas ele sabe o que é a dor da alma provocadas pelas perguntas e questionamentos; compreende como as primeiras aulas incomodam e "martelam" dia e noite o "espírito" dos jovens.

O professor de Filosofia sabe pouco sobre todas as coisas, mas sabe, como poucos, a dor de um jovem que lida com as incertezas e dúvidas que tal disciplina provoca. Sabe, porque não está imune às questões colocadas, e que causam abalos nos alicerces mais firmes.

Quem já fez uma reflexão filosófica tem a "certeza" ( o que é "certeza" mesmo?) que quebrou o espelho que durante muito tempo foi guardado com carinho. Pode-se colar o espelho, mas ele jamais será o mesmo!! Talvez, mesmo quebrado, ele representará uma alma (intelecto) que sofreu uma fratura profunda, fratura esta que pode ser comparada à loucura...

Mas eis que, de repente, vem a paz,  e as superstições, que eram monstros cruéis, tornam-se simples sombras. Continuaremos ignorantes sobre quase tudo, todavia, paradoxalmente, seremos "ignorantes" sábios!! E os jovens, com a passar do tempo, podem até continuar não gostando de Filosofia, mas agora já não importa: ela já terá inoculado neles a semente da sabedoria. E esse processo é infinito, ao menos enquanto esta vida durar!!

O professor de Filosofia, então, odiado, pode, desta feita, ser "amado"!!


Texto: Marco Aurélio Machado


P.S.: ESTE texto foi colocado no meu blog para o mês de outubro. Devo escrever apenas mais uns três ou quatro no blog. Depois, só escreverei sem compromisso e quando tiver inspirado.



quarta-feira, 30 de setembro de 2015

SOMOS TODOS SOFISTAS?

Desde a aurora da Filosofia, cujo nascimento convencionou-se,  entre a maioria dos historiadores e estudiosos,  considerar o século VI a.C, e que a tradição histórica considerou como pai, o filósofo grego, Tales de Mileto; aquele pré-socrático, que disse pela primeira vez, que a água era a arché de todas as coisas: era o advento da Filosofia. A razão é a filha nobre que "separa" a explicação cosmogônica da cosmologia. A primeira tinha que ver com os mitos, com os deuses, numa palavra, com o sobrenatural. A segunda, recorria apenas ao Lógos, à razão, ao homem, e a explicação agora concentrava-se na capacidade humana de explicar os fenômenos da natureza sem recorrer ao sagrado. O homem estava começando a engatinhar na autonomia e na liberdade...

Evidentemente, que no decorrer do tempo apareceram outros filósofos e o elemento divino sempre esteve presente,  de uma ou outra forma. Talvez, não seja por acaso, que o filósofo francês e ateu militante, Michel Onfray, esteja escrevendo uma Contra-História da Filosofia, ou seja, ele está tentando resgatar os filósofos materialistas e hedonistas que, segundo ele, foram vencidos pela longa História da Filosofia, cuja matriz é, em última análise, platônica. Ele até cita outros, mas Platão é o alvo principal do idealismo e da inversão do mundo. 

Tivemos, depois da preocupação filosófica com o elemento primordial, material, de todas as coisas, ou seja, a cosmologia, a physis, um deslocamento para a antropologia, a vida social, política e ética na pólis - cidades-Estado grega. É em tal contexto que temos a consolidação da democracia e o aparecimento dos sofistas e de Sócrates. Aqueles, segundo as más línguas, queriam vencer o debate, a discussão nas ágoras (praças públicas) a qualquer custo. Os principais nomes, destes verdadeiros mestres do discurso, da oratória e da retórica, são Protágoras de Abdera e Górgias de Leontini.   Eram eloquentes e capazes de opor argumentos e persuadir as pessoas com certa facilidade, além de cobrarem caro por ensinar tal arte nas diversas cidades que perambulavam. A verdade, para eles, era relativa e circunstancial. Em outras palavras, a verdade se confundia com a capacidade de persuasão. O importante era vencer o debate. Eram professores dessa arte e,  numa democracia direta, mais uma vez,  quem podia pagar,  aprendia as técnicas e influenciava as decisões nos debates. 

Sócrates, pelo contrário, criticava as cobranças dos sofistas e pensava que o saber não se vende. (Talvez seja por isso que os professores ganham tão mal...) O filósofo, Sócrates, vivia fazendo perguntas a todos, e argumentava que perguntava porque não sabia. Utilizava o método da Ironia e da Maiêutica. A primeira, tinha como fim a desconstrução das meras opiniões que os atenienses pensavam que sabiam. A segunda, Maiêutica,  etimologicamente, é a arte de trazer à luz, partejar. Só que no caso de Sócrates, trazer à luz novas ideias. Enfim, desconstruir e reconstruir novas ideias. A mãe de Sócrates,  Fenareta,  era parteira.  Não é difícil deduzir o que Sócrates fizera, não é mesmo? 

Sócrates buscava,  não a relatividade dos sofistas, mas o conceito, o universal e necessário. Ele queria a essência, ou seja, o que subjaz a aparência. Esta muda, aquela permanece. Não foi à toa que Platão, discípulo de Sócrates, inventou um outro mundo e aprofundou a metafísica de Parmênides,  e foi além da metafísica embrionária socrática...

Poderia citar um pouco mais de Platão e do seu principal discípulo, Aristóteles, um dos maiores filosófos e metafísicos de todos os tempos, mas o meu interesse é voltar ao tema da pergunta: "Somos todos sofistas"?

Quem dera se tivéssemos a competência para chegar ao menos perto dos grandes sofistas da Grécia antiga, todavia, vivemos numa época de riqueza da linguagem por algumas elites e de uma pobreza absoluta da linguagem pelas massas do mundo inteiro. E o que é pior: muitos linguístas, com o pretexto de "respeitar" as diferenças e a multiplicidade dos "cidadãos", a diversidade das culturas, preconizam e até estimulam uma linguagem paupérrima de significados. Esta, sem dúvida, torna a concepção de mundo dos mais explorados muito mais complexa, pois dificulta a percepção mais ampla e rica da cultura humana, patrimônio que deveria ser de todos. O que tais "especialistas" não percebem é que também estão alienados e reproduzem uma ideologia que deveriam combater. Principalmente, porque quem acredita nessas teses, dificilmente faz parte ou está inserido no contexto da realidade social, política, econômica e cultural dessas comunidades. 

A linguagem é o que nos faz diferentes dos animais, e como seres humanos, temos o direito de compreender, analisar, interpretar, refletir e dar um novo sentido ao discurso das pessoas que "falam e escrevem" bonito, afinal, numa democracia, de fato, e não apenas de direito, é preciso que a gama de sinônimos seja rica. A linguagem é poder e o poder domina, sobretudo, pelo apelo à força das palavras. Se fôssemos todos sofistas, a maioria dos políticos, advogados, médicos, jornalistas, mestres de propagandas e publicidades, vendedores, entre outros, não teria vida fácil conosco. 

Não é, por acaso, que a sociedade  desdenha a Filosofia...Esta, além de desmascarar e desvelar as ideologias e ilusões vendidas pelo atual sistema de produção, conhece noções de Lógica e as principais falácias e sofismas. Afora a capacidade de fazer perguntas, que são verdadeiras bombas atômicas,  para explodir o discurso fácil dos inimigos da verdade. 

Cuidado com a manipulação, pois ela está em toda parte...Até mesmo por muitos que querem nos vender um lugar no CÉU...

TEXTO: MARCO AURÉLIO MACHADO