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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O QUE É A REALIDADE NATURAL E PSICOLÓGICA?

O que é a realidade? Seria muita pretensão, por parte de um ser humano finito e limitado, tentar definir a natureza do real. Entretanto, não custa fazer uma pequena reflexão sobre o tema. Este texto baseia-se numa cosmovisão oriental do mundo, principalmente, na leitura do pensador indiano, Krishnamurti. Todavia, é uma reflexão pessoal minha, portanto, é apenas uma pequena contribuição para um tema profundo e fascinante. Estou "engatinhando" nesta floresta densa e escura...Bom, comecemos...


O que é a realidade? É movimento incessante. A vida é movimento, fluidez, dinamismo: é como se fosse um rio, que ao deparar-se com um obstáculo, o contorna e continua. Assim são os pensamentos. O conflito vem quando queremos ser diferentes do que somos. Isso explica a metafísica grega antiga e o nosso desejo de estabilizar e enquadrar as coisas num conceito! Se tivéssemos seguido Heráclito, talvez a forma de vermos o mundo seria totalmente diferente. Queremos segurança. Não nos conformamos com o movimento. Não queremos perder. Queremos apego. Queremos controlar tudo. E a vida é dinâmica, particular, concreta. Por isso, não podemos achar que as ideias e os conceitos, ou seja, os símbolos, sejam mais importantes que o real. O real é muito mais rico e complexo do que supõe a nossa vã filosofia. O que é a crença? Um apego e um desejo de tornar o que é essencialmente movimento e impermanência em algo estático e permanente. Desejo de segurança. Nada mais que isso. Desejamos fazer um monte de coisas, mas não percebemos que é fuga. Fugimos o tempo todo de nós mesmos.


Não queremos esse confronto. Não queremos saber que somos a inveja, os ciúmes, o medo, a insegurança, o ódio, o amor, a raiva, o desespero, a felicidade e a infelicidade, enfim, somos tudo isso. Compreende-se o porquê essa história de inconsciente não se sustentar. O inconsciente nada mais é do que memória e lembrança. Para que preciso dividir a mente? Não há separação. Existe, sim, uma ilusão de um "EU". Se o "EU" fosse separado de mim, bastaria não me identificar com os meus supostos pensamentos e sentimentos. Assim, ficaria livre das neuroses e psicoses de todos os tipos. Mas quando acontece qualquer coisa, todo o meu ser sofre ou se alegra. Não há separação mente-corpo. Sócrates, Platão e Descartes foram os responsáveis por essa forma de pensar, ou seja, separar uma suposta alma do corpo.


O "EU" é justamente essa organização e capacidade de articular as coisas. Só que ao fazer isso, ele é diferente de mim? Claro que não. Ele não passa de passado e lembrança. Se penso, falo e ajo no mundo, é porque antes eu tenho isso como memória e lembrança. Caso contrário, como poderia reconhecer o que não conheço? Tanto é assim que se tenho uma experiência ela vira memória e lembrança. Mais um "EU". Ao querer repetir, ficarei desapontado, porque nunca mais terei a mesma experiência. O prazer que tive ontem ou a dor, nunca mais serão iguais. Sempre que queremos fazer o mesmo, advém a dor. O prazer contém a dor. Não são opostos. Fazem parte de uma mesma escala, porém, em graus diferentes. Esta frase ilustrará o que quero dizer:"ERA FELIZ E NÃO SABIA". Por quê? Porque só se pode se feliz em ato. Quando penso em repetir a mesma experiência, não conseguirei. Tudo não passará de memória.


Cada experiência é única, pois a vida é dinâmica. São os apegos que nos fazem sofrer. Se olhasse para todas as coisas como se fosse a primeira vez que a tivesse vendo, não teria memória e lembrança, logo, o novo surgiria. Outra: dizemos que temos medo do desconhecido. Falso. Temos medo de perder o conhecido. Se não conheço, como posso temer? É a suposta segurança que tenho, quem me faz ter medo de perdê-la. Se aprendêssemos a morrer todos os dias-simbolicamente-, para as coisas do mundo, então, teríamos uma outra relação com a existência. Como se pode ver, estamos muito longe disso. Eu sei que isso é verdadeiro, mas o meu CENTRO NÃO QUE SER O CONJUNTO DE TUDO.


Se existisse um "EU" separado de nós e que não se identificasse com os nossos pensamentos e sentimentos, logo, não teríamos neuroses e todo tipo de doenças psicológicas e emocionais. Bastaria estarmos separados. Isso acontece? Não! Todo o meu ser sofre. É a interação mente-corpo que dissera antes... Isso não significa abrir mão do mundo. O mundo está aí para ser usufruído. A natureza é bela e nos oferece tudo o que precisamos. Usufruir, sim, possuir, não. Os animais usufruem ou alguém teria coragem de dizer que um animal rouba alguma coisa da natureza? O engraçado é o ser humano dizer que os animais são irracionais! Nós somos tão racionais, que "saqueamos" a natureza para acumularmos bens e sofrimentos! Afinal, desde quando escravos de bens materiais são felizes?


Podemos ter uma vida plena e feliz. Não a temos por causa desse desgraçado do "EU". Gerador de uma falsa segurança psicológica e, que na verdade, gera todo tipo de apego e posse. E apego é sinônimo de sofrimento. Olhe o sistema vigente de acumulação de capital. Não dá para separar as coisas.Tudo está interligado. Nós e o UNIVERSO SOMOS UM. Somos a própria existência. A EXISTÊNCIA É NEUTRA, PORTANTO, NADA TEM A VER COM UM DEUS PESSOAL separado do UNIVERSO. Aliás, na Bíblia, Jesus disse: "EU E O PAI SOMOS UM". Pois é...



Texto: Marco Aurélio Machado