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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O FILÓSOFO!

Neste blog refiro-me com frequência à Filosofia e demais áreas correlatas, contudo, é necessário me voltar para o filósofo. Quem é o filósofo? Não desejo escrever sobre a etimologia da palavra Filosofia. Gostaria de refletir sobre o conceito de filósofo, todavia, busco algo que vá além dos dicionários e do senso comum.

Um filósofo é quem estuda Filosofia numa faculdade? É alguém, que depois de graduado, torna-se professor nos vários níveis de educação? É aquele que faz um mestrado? Seria quem faz um doutorado com uma tese original? O que significa ser original, principalmente, quando buscamos um filósofo na rica História da Filosofia e fazemos uma leitura totalmente diferente ou mesmo uma crítica considerada única e, portanto, "original"? Mas como ser original nos baseando no trabalho de outros filósofos? Pode ser alguém que nunca frequentou um curso formal de Filosofia? No passado era muito comum, afinal, os filósofos antigos não frequentavam faculdades de Filosofia e nem recebiam um diploma. Em última análise, quem está autorizado a conferir um título de filósofo a alguém?

Fico perplexo com a Filosofia, pois até mesmo para decidir quem deve ser chamado de filósofo não há consenso. Um psicólogo é quem faz Psicologia; um sociólogo é quem faz Sociologia; um médico é quem faz Medicina, mas por que quem estuda Filosofia numa faculdade não é chamado de filósofo também? Não há consenso nem sobre o que se entende por Filosofia...

O senso comum chama de filósofo quem pensa em coisas estranhas, abstratas e que parece não ter conexão com a vida cotidiana, com o "mundo real". É até compreensível, pois dificilmente alguém que não estuda Filosofia, problematiza sobre o que é o "mundo real". Há muitos outros profissionais que se referem a quem é formado em Filosofia de uma forma pejorativa. Veem as pessoas da área como aqueles que ficam "filosofando" sobre o sexo dos anjos, que viajam num mundo onde a única realidade são as ideias, pensam que a Filosofia é muito teórica, outros acham-na inútil, etc. Mas para quem pensa que inútil é tudo aquilo que não seja dinheiro e bens materiais, então, para o filósofo não tem muita importância. Há filósofos complacentes com esse tipo de mentalidade tosca e infantil.

A meu ver, o filósofo é um apaixonado pelos pontos de interrogação, exclamação e as reticências. É a pessoa que faz perguntas simples, mas de uma complexidade profunda sobre a vida, o mundo, a natureza, a história, a política, a ética, a cultura, a beleza, a justiça, a ciência, a religião, o conhecimento, ou seja, sobre o conjunto de tudo o que existe, mas não sem antes perguntar sobre o que deve ser entendido por existência. A Filosofia é muito complexa e como há muitas doutrinas filosóficas, ela mais parece uma Torre de Babel.

O filósofo é um amante da sabedoria, da angústia e do desespero; gosta do abismo e da escuridão e a sua arma é a luz da razão, da inteligência e da reflexão. A angústia e o desespero vêm por causa da natureza da Filosofia. Uma pessoa que passou incólume pela Filosofia, pode ser um excelente citador de filósofos, pode ser um grande erudito, mas não mergulhou profundamente nos principais problemas humanos e, portanto, existenciais. O filósofo estuda muito e quanto mais estuda, descobre que não desvelou quase nada. A diferença é que ele sabe, que sabe muito pouco, por isso quer saber mais. O filósofo é também um desvelador das máscaras ideológicas e alienantes, mas isso só é possível quando ele não está alienado, na defesa de doutrinas filosóficas que defendem uma classe social em detrimento da humanidade...

Um filósofo é uma dinamite de ideias; faz uma pergunta aqui, ali e acolá; ensaia algumas respostas, mas nunca fica satisfeito com elas. Por outro lado, os questionamentos filosóficos parecem abstratos, mas não se enganem, quem já encontrou um grande filósofo no seu caminho, será marcado por ele definitivamente: num plano bem concreto, pois a pessoa muda a sua maneira de pensar, sentir e agir.

O filósofo incomoda; é alvo de inveja, maledicências, perseguições e ciúmes. As pessoas o respeitam, de uma forma ou de outra, mas não é incomum a desqualificação moral, mormente, quando ele não está presente. O filósofo é considerado perigoso e semeador de discórdias, porque quem faz muitas perguntas abala as certezas dos donos do poder e das massas ignaras. Como a maioria das pessoas prefere ser guiadas, visto ter uma "mentalidade de rebanho, "o filósofo não é bem visto. Ele é respeitado, mas quase sempre isolado. Não é fácil conviver com um filósofo, e mais difícil ainda é convivência dele com a maioria das pessoas. A impressão que se tem é que são habitantes de planetas diferentes.

Uma das rejeições que o filósofo mais sofre é a acusação de ateísmo. Mas ele sempre pergunta: "A qual deus(es) você se refere"? Pronto! A confusão está armada! Para o filósofo é apenas mais uma pergunta, todavia, para os crentes, em geral, isto é um absurdo. E normalmente o que um filósofo compreende como ateísmo é completamente diferente do que supõem os crentes. Em outras palavras, eles não falam a mesma língua. Por quê? Porque o filósofo busca compreender a totalidade da cultura humana, e, neste sentido, os homens já acreditaram e acreditam em milhares de deuses. Quem tem razão? O filósofo quer saber também...Ele parece um habitante de um outro planeta, porque faz deste mundo um lugar estranho, desconhecido e inóspito...Ele sempre pensa que algo lhe escapa...

Por ser um questionador radical, no sentido de ir à raiz dos problemas, o filósofo é tido como alguém metido a saber mais do que os outros, quando, na verdade, ele não tem respostas prontas, e as respostas tornam-se novos problemas. Mais: ele quer saber até o que uma pessoa entende por "problema". Não é de admirar, portanto, que ele seja considerado um "doido", um "aloprado" e outros adjetivos pejorativos. O que ele faz diante dessas acusações? Pergunta: "O que é ser doido"? "O que é ser aloprado"? "Ser normal é quem vive como gado"?

O filósofo se distancia do mundo, não tanto fisicamente, mas intelectualmente. É uma distância estratégica, para melhor se aproximar! A meu ver, o filósofo deve ter um compromisso com a vida nas suas várias dimensões: a reflexão filosófica não pode ficar restrita à Academia. A práxis é a palavra de ordem. Ele deve ter paciência para trocar ideias e participar dos problemas da sociedade sempre que possível. Afinal, a capacidade de elucidar conceitos e contribuir com algumas sugestões fazem parte da reflexão filosófica. Bom, eu entendo assim...

O filósofo brinca com os conceitos, como uma criança se diverte com os brinquedos; ele se parece com uma criança ao fazer tantas perguntas; o que os distingue é que a criança aceita a resposta de um adulto, inocentemente, como se fosse uma verdade peremptória (definitiva), o filósofo, por sua vez, faz perguntas, mas não há ingenuidade nelas. Há o desejo de se aprofundar, de ir além!

Um filósofo busca o óbvio incessantemente, porque sabe que o "óbvio" não é tão óbvio. O óbvio é evidente para os tolos. Para o filósofo, o óbvio não tem obviedade. O que é obviedade? Se alguém descobrir, estou muito interessado, mesmo que eu nunca tenha me considerado um filósofo, apesar de eu gostar muito de fazer umas "perguntinhas" ingênuas", mas que já implodiram e explodiram muitos dogmas, em vários campos do conhecimento, das ideologias e das crenças supersticiosas. Eu não quero muito, desejo apenas um pouco de sabedoria...



Texto: Marco Aurélio Machado