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MAPA DOS VISITANTES DESDE O DIA 29/11/2009

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O HOMEM: TRANSCENDÊNCIA NA IMANÊNCIA



A natureza, a meu ver, de forma absolutamente aleatória e contingente, tornou possível a existência humana. A existência do mundo e do ser humano não é, até onde se sabe, algo necessário. Diante do exposto, gostaria de refletir sobre a transcendência e a imanência humana, pois o homem é o único ser transcendente na imanência.

O interessante é que a transcendência humana acontece, mesmo para aqueles que têm uma concepção de mundo materialista, porque, para estes, aquilo que transcende ou vai além, não é uma alma imortal, que tem num tempo futuro a esperança de dar um adeus ao mundo imanente e, portanto, material, mas uma transcendência do intelecto na mais pura imanência: a relação corpo-mente como fenômeno natural e finito. A morte de um é necessariamente a supressão do outro e vice-versa.

Em outras palavras, é a transcendência no tempo e no espaço, logo em tudo o que é mundano e que “permanece”enquanto muda. A “impermanência” é a única “permanência” em tudo que é transitório e efêmero. Mera coincidência com o grande filósofo, Heráclito? O homem, que é feito da mesma “substância” do mundo e, que neste sentido, compartilha átomos com o universo, é consciente do que foi, pelo passado; do que é, pelo presente; e do que pode ser, pelo tempo futuro, portanto, pela imaginação, que nada mais é que a consciência antecipando o que não existe, em pleno tempo presente, o tempo futuro. A linguagem humana é a representação do tempo...

O homem, enquanto transcendência na imanência, torna-se alienado, ou seja, perde o contato consigo mesmo e tenta ser tudo o que não é: infinito, imortal, eterno. Em outras palavras, ao tentar ser infinito, imortal e eterno, o homem encontra-se com aquilo que mais teme: a própria morte. Afinal, o que é o infinito? A negação da finitude e deste mundo...O que é a imortalidade? A negação da transcendência intelectual em prol de uma dualidade suprafísica, numa palavra, a crença numa alma estranha ao corpo e que o habita pensando na “mansão das almas,” e na sua suposta volta um dia...O que é a eternidade? A ausência do tempo e da mudança, logo, a morte da própria vida como a conhecemos... A única que conhecemos...O que é a vida? A própria existência em movimento contínuo, criando-se e recriando-se num dinamismo simples e complexo!

O que seria o mundo e o homem sem o tempo e o espaço? Nada? Não, pois o que é o nada sem o ser humano que pergunta pelo NADA? Não tenho resposta, alguém se habilita? Só sei que o ser transcendente na imanência ( o homem) é pura contingência...

Enquanto vivermos, cabe a cada um de nós darmos significado à vida; não deixemos àqueles que abrem mão deste mundo, em prol de um suposto paraíso, dizer o que é melhor para nós, pois eles só sabem o que é melhor para suas contas bancárias...Alienaram-se deste e neste mundo e inventaram o sobrenatural para preencherem o vazio existencial que os perturbam. Estão mortos em vida, pois abriram mão deste mundo e preferiram um futuro antecipado pela imaginação: a senhora que escraviza o transcendente finito em prol do transcendente imaginário, ou seja, tudo o que não é humano, mundano, material, natural e finito. Pois é...

O homem, ser em estado de derrelição no mundo desde o nascimento encontra, nos pais, um amparo temporário, todavia deve buscar por si mesmo o sentido da vida sem a esperança de uma escatologia sobrenatural. O homem deve ser o meio e o fim do próprio homem. Meio, porque não vive sem o outro, e fim, porque só pode recorrer e compartilhar experiências em todas as dimensões humanas...

Texto: Marco Aurélio Machado

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

VOCABULÁRIO DAS ELITES E DAS MASSAS

Diferenças entre o vocabulário das elites e das massas


Infelizmente, não é incomum constatarmos a diferença entre o vocabulário das classes dominantes e a linguagem das classes mais humildes. Gostaria de fazer uma reflexão básica, elementar sobre tal assunto que, a meu ver, é de importância nuclear para quem tem um vocabulário rico e, portanto, domina e a pobreza do vocabulário das massas, que são dominadas. Vejamos o porquê a linguagem é tão importante.

Em primeiro lugar, por que será que tantos intelectuais defendem a ideia de que devemos respeitar a linguagem extremamente empobrecida das camadas mais humildes da população? Eles alegam que essas camadas se comunicam e que isso é o mais importante. Dizer, por exemplo, “nois foi”, “nois vai”, “a gente vamos”, e outras pérolas tão comuns, são consideradas uma parte cultural muito importante e que todos os tipos de comunicação devem ser respeitadas, e não apenas o padrão culto.

A quem interessa que o vocabulário das massas seja empobrecido? Por que essa “tolerância”? Por que os intelectuais que defendem essas teses não as colocam em prática no cotidiano, e, portanto, não falam “errado”? Essas são as perguntas que eu sempre fiz quando me deparo com “especialistas” de outras áreas que estudam a linguagem. Nunca me convenci de que por trás dessas “teses” não existissem ideologias a serviço da classe dominante. Se a palavra, a linguagem, o vocabulário distinguem o homem do animal; se só o homem é capaz de se situar no tempo pelo uso dos signos e dos símbolos, por que a defesa e a tolerância de uma linguagem que não se distancia do tempo e do espaço por ser reduzida em sua gama de sinônimos, convencem os “especialistas”?

Eu discordo. Um vocabulário pobre deixará as massas não apenas desprovidas de recursos materiais, mas, sobretudo, de recursos intelectuais. As massas, sem os recursos lingüísticos, que as camadas mais ricas da população possuem, serão dominadas e exploradas, tanto de um ponto de vista material como espiritual. Não vejo e ouço os ricos e a classe média alta não terem cuidado com o vernáculo. Por que será? Por que os USA dominam o mundo, inclusive, pela língua inglesa? Por que os ricos e a classe média alta aprendem outros idiomas? Por que todas as profissões técnicas e acadêmicas têm um vocabulário bastante especialiazado e profundamente técnico? Quantas pessoas refletiram sobre isso? Por que a maioria das pessoas procuram menosprezar a linguagem filosófica? Não será por ser ela uma das dinamites que detonarão esse discurso ideológico? Não será por que ela quer fazer uma terapia profunda sobre o significado das palavras e se preocupar com o rigor dos discursos? Pois é...Domina-se também pela violência "inocente" das palavras; troca-se o uso da força, tão comuns na nossa história, pelas palavras e frases bonitas. As massas, inclusive, se encantam com pessoas que falam bonito, desde que não sejam discursos muito longos...

O que me deixa mais perplexo é a tolerância de tantos professores de Português, que embarcam nessa ideologia nefasta. Um vocabulário rico por parte das elites é elogiado pelas massas, mas quando alguém de uma comunidade humilde enriquece o seu vocabulário e torna-se, por isso, capaz de ampliar a sua maneira de pensar, sentir e agir, inclusive, ajudando a mudar a realidade social, cultural e política de onde ela vive, os colegas e amigos costumam julgá-la alguém diferente e “metido à besta”. Ora, enriquecer o vocabulário das comunidades carentes e tolerar o mínimo possível que as pessoas se expressem de forma "incorreta", mesmo não sendo um padrão culto, seria o mínimo que poderíamos exigir. Não por ser “feio”, mas por causa do efeito perverso de dominação implícito nesse processo. As novelas e o telejornalismo poderiam ser grandes parceiros nessa luta, mas eles estão preocupados com isso? Duvido! E basta um pouquinho de reflexão e de bom senso para desvelarmos o que está oculto pela ideologia dominante. Num certo sentido, os que dominam são dominados também, porque apesar da riqueza do vocabulário, há pobreza de reflexão. E o que seria do capitalismo se a reflexão fosse algo corriqueiro? A sua própria ruína, pois comprar seria um ato saudável por pura necessidade e não porque as compras fossem influenciadas pelas propagandas de artigos supérfluos e pela moda do momento. Ter sempre muito bens ajudam a aparência, mas esvaziam a essência...

Evidentemente, que as aulas de Filosofia, Sociologia, História e Português são essenciais para que começássemos a mudar tal realidade. Uma linguagem rica, mas sem pedantismo, é um caminho crucial para que os nossos jovens carentes pudessem ser ricos pelo menos intelectualmente. A riqueza do vocabulário verbal e escrito, com certeza, é um dos recursos para a superação da pobreza em suas várias dimensões. E, principalmente, a Filosofia deve estar atenta em explicitar os pressupostos da exploração conduzida pela linguagem empobrecida e denunciar, inclusive, os especiliastas que estão a serviço da dominação e que muitas vezes não se dão conta da própria alienação!


Texto: MARCO AURÉLIO MACHADO

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O QUE É A AMIZADE?




A palavra amizade é de uma beleza ímpar, singular. Muitas vezes repetida e quão poucas vezes colocada em prática. Mencionamos tal palavra ad Nauseam, entretanto, quantas pessoas sabem o significado filosófico da amizade? Em outras palavras, qual é a essência da amizade? O que faz a amizade ser amizade e não um mero coleguismo?

Vou tentar definir a amizade, mas não tenho a intenção de esgotar o assunto, mormente, num pequeno texto como é a pretensão deste. Defino a amizade como um sentimento nobre e altruísta de companheirismo, lealdade, sinceridade, carinho e solidariedade, nas mais variadas situações da vida. Ser amigo é estar junto, mesmo estando longe, ou seja, é ter o amigo no pensamento; é compartilhar segredos e confidências; é ficar alegre com as vitórias e triste com as derrotas; é ser sincero, quando perguntado, mas respeitar a vontade do outro quando ele prefere o silêncio; é compreender que o amigo é humano e pode nos ferir, mesmo sem querer; é ter a certeza de que uma amizade não acaba, a não ser com a morte física das duas pessoas, pois enquanto uma estiver viva, o outro “existirá nas lembranças...

A amizade é um sentimento raro, por isso, bendita seja a pessoa que encontrou um verdadeiro amigo. Quase sempre, encontramos na nossa odisséia terrestre, várias pessoas com quem convivemos e compartilhamos trocas afetivas. Todavia, o tempo se encarrega de mostrar se houve uma amizade ou um simples coleguismo. Na maioria das vezes, os desencontros são mais freqüentes, principalmente, porque não podemos dissociar a amizade de um contexto político, social, econômico e cultural.

A amizade só pode existir quando consideramos o outro como se fosse um fim em si mesmo e não um meio para interesses mesquinhos e egoístas. Parafraseando uma frase do cantor e compositor Milton Nascimento: “Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves”. ..



Texto: Marco Aurélio Machado

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O CETICISMO PIRRÔNICO!

Quando nos referimos ao ceticismo geralmente pensamos que o cético é aquele que duvida de tudo e tal qual Descartes, coloca em dúvida a existência do mundo exterior e do próprio corpo. Evidentemente, que com um ceticismo tão radical, chegaríamos ao solipsismo, ou seja, a crença de que só posso ter acesso à minha mente e que tudo em volta não passa de situações na minha consciência. Vou preconizar neste espaço um outro tipo de ceticismo. O ceticismo pirrônico. E a minha intenção não é me referir à História do Ceticismo, já que há várias concepções sobre o CETICISMO. Pirro de Élis,( 360 a.C - 270 a.C) filósofo grego, que nasceu na cidade de Élis, é considerado o pai do ceticismo pirrônico ou pirronismo. Entretanto, conhecemos mais sobre o pirronismo através do médico e filósofo cético, Sexto Empírico, que viveu entre os séculos II e III da nossa ERA.

Um cético pirrônico acredita nas leis naturais; nos instintos; nas leis e costumes humanos, e na ciência, desde que não seja uma tentativa de ir além dos fenômenos, ou seja, daquilo que me aparece. Sexto Empírico era médico. E o ceticismo pirrônico tem uma relação com o empirismo, desde que seja de acordo com o que eu disse acima.

Percebemos uma certa regularidade na natureza; temos uma inclinação instintiva para matar a fome, dormir, reproduzir a espécie; sempre que vemos uma cicatriz, podemos deduzir que houve um ferimento naquele local; seguimos as leis e tradições ou podemos propor outras, mas sem achar que atingimos a essência ou a causa primeira do real. Não se deve confundir o CETICISMO PIRRÔNICO com outras formas de ceticismo. Percebemos de uma forma natural, eis o ceticismo pirrônico. Não sabemos qual é a natureza de nada, apenas daquilo que nos aparece, ou seja, o fenômeno. Ex: um cético pirrônico não lhe dirá que o mel é doce por natureza, apenas que lhe aparece como tal. Ele lida com o mundo dos fenômenos, nada mais. Qual a natureza do fenômeno? Ninguém sabe, ora!

Se o cético lida com o fenômeno e a experiência que ele tem com o mundo, não busca a essência de coisa alguma, pois isso seria próprio das Filosofias dogmática. Quem disse que o cético pirrônico abre mão do mundo dos fenômenos e do que lhe aparece? Não sabe qual é a causa do mundo e a sua verdadeira essência. Ele não faz metafísica, entretanto, quando alguém insiste, demonstra que não há como escolher entre duas teses filosóficas, pois elas se equivalem. Se uma doutrina filósofica afirma que algo é, o cético pirrônico demonstra que "não é"; se a doutrina adversária afirma que algo "não é", ele demonstra "que é". Diante dessas divergências, o cético pirrônico apenas usufrui do fenômeno sem colocá-lo em dúvida. Nada mais falso, portanto, a ideia de o ceticismo pirrônico é contraditório. Pelo contrário, o cético se reconcilia com a vida comum dos homens. Insere-se no mundo dos fenômenos e se contenta com os seus limites...

Sabemos muito pouco e quando o cético pirrônico analisa as várias correntes filosóficas, percebe que elas são contraditórias. Sempre há bons argumentos entre as várias doutrinas filosóficas, num conflito ad infinitum. Não podendo saber qual tem razão, o ceticismo pirrônico faz com que suspendamos o juízo (epoché) e nos permite, assim, chegar à ataraxia, ou a imperturbalidade da alma. No trecho abaixo, fruto de outro texto que escrevi, constatamos a atitude de um cético diante das perguntas metafísicas, a respeito das interrogações sobre as leis do universo.

(...) As leis naturais e o mundo deveriam ter sido inventados antes; que por sua vez, deveriam ser antecedidas por outras leis e outro mundo; que por sua vez deveriam ser antecedidas por outras leis e outro mundo...AD INFINITUM. Mas se formos regredir ao infinito, logo, de onde saiu este mundo? Da eternidade? E de onde saiu a eternidade?

Diante das questões supracitadas, evidentemente, o cético voltaria a se deliciar com o mundo dos fenômenos, nada mais!


Texto: Marco Aurélio Machado

sábado, 23 de outubro de 2010

O QUE É O FUTURO?

O que é o futuro? Não conheço este tempo. Mas ele existe pela imaginação. Quem vive de imaginação, não tem tempo para saborear o único tempo que existe: O PRESENTE.

Que futuro? As pessoas vivem 24 horas por dia. Cada minuto deve ser aproveitado da melhor forma possível. Não podemos antecipar pela imaginação ( futuro ) o que possivelmente acontecerá ou não. Isto é uma fonte de ansiedade e de angústia. A pessoa não vive o presente e fica o tempo todo pensando no futuro. Quando o "futuro" chega, ele será o futuro? Não. Será o PRESENTE. E, talvez, completamente diferente do que fora planejado.

Um usuário de drogas ficará esperando o futuro para tentar parar pela força de vontade? Buscará um tratamento no futuro? Quando? Vai esperar chegar no fundo do poço? Não. A decisão de parar é aqui e agora. Um dia eu vou parar? Quando isto dará certo? Vivamos os problemas de hoje, hoje. Os de amanhã, amanhã e, assim, por diante. Pensar no futuro não é bom para a saúde mental, pelo contrário, é fonte de muito sofrimento antecipado.

Vou dar um exemplo simples. Os AA ( Alcóolicos Anônimos ). Eles não pensam no futuro. Evitam o primeiro gole nas próximas 24 horas. No dia seguinte, renovam o compromisso. Por acaso, eles não ficam anos sem beber? Se fizessem o compromisso de que um dia iriam parar, o que aconteceria? E se decidissem que parariam para sempre? Para sempre é muito "tempo". É todo o "futuro". Dificilmente, uma atitude assim daria certo...

O passado gera a culpa e o futuro gera a preocupação. Dois tempos que não existem, mas que são a desgraça da maioria das pessoas. O passado já passou. O futuro não chegou e, quando chegar, será o PRESENTE. Infelizmente, no entanto, vivemos o passado pela nossa memória e lembranças e o futuro pela imaginação. E o único tempo que existe ( O PRESENTE ) nós o gastamos remoendo o passado e projetando o futuro. Resultado: TOME SOFRIMENTO.


Texto: MARCO AURÉLIO MACHADO

sábado, 2 de outubro de 2010

IDENTIDADE EM MOVIMENTO!

Eu? Quem é o EU? Ele existe? Se existe, tem uma identidade imutável? É uma alma? Uma alma que, supostamente, existiria em uma outra dimensão espiritual? Será? Duvido.

Eu tenho muitas dúvidas. Talvez, não seja, por acaso, que eu goste tanto do ponto de INTERROGAÇÃO (?). Não consigo conceber um suposto "EU", separado do conjunto dos meus pensamentos. Não sei como alguém pode explicar um "EU" pensando e ser diferente dos próprios pensamentos. Como pode um "EU" pensar, se ele não é também pensamento? Como pode algo que é dinâmico e está em constante movimento, ser uma entidade central e imóvel? Como se pode ver, as perguntas não param. A ideia de um "EU" imutável, que pensa sem ser pensado, é absurda e contraditória.

Penso que a situação supracitada faz nascer o medo e a superstição. Inventamos crenças e criamos deuses aos montes, para que possamos nos sentir seguros. Construímos as nossas gaiolas, a trancamos por dentro e jogamos a chave fora.

A Filosofia é, a meu ver, a única chave que temos para abrirmos a gaiola e voarmos. Entretanto, o que pode ser a solução, pode também ser o receio de enfrentar o nosso pior inimigo: as algemas fabricadas pela nossa estupidez e ignorância. Viver no mundo das trevas é o mesmo que odiar as perguntas e aceitar explicações tolas e infantis, principalmente, por parte daqueles que também estão no abismo, mas não sabem que estão. Estes são as piores companhias, pois cegos de "nascença" não podem saber o que é a luz do sol. O conceito de sol, por mais belo que seja, se for dito por um cego de nascença, não terá o mesmo valor, comparado aos olhos de uma criança inocente que percebe o sol como um fato.

O grande dilema humano é tentar explicar o mundo. Compreende muito mal esta realidade material, mas quer explicá-la por algo que compreende menos ainda: UM SUPOSTO DEUS. Prefiro a minha ignorância sobre o assunto. Sei muito pouco e sei que sei muito pouco...Todavia, sei como poucos, a arte de fazer perguntas, de me espantar e de me admirar com a minha própria ignorância...Eis o motivo da minha paixão pela FILOSOFIA, a luz da minha vida!!!

Texto: MARCO AURÉLIO MACHADO

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Imprensa e a DEMOCRACIA NO BRASIL

A palavra democracia é uma das mais pronunciadas no mundo. De ditadores sanguinários, políticos de direita e de esquerda, aos meios de comunicação em geral, a palavra democracia é como se fosse o maná dos deuses. Tantas vezes pronunciada e raras ocasiões colocada em prática. Está na moda dizer que a liberdade de imprensa é tudo, e que qualquer pessoa pode dizer tudo, desde que seja para bem "informar o público". Informar, sim, mas a imprensa deve ter partido político? A imprensa pode acusar sem provas? Jornalistas podem ser demitidos por serem isentos? Governantes podem deixar de anunciar numa determinada mídia, se a mídia divulgar os fatos?

Infelizmente, no Brasil, mesmo a democracia formal, está muito longe de ser uma realidade. Para quem não sabe, na democracia formal há o direito à igualdade num plano abstrato, ou seja, todos são iguais ( deveriam ser ) perante a lei; liberdade de associação; de "ir e vir"; de ser inocente até que se prove o contrário, pois a CARTA MAGNA ( CONSTITUIÇÃO) nos garante tal "direito".

No Brasil e em muitos países com uma vocação autoritária, tipo "manda quem pode e obedece quem tem juízo", a palavra democracia chega a ser motivo de chacota, afinal, a regra quase sempre é esta: para o inimigo a lei, para o amigo o "jeitinho". E estamos nos referindo apenas à democracia formal, pois se formos mencionar a verdadeira democracia, ou seja, a democracia substancial, que preconiza uma igualdade de fato, e não apenas sujeitos de direito abstrato, as coisas, então, viram piada de gosto duvidoso! A democracia abstrata não alimenta quem tem fome; não dá educação de qualidade aos pobres; não cuida dos doentes; não coloca a pessoa sob um teto digno; não prepara o indíviduo para a cidadania; não emprega, em compensação, desampara...

É com muita tristeza, que vemos indignados e quase impotentes, uma meia-dúzia de famílias dominarem a mídia no Brasil e ainda estufarem o peito para grasnar uma "democracia" de fachada. Desde quando, alguns coronéis que trocaram o chicote pelo black tie, podem querer ganhar uma eleição no grito e no poder do dinheiro? Trocar as esporas das botas, por uma roupa mais sofisticada, muda também a alma de quem tem horror aos pobres? Basta alguém começar a tentar dar um pouco de dignidade ao povo e as elites reacionárias querem colocar mordaças, não apenas nas nossas bocas, mas nos tirarem o direito sagrado de sermos humanos? Já não se contentam em apenas dividir migalhas durante 500 anos?

Deixemos de ser uma republiqueta de bananas e vamos respeitar a vontade do povo, ora! Não é com mentiras, calúnias, infâmias e força bruta, que a direita reacionária voltará ao poder. É preciso que este PAÍS assuma de vez o seu destino de crescer com autonomia, liberdade e responsabilidade. O Brasil é de todos, não é apenas de meia-dúzia de famílias, que faz da onipresente mídia, um meio para tentar impor interesses mesquinhos. O Estado brasileiro deve ser um meio para promover o bem comum, não pode, por isso, ter compromisso com quem diz "informar". A mídia não pode estar acima da lei. A lei é para todos e deve ser democrática, principalmente, porque os canais de televisão e rádio são concessões estatal, e não poder de grupos privados, que só gostam da "democracia" que assegura privilégios à nata da sociedade.

O PAÍS está no caminho certo e precisamos apenas colocar a CONSTITUIÇÃO cidadã em prática. Democratizar este PAÍS. E isto inclui cidadania de fato, e a mídia não pode ser contra um Estado, que tem no povo a sua referência. A sociedade é a genitora do Estado. Este, então, deve cuidar de todos: desde a pessoa mais humilde à mais rica, ninguém pode querer ser mais "igual" do que os outros.

AVANTE BRASIL, pois a sua vocação é a luz que ilumina e não as trevas daqueles que, por terem um microfone, a audição e a imagem onipresente e onipotente, pensam que podem ofuscar a nossa inteligência e o nosso sagrado direito de escolher o caminho que queremos seguir; mesmo que as nossas escolhas se mostrem equivocadas, pois é participando do jogo democrático que aprenderemos o que é a democracia de fato. Assim como ninguém aprende a nadar apenas teoricamente, ninguém saberá o que é a democracia somente através dos discursos dos donos do poder no Brasil. Por quê? Porque eles são treinados para exigir dos outros, todavia, quando se trata de exigência alheia, geralmente a intolerância é a regra: "façam o que eu mando, mas não façam o que eu faço". Consideram a maioria dos brasileiros cidadãos de segunda classe, para dizer o mínimo... A voz do povo é inviolável e intransferível, não está à venda. Façamos o nosso destino e torçamos para que a mídia possa informar com lucidez e coerência. O bom senso e a tão decantada "informação democrática agradece. E que a luz da Filosofia continue atenta para denunciar as tentativas de profissionais que fugiram das aulas de ética.


TEXTO: Marco Aurélio Machado

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O MITO DO LIVRE-ARBÍTRIO

O livre-arbítrio é um dos maiores argumentos utilizados pelas pessoas de boa-fé ou má-fé para tentar explicar o mal que acomete os seres humanos. Todavia, uma pequena reflexão pode jogar por terra a tentativa de explicar o que não tem explicação.

A maioria das pessoas, para fazer predominar as suas crenças e opiniões infundadas, parece ter um certo horror à lógica, e muitas querem encarcerar deduções lógicas em prisões dogmáticas. Vejamos mais de perto o tão decantado argumento do livre-arbítrio e as contradições lógicas que insistem em desaprová-lo. Recorrer ao argumento do livre-arbítrio é o mesmo que dizer que somos livres e responsáveis pelos nossos atos e atitudes. Em primeiro lugar, qual é o livre-arbítrio que uma criança de cinco anos tem? E uma criança de dois anos? Um pai responsável seria capaz de colocar uma criança de dois anos num ônibus, para viajar para o centro de uma cidade grande? Por acaso, os seres humanos em relação a DEUS, não teriam menos de dois anos? Deus, por ser onisciente, já não sabia desde a eternidade o que um dos seus filhos faria? Se sabia, como poderia colocar à prova alguém cuja atitude já estava escrita? Se, por outro lado, Deus não sabia, como pode ser DEUS e onisciente? Parece o Mito de Adão e Eva. Deus já sabia que Adão e Eva pecariam. Se dissermos que não, então duvidaremos também da onisciência, onipotência e onipresença divina. Se sabia, não precisava experimentá-los, certo? A lógica é fria e não podemos colocá-la a serviço do nosso narcisismo divino...

O argumento do livre-arbítrio é totalmente contraditório. Uma criança de dois anos pode escolher não ser vítima de um pedófilo? Pode escolher não cair da sacada de um edifício? Quem poderia olhar por ela? Os pais? Mas os pais são imperfeitos, não são oniscientes, onipotentes e onipresentes. O único "pai" com todos esses atributos é o "pai" divino. Entretanto, é triste constatar que as crianças são vítimas de violências as mais variadas e, infelizmente, ainda não se viu intervenção do único ser que poderia fazer isso. Dizer que Deus deu livre-arbítrio para os seres humanos, é mais improvável do que afirmar que um pai responsável deixa um filho de dois anos viajar sozinho. Pior: o primeiro "pai' é DEUS, o segundo, um ser humano. Não tem o menor cabimento. Todavia, é nesse tipo de absurdo que as pessoas ingênuas querem nos fazer acreditar. A palavra é providencial: acreditar. Crença não é um fato, é apenas uma crença!

Essas pessoas não conseguem explicar quase nada, mas querem explicar a mente divina através de argumentos pueris, crenças e superstições. É o cúmulo da arrogância.

Eu poderia desenvolver este assunto com muitas e muitas páginas e demonstrar, cabalmente, que de um ponto de vista lógico o argumento do livre-arbítrio é fraco e infantil. Mas fico por aqui e espero ter contribuído para que as pessoas possam refletir sobre o assunto sem paixões, devaneios e piruetas acrobáticas que não explicam nada...

Texto: Marco Aurélio Machado

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A PRIVATIZAÇÃO DO AR

Nas minhas "viagens," para trabalhar todos os dias, às vezes mergulho fundo em alguns questionamentos que fariam um "louco" se sentir "normal". Vou compartilhar com os poucos visitantes deste espaço, uma dessas minhas especulações tenebrosas, dignas de um filme de terror. Parece brincadeira, mas em se tratando de dinheiro, ganância, ambição e egoísmo, é bom não duvidar. Aliás, se dinheiro fosse comida, muitos capitalistas comeriam só notas de EUROS.

Não sei como os capitalistas e "empreendedores" ainda não descobriram uma forma de "privatizar" o ar. Sim, porque já arrumaram um jeito de privatizar as terras ( parece até que receberam escrituras e registros de loteamentos, divinos), e também já são "donos" até do verbo criador do mundo.

Não vai demorar muito e algum grande empresário descobrirá a "fórmula" de filtrar o ar, não para benefício da Humanidade, mas para engordar a sua conta bancária. Virá em forma de download, direto da esfera celeste! Quem teria direito de respirar um ar puro e revitalizador? Os ricos e a classe média alta. Aquela que não é proprietária dos meios de produção, assalariada, ou composta por profissionais liberais, mas que tem pose de rica. Há exceções, é claro. A crítica não é uniforme. Pobre, "rica" classe média...

Essas classes pagariam uma senhora taxa por mês, com direito a reajustes anuais. Caso o cliente ficasse inadimplente, o "filtro" seria cortado...Parece brincadeira, mas é preocupante, afinal, a educação, a saúde, a televisão, a internet, a terra, a água, os animais e as plantas, já têm donos. Se pagaram a duplicata a Deus é outra discussão. O mais engraçado disso tudo é que muitos empresários agradecem a Deus pelo fato de terem sidos "abençoados". Benção para explorar o que deveria ser de todos? Pois é...

Pobre Humanidade. Pobres, ricos exploradores...Todavia, pelo menos um tipo de ar fora privatizado, afinal os ricos e a classe média alta respiram um ar puro, mormente aos fins de semana e nas férias!! Onde? Nos sítios, chácaras, condomínios fechados, fazendas e outros refúgios naturais.

Seria interessante, que o nosso lindo planeta azul, pudesse ser um lugar onde não houvesse territórios cercados com arames farpados, muros, camêras e cercas elétricas; que as malditas crenças ( não apenas as religiosas ), não dividissem os homens, pois onde não há reflexão racional, impera a "lei dos instintos". Como seria bom, se pudéssemos usufruir os recursos naturais e não sermos "proprietários"de nada. O melhor exemplo de que isso é possível, é o AR, elemento essencial à vida de todos, mesmo que seja poluído pelo efeito do "progresso". O "progresso" em direção à morte. A morte de tudo que é belo e natural. Pergunta: os outros elementos também não são, por acaso, fundamentais à vida? Por que, então, foram privatizados? Bendita seja a democratização do ar, pois o dia em que ele for privatizado, só os ricos e a classe média alta (será?) poderão viver. Tudo muito triste...Antes, só existissem os pássaros...

Texto: Marco Aurélio Machado

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

FILOSOFAR ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE!

Filosofar é voltar a ser criança. É olhar para todas as coisas como se tivéssemos olhando-a pela primeira vez. É o espanto e a admiração. É ter dúvida, onde a maioria das pessoas tem certezas. É ter uma visão ampla, raciocínio rigoroso e coerente e, principalmente, ir à raiz das questões.

A Filosofia é diferente da ciência. Onde a ciência termina, começa a Filosofia. Por outro lado, onde termina a Filosofia, começa a religião. Tudo é objeto do filosofar. Mas há um limite. Vamos até essa fronteira. Daí para a frente, se não tomarmos cuidado, expulsaremos a razão e deixaremos a imaginação e a fantasia tomarem conta do nosso ser.

Filosofar é um ato corajoso. É mergulhar fundo. É sofrer toda a responsabilidade e a angústia pelos efeitos das nossas perguntas. Cada resposta torna-se-á uma nova pergunta. É, por isso, que a Filosofia existe desde o século VI a.C. Quem deseja certezas, deve correr da Filosofia como o diabo foge da cruz. Na Filosofia não há lugar para misticismos e superstições infantis.

Filosofar é incomodar: perguntar, comparar, analisar, confrontar, sacudir, criticar e buscar ad infinitum as respostas. É dormir e acordar com as perguntas. É sonhar e ter pesadelos com o ponto de interrogação. É pular no abismo profundo da nossa "alma". É brincar com as respostas como as crianças...É andar na escuridão em busca da luz. É preferir o precipício ao terreno firme. É ter orgasmos intelectuais com aquilo que de mais sagrado o ser humano tem: A LUZ DA RAZÃO.

Seja bem-vinda, madame Filosofia e os seus benditos frutos: O ESPANTO E A ADMIRAÇÃO! Sem eles, a Humanidade se perde na mais profunda escuridão da estupidez, e pode fazer companhia aos equinos!! Os equinos têm uma vantagem sobre aqueles que residem nas certezas e, por isso, matam o movimento, o dinamismo, numa palavra, a própria vida. Eles não sabem que são equinos...Façamos, urgentemente, o uso da razão, para que o mundo humano seja iluminado por ideais nobres e altruístas guiados pelo bom senso; para que aqueles que vivem nas trevas dogmáticas não nos apontem o caminho do delírio, de uma imaginação descontrolada e, portanto, paranóica. Onde não há luz filosófica, só pode haver as trevas mais nefastas ao gênero humano...



TEXTO: Marco Aurélio Machado

sábado, 7 de agosto de 2010

ATEÍSMO E ÉTICA!

Escrever sobre o ateísmo é muito complicado. Geralmente, tento explicar o conceito, mas em vez de as pessoas prestarem atenção no que está sendo dito, elas estão acumulando crenças para tentar refutar o que ainda não compreenderam. Quem sabe que DEUS existe? Ninguém. Quem acredita em DEUS/DEUSES? Quase toda a Humanidade. Mas é diferente: uma coisa é crer, outra muito diferente, é saber. Eis o dilema. Vou tentar esclarecer, que é possível ser uma pessoa descrente e ter uma ética altruísta e magnânima. Uma ética humanista, ou seja, a que coloca o homem como senhor do próprio destino sem recorrer às forças sobrenaturais.

Ateísmo é apenas a ausência de crenças em DEUS(ES). Uma criança de dois anos é ateia, porque não tem crenças. As crenças virão através dos pais, da sociedade e da cultura em que ela viverá. Este é o chamado ateísmo passivo ou fraco. O ateísmo forte ou militante é mais radical, pois nega uma suposta existência divina; não é o meu caso. Eu não sei se existe um DEUS. Até gostaria que existisse, mas tenho um compromisso com a verdade, não com crenças. Nada mais.

O que vamos fazer da nossa vida é uma escolha nossa. Os países mais desenvolvidos do mundo (exceção dos EUA) têm um grande percentual de ateus e pessoas com cursos superiores. E há um índice muito pequeno de criminalidade. Portanto, têm uma ética e leis apenas e tão somente humanas. Os países mais religiosos do mundo são, geralmente, os mais miseráveis e explorados, e onde os índices de criminalidade são enormes. Como explicar esse paradoxo? A religião, infelizmente, não é garantia de paz, quase sempre mata-se e discrimina-se as pessoas em nome de DEUS/DEUSES.

Somos livres para fazer o bem e o mal. No caso do ateísmo, temos a liberdade para fazer um mundo apenas humano e colocar limites aos nossos instintos, através da moral, da ética e das leis humanas. Não há garantia de que os seres humanos vão preferir a paz ou a guerra. Assim, como não há garantia nenhuma de paz num fundamento moral DIVINO. A crença em Deus, pelo contrário, tem promovido muito ódio, preconceito e genocídios terríveis entre os povos. O darwinismo social já existe, inclusive, com a complacência de uma suposta existência divina, afinal, o país que faz mais guerras no mundo são os EUA, e quase 90% dos cidadãos americanos acredita em Deus. A maioria é protestante. Paradoxal, não? Li em jornais que o ex-presidente americano chegou a afirmar que fora DEUS que o mandou invadir o Iraque...

Estamos tão acostumados com essas crenças que achamos impossível vivermos sem uma tutela sobrenatural. Ninguém nasce católico, evangélico, espírita, islâmico, budista ou qualquer outra religião. Os homens são capazes de formular os seus valores, princípios, normas, regras e leis PERFEITAMENTE bem. A maior parte da HUMANIDADE acredita em DEUS. O mundo está melhor por causa disso? Pelo contrário, a crença em DEUS(ES) gera muitos assassinatos por causa dos conflitos religiosos e de crenças divergentes. Somos capazes de colocar limites aos nossos instintos; somos capazes de construir um mundo melhor apenas e tão somente por sermos diferentes dos animais. A ética só pode existir, verdadeiramente, se ela, única e exclusivamente, for um valor humano. Enxergar o ser humano como um fim em si mesmo e não um meio para se ganhar a salvação. Isto, a meu ver, é fazer um comércio metafísico com um suposto DEUS. Faço o bem, porque tenho medo da ira divina. E, esqueço, que se Deus existe, ele sabe disso! E como deve saber!!

Devo fazer o bem independentemente da existência divina. Por quê? Porque sou um ser humano e tenho a obrigação de me colocar no lugar do outro. Penso que se alguém ama, verdadeiramente, neste mundo, são as pessoas descrentes, porque fazem o bem sem esperar nada em troca num plano espiritual. Se faço o bem querendo ganhar mais num plano espiritual, eu realmente amo alguém? Amo a mim mesmo; sou um tremendo egoísta. PIOR: ainda achamos que se existe um DEUS e se ele tiver todos os atributos que dizemos que tem, que ele não perceberá o quão hipócritas e egoístas nós somos.

Quem é mais honesto aos "olhos" de um suposto DEUS? Faça uma pesquisa nas prisões e você verá: a maioria absoluta acredita em Deus. Nos EUA, 75% da população carcerária acredita em DEUS (são cristãos). Apenas 0,2% dos presidiários são ateus. Se há 300.000.000 de habitantes nos EUA e 10% são ateus, a população carcerária de ateus é ínfíma. O mesmo podemos dizer dos países civilizados. Para citar apenas alguns, na Noruega, Suécia e Dinamarca, por exemplo, se não me engano, a maioria absoluta da população é ateia. Como é o padrão de vida por lá? E, por que, é justamente nos países mais pobres que as grandes religiões monoteístas predominam? Por que se abre mão deste mundo, em prol de um suposto paraíso? Por que não podemos ter um padrão de vida melhor aqui e agora? Por que não ser feliz aqui primeiro e se houver um paraíso, ser feliz lá também? Pois é...

Somos instintos e somos os únicos animais capazes de fazer escolhas também. Por isso, valores éticos só podem existir entre seres humanos. O animal não é bom e nem ruim. O ser humano é capaz de se colocar no lugar do outro; premeditar o mal e fazer o bem. A vida de um cético é muita valiosa, pois ele acredita que é a única. Não faz planos para o além-túmulo, logo, se a vida é uma só, não vale a pena desperdiçá-la com medos e desesperos que não podem ser provados. Fazer o bem sem esperança é difícil...Eu sou um cético, mas tenho religiosidade. O que é isto? É fazer o bem sem ter uma religião e ser um cidadão de um mundo sem fronteiras.

Texto: Marco Aurélio Machado

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O HOMEM E O PODER DAS PALAVRAS!

O homem é o único ser que pergunta. Por que o homem pergunta? Porque não sabe. Por que não sabe? Porque não nasce sabendo. Por que não nasce sabendo? Porque o homem é mais do que instinto ou programação biológica. Por que é mais do que instinto ou programação biológica? Porque é um ser de cultura. Por que é um ser de cultura? Porque compartilha uma parte da natureza com os outros animais, devido às necessidades de um ser vivo animal, todavia, é mais do que os animais, pois é o único ser da natureza que transforma a natureza e, consequentemente, é transformado por ela. E o que tem isso a ver com o homem? Tudo, ora!

O homem, além de ser parte natureza, é também cultura. Isto significa que o homem é um ser de transcendência: transforma a natureza pelo seu trabalho intencional e consciente, dá sentido e significado à sua vida e se situa no tempo e no espaço, devido a uma questão fundamental: o aprendizado da linguagem, através das relações sociais. Daí a importância do enriquecimento do vocabulário humano. Uma linguagem rica de sinônimos será de suma importância para a extensão e a compreensão do nosso mundo, na maneira humana de pensar, sentir e agir.

Entretanto, não basta ter uma linguagem rica. É preciso ser o senhor da linguagem. As palavras, os conceitos são representações do "real". O que é representar? Tornar presente novamente. Eis algo que escapa a tantas pessoas...Tornar presente novamente é fazer abstração daquilo que está ausente de nós, mas que se torna presente por um processo de abstração. Aqui mora o perigo. Podemos estar tão encantados pelas palavras, que não percebemos o seu enfeitiçamento. As palavras encantam...As palavras envenenam...

Quem sabe a diferença entre elas e já mergulhou profundamente na relação entre o pensamento e a linguagem, sabe bem o que quero dizer: o pensamento é a palavra em potência. E a palavra é o pensamento verbalizado e dinamitado. Mas a palavra pode ser mais do que a dinamite. A dinamite explode e faz muitos estragos, disso ninguém duvida. A palavra, porém, pode ter o efeito de uma espada. Antes esta espada cortasse apenas a nossa "carne". Uma espada comum, fere a carne, no entanto, a espada, simbolicamente representada pela língua, corta a alma das pessoas. É muito importante sabermos disso...

Algumas pessoas são doces (no fundo são ácidas, amargas e mal-amadas ) com uma sutileza de invejar um sofista. São amáveis, carinhosas, polidas e enganam a muitos. Fico até com pena da ingenuidade de tantas pessoas que se deixam levar. A mim, entretanto, elas não enganam. Conheço "cheiro" de hipócritas a quilômetros de distância. Conheço as sutilezas de uma linguagem venenosa. Não preciso ouvir a voz das pessoas. A forma de escrever revela muito: as frases soltas e "inocentes". Pois é...

Nesta vida, as máscaras caem. E muitas vezes não precisamos mover uma palha para que a lição seja aprendida: a falta de autoconhecimento sobre o poder que as palavras têm pode ser fatal de um ponto de vista psicológico. Cada um que carregue a sua cruz e se responsabilize pelas palavras que solta ao vento. Uma pessoa sábia não busca aplausos e tem a consciência leve. Não sente tanto os efeitos das palavras, pois se coloca sob a mira delas o tempo todo. Só observa e não julga os possíveis efeitos delas sobre si. Não sabe se muitos que gostam de falar "umas verdades", têm estrutura emocional para tomar o contragolpe.

Eis um dos motivos de se dar corda e sair do "combate". Muitos chamam tal atitude de covardia, como se o bater boca fosse sinônimo de valentia. Ao dizerem que somos isto ou aquilo, não percebem que estão dizendo implicitamente: SEJA MAIS PARECIDO COMIGO! Como não percebem as trevas da própria alma, enxergam as dos outros. São os "Procustos" da vida, a procura de medir pessoas e atitudes na sua "cama de ferro". São os atores de periferia, que de tanto usarem máscaras, já não sabem se são pessoas ou os(as) personagens que encarnam...São os donos de navios que já afundaram faz tempo, cujos fantasmas cultuam a "abelha rainha em forma de zumbi". São os filosofastros virtuais, cuja profundidade estar em fazer citações de filósofos, porque as suas (delas) ideias são cópias de um senso comum esclerosado, mofado e preconceituoso. Parte de uma classe sem rosto, que não tolera a frustração diante da coragem de pessoas que dizem "NÃO". São os curiosos da vida alheia, porque a própria vida é destituída de significado.

Não vale a pena perder tempo com quem não tem rosto( uns não têm literalmente, não se sabe qual o papel que representam ) e um possível coração de vidro...A melhor escola que tem é a vida, e ela não tem pressa...

Texto: Marco Aurélio Machado

terça-feira, 13 de julho de 2010

A MÍDIA E AS NOVELAS!

Faz algum tempo que venho refletindo sobre a mídia. Em especial, a mídia televisiva. Antigamente, mesmo em casos criminais cometidos por pessoas famosas, a mídia informava e, logo, havia outras "novidades". Sim, "novidades" entre aspas, porque acontecem tantas coisas boas, todavia, a impressão que se tem é que este mundo é um "circo de horrores". Por quê? porque notícias boas quase nunca vendem jornais e nem aumenta a audiência...

A notícia já não cabe numa edição de jornal. A notícia virou novela. Uma "novela" que transcende, em tempo real, as fronteiras do país, nesta imensa aldeia global que se tornou o planeta Terra. A notícia é comentada, discutida e debatida à exaustão. Inclusive, acontecem outros crimes devido aos comentários dos crimes precedentes. A notícia tem gerado paixões, a ponto de se condenar o suposto culpado, num réu criminoso e quase sempre considerado "psicopata", antes mesmo do julgamento no tribunal. Sobram demagogia e sensacionalismo por toda parte. Já não importam os fatos, mas como se contam os "fatos". O que importa é a audiência...

O jornalismo, por natureza, faz um recorte dos "fatos". Ele é tirado do contexto em que supostamente os fatos aconteceram, e editado em pequenos capítulos da nova novela: a jornalística. A diferença é que nas novelas, normalmente, os verdadeiros culpados são presos ou têm um fim trágico; o galã vence e, no último capítulo, quase todos se casam e são felizes para sempre...Na novela jornalística, não. O fim quase sempre é trágico, principalmente, se a vítima é pobre e não pode pagar um advogado para se defender. Quando é rica e famosa, pode ter o dinheiro para os honorários dos advogados, entretanto, são condenadas antes do julgamento. Os fatos? Os fatos são feitos e refeitos. A opinião pública? Não tem opinião, apenas repete os deuses apresentadores, os juízes soberanos do novo pódio: o Olimpo televisivo.

A mídia "suga" a notícia novela até as últimas consequências; quando a audiência fica escassa,, vai atrás de novos capítulos tenebrosos. Catarses coletivas? A desgraça alheia é divertida? Evidentemente, há exceção, no entanto, rara como encontrar um diamante lapidado num bairro de periferia. Aonde vamos parar? Não vamos. Na sociedade do espetáculo, tudo é "espetáculo". As aparências coloridas dão de goleada na essência, palavra séria candidata a desaparecer dos dicionários num futuro próximo.

Todavia, o pior de tudo, é que o apresentador do "jornal novela", já não é humano. Estamos diante dos novos deuses que falam através do novo Olimpo: a emissora de televisão e outras mídias conhecidas. O apresentador deus é onipresente, pois está em milhões de lares, concomitantemente. Tão perto e tão distante...E as massas questionam os deuses? Não. Elas repetem, tal qual um papagaio de pirata, os mantras das emissoras.

A meu ver, estamos diante de um fenômeno preocupante. A justiça do "jornalismo noveleiro," dos novos deuses midiáticos, está acima das leis humanas. E o que está por trás disso tudo? Um outro deus, que já desbancou os deuses de várias religiões: o deus dinheiro. Lamentável!! Mais do que nunca, a Filosofia é a luz que jamais pode se apagar. Contra esses deuses, o melhor antídoto é a luz da razão...

Texto: Marco Aurélio Machado

terça-feira, 29 de junho de 2010

O QUE É A FELICIDADE?

O que é a felicidade? Sempre escuto alguém dizer: "Eu sou muito feliz"! Mas quase nunca escuto alguém perguntar: "O que é a felicidade"? Penso ser muito difícil responder tal pergunta e não sei se alguém tem respostas, mas de qualquer forma, às vezes, que não eu tive consciência da minha felicidade, percebi que era feliz em ato. Não há tempo e nem espaço. A ação da pessoa está focada num grande prazer, que, por incrível que pareça, as palavras não são capazes de descrevê-lo. Não há nada de místico nisso. É apenas uma constatação. Quantas vezes já ouvir alguém dizendo que era feliz e não sabia?

O que é a felicidade? Se não sei o que é uma coisa, como posso saber que tenho ou sou essa coisa? Estas questões me lembram a constante presença de Platão. A assombração de uma suposta alma que já vivera no Mundo das Ideias e que conhecera a felicidade. Como? Através do método dialético platônico, que preconizava a purificação dos erros e equívocos "fabricados" pelas nossas opiniões, para chegar ao mundo "verdadeiro". É a chamada Teoria das Reminiscências. A alma conheceu antes e, por isso, pode reconhecer...Mas não é sobre isso que quero escrever...

Outros dizem que são felizes, porque sentem a felicidade. O que é sentir a felicidade? Mas as coisas se complicam, pois outra pergunta continua a nos incomodar: "O que é o sentimento"? Vou tentar responder, todavia, não tenho a intenção de ter a última palavra sobre assunto tão espinhoso. Enquanto houver pensamentos dirigidos a um fim, não haverá felicidade. Uma criança é feliz em ato. Se você tem consciência da própria felicidade, então, não há felicidade alguma. Uma pessoa feliz não lembra do passado e nem antecipa o futuro. Ela vive num eterno presente. Não há pensamento e nem sentimento. Há somente o ato no presente. Nada mais!

Vou citar um princípio cristão, apesar de não ser religioso: " Se vós não voltares a ser como as crianças, não entrarás no Reino do Céus". Jesus Cristo. As crianças são puras, inocentes. Brigam e, logo em seguida, estão brincando. Não guardam mágoas. E não sabem o que é o egoísmo. Não sabem, porque agem e não ficam raciocinando sobre se agiram certo ou errado. É do ponto de vista de um adulto que as crianças ganham os rótulos. Elas simplesmente são o que são. Nunca querem ser o que não são. Depois que se vira adulto, isto por acaso acontece? Quantos são capazes disso? Eis a felicidade: a felicidade das crianças!

O mais engraçado disso tudo, é que ainda dizemos que é preciso educar as crianças. Deveríamos, isto, sim, sermos educados por elas...




TEXTO: Marco Aurélio Machado

sábado, 19 de junho de 2010

TEORIA DO CONHECIMENTO!

A Teoria do Conhecimento é a parte da Filosofia que faz uma reflexão a respeito dos fundamentos do conhecimento humano. Faz perguntas e procura respondê-las, mas, como sempre, em Filosofia, as perguntas não param. Penso que a Teoria do Conhecimento é a base da Filosofia. E há teorias divergentes sobre qual o filósofo ou corrente filosófica foram capazes de responder, peremptoriamente, à pergunta nuclear: " O que é o conhecimento"?

Os filósofos gregos antigos já diziam que o homem é um animal racional. Mas o que é ser racional? O homem pode conhecer alguma coisa com certeza? Alguns dizem que sim, outros, que não. Vamos, desde o ceticismo radical que nos leva fatalmente ao solipsismo, ao ceticismo relativo, que preconiza ser possível conhecermos algumas coisas. Temos filósofos e correntes filosóficas que são dogmáticos e, por isso, afirmam que é possível conhecer a "verdade". Há filósofos, por exemplo, crentes que a razão pode conhecer a essência das coisas, pois ela pode ir além das aparências. Existem teorias sobre o conhecimento para todos os gostos!

Entre as perguntas, para os que pensam ser possível termos algum conhecimento verdadeiro, portanto, aqueles pensadores que discordam do ceticismo absoluto, temos as seguintes: "Quantos elementos é preciso para que haja o conhecimento"? Esta pergunta é fácil de responder e aproveito para respondê-la agora: dois. Quais são? O sujeito que conhece e o objeto que é "conhecido". Lembrando, que o próprio sujeito pode ser objeto de conhecimento. As ciências humanas, por exemplo, lidam com essa forma de conhecer. Fácil, não? Daí para frente, caímos na mais profunda escuridão, mas a tentativa de iluminar essa escuridão existe desde o surgimento da Filosofia, no século VI a.C.

Entretanto, continuemos...A "verdade" está no objeto? Está no sujeito? Está na relação entre o sujeito e o objeto? Neste caso, não está nem no sujeito e nem no objeto, pois não existe um sem o outro. A verdade é histórica? É cultural? Ela se faz na produção e reprodução da vida material dos seres humanos? Ela é convencional, um acordo das instituições humanas? Novos problemas vão surgir, evidentemente. Não darei nomes a essas correntes filosóficas, porque não é a minha intenção lecionar Filosofia no blog, mas apenas despertar curiosidades, para que os interessados possam pesquisá-las.

Outras perguntas que a Teoria do Conhecimento procura responder são: "O conhecimento é pragmático, ou seja, verdadeiro é aquilo que é útil e funciona"? Quais são os limites para a razão humana? Qual é o valor do conhecimento? É possível um conhecimento racional puro? O conhecimento racional puro é impossível, pois tudo começa com os dados sensoriais? Há imparcialidade dos sujeitos envolvidos? O poder econômico, político, cultural e ideológico interferem na busca pela verdade? E por aí vai...

Fica evidente, neste pequeno texto, que em Filosofia nada é fácil. Mas isso não é motivo para que fiquemos paralisados e acomodados. Geralmente, as pessoas que gostam de Filosofia se identificam com uma ou mais correntes filosóficas, e procuram defender as suas teses. De minha parte, gosto muito do ceticismo, em geral, e, do pirrônico, em particular, do existencialismo de Sartre e do Marxismo. O conhecimento, para mim, tem uma base material, concreta e sensível: ele começa nas relações sociais humanas com a natureza, na produção e reprodução da vida material. Ele é ontoprático, como dizia o meu ex-professor José Chasin.

Neste sentido, a Teoria do Conhecimento torna-se uma ontologia, em que o homem vivo e ativo transforma a natureza e é transformado por ela. Os que são enfeitiçados pela linguagem e pela lógica como forma de fazer Filosofia, invertem a ordem do mundo, para o deleite dos exploradores e da Filosofia idealista de inspiração platônica, o reacionário aristocrata...

Talvez seja por isso que a tradição idealista tenha ganhado a parada. Ela é essencial para que os conceitos abstratos sejam mais importantes do que o mundo material e para a invenção de um paraíso eterno imaginário: o combustível da esperança, de um mundo melhor para as massas alienadas...Pergunto: "Alguém já viu um pensamento pensando sozinho"? Acho graça!


Texto: Marco Aurélio Machado

sábado, 12 de junho de 2010

OS NARCISISTAS QUE NÃO GOSTAM DE ESPELHOS

Neste texto, eu quero fazer uma reflexão "superficial" sobre o conceito de "narcisismo". Muitas coisas têm sido ditas e escritas sobre o Mito de Narciso, principalmente, quando se trata da referência ao espelho. Eu quero escrever um pouco sobre o narcisista que não gosta de espelhos...Eu li ou ouvi (não me lembro mais) há muito tempo, mas não sei se tudo não passou de um delírio...O título,  se alguém pensou antes,  nunca soube, pois esta ideia me veio assim que acordei, e escrevi o texto. Esclarecido, vamos aos “fatos”.

A meu ver, os piores narcisistas são aqueles que não se sentem atraídos pelos espelhos. Talvez, eles até poderiam gostar de um espelho que multiplicasse a sua "beleza" ao infinito...A vaidade, o orgulho e a arrogância deles estão na "alma". Por isso, não perdem tempo com um objeto tão insignificante. Para quê? Um reles espelho? Não precisa!

Conta a lenda que um determinado rei queria casar a sua filha com um rapaz sábio, humilde, honesto, leal, trabalhador, entre outras qualidades. Para isso, mandou chamar alguns pretendentes. O rei colocou um espelho na entrada do castelo e ficou da sacada a observar os "candidatos". Passou um, parou diante do espelho e ficou arrumando o cabelo; outro, se a barba estava bem feita; um terceiro, se o corpo estava bem "malhado", diríamos hoje; e, assim, sucessivamente...O rei, por sua vez, ao observar o suposto narcisismo dos pretendentes, ficara desapontado...

Quando estava quase desistindo de tarefa tão inglória, eis que surge um cavalheiro muito bonito, parecia um deus grego. Este candidato passou diante do espelho e nem o notou. Não parou diante do imã que reflete imagens. Apresentou-se ao rei, que ficou encantado com tanto "refinamento": educado, sábio, entre outras qualidades que o rei queria para aquele que desposaria a sua linda princesa: a sua filha.

Pois bem. O rei casou a filha com o suposto cavalheiro "humilde". Na verdade, o agora genro, era o mais narcisista entre todos os concorrentes. A sua vaidade não estava em ficar admirando-se no espelho. Era tão vaidoso, arrogante e orgulhoso, que essas "qualidades" estavam na sua alma. Exteriormente, existia todo aquele jogo de aparências refinadas; interiormente, no entanto, o genro não se sentia superior, tinha certeza que o era...

Os maiores narcisistas não gostam de espelhos. Eles têm tanta convicção da própria superioridade, que não perdem tempo com "pobres mortais". Não se expõem, evitam discutir, fogem dos debates. Para quê, não é? Já ganharam mesmo. Na verdade, eles continuam debatendo, porém, na intimidade dos seus pensamentos. Dizem, através dos pensamentos: "COMO são idiotas e imbecis esses pobres coitados, não devo perder o meu precioso tempo com essa gentinha". Externamente, dizem: "Puxa, como vocês são inteligentes"!!!

Conclusão: o rei só descobriu a verdade muito tempo depois...Mas aí já era tarde, pois o narcisista já havia tomado posse de tudo...

Texto: Marco Aurélio Machado

domingo, 30 de maio de 2010

OS PEQUENOS PODERES

Gostaria de fazer uma reflexão sobre o poder, mormente, os pequenos poderes. O que é o poder? Vou definir o poder como a capacidade que uma pessoa, um grupo, uma sociedade tem de impor a sua vontade, seja pelo diálogo, persuasão, pela força de uma lei e, no último caso, pela força bruta policial ou militar. O Estado, por exemplo, tem a legitimidade do uso da força. Isso pode ser garantido pela Constituição de um país, ou por interesses vários. Quase sempre os interesses econômicos são os motivos fundamentais...

Todavia, o poder tem vários tentáculos: pode ser poder político, econômico, cultural, ideológico, social, religioso, midiático, carismático, etc. O poder está espalhado por toda a sociedade e é uma espécie de DEUS: onipotente, onisciente, onipresente, e que nos dá a impressão de ser invisível.

Entretanto, eu queria escrever um pouco sobre os pequenos poderes: os "presidentes" de associações de bairros, sindicatos, grêmios representativos de várias categorias e associações, hospitais, postos de saúde...Mais: gerentes, supervisores, "chefes", professores, diretores de escolas privadas ou públicas, vereadores, prefeitos de cidades pequenas e médias, entre outros.

O que há de tão importante no poder? Por que as pessoas incapazes de fazer uma reflexão superficial sobre o fascínio que o poder exerce em si e nos outros, desprovidas de "gerenciar","coordenar" e controlar os próprios conflitos internos são seduzidas por essa espécie de demônio que habita a mente de tantas pessoas medíocres e imbecis? Por que as pessoas que sabem que o poder neste mundo é efêmero, passageiro e transitório, se encantam por esse demônio? Uma vez um prefeito me disse que o poder é solitário. Ele havia sofrido um atentado e esteve entre a vida e a morte, contudo, após se recuperar, retornou ao poder. Bom, se o poder é solitário e "sofrido", por que tantas pessoas o querem? Que magia é essa? O poder deve ser um meio para promover o bem comum, e não um fim em si mesmo.

Se não passamos de seres finitos e a "vala" é o destino de todos nós, por que as pessoas querem glória, fama, dinheiro, status, juventude, beleza e outras coisas que o poder pode, em teoria, fazer uma pequena concessão?

Eu, particularmente, tenho receio dos pequenos poderosos, mesmo que eles tenham um grande poder de direito; sim, pois o poder exercido de fato e consciente é para muito poucos...Não há nada pior do que ser vítima dos "poderosos" paranoicos e inimigos da razão, logo, da lucidez. Caminham na escuridão com os seus "assessores", que têm alergia ao bom senso. Quero distância dos poderosos sem poder. Paradoxal, não? Poderosos sem poder? Explico: não têm o poder de iluminar o próprio caminho, mas querem iluminar o caminho dos seus "subalternos". "Manda quem pode, obedece quem tem juízo", é o ditado popular. Pois é...

De minha parte, quero apenas um poder: o poder de ficar bem longe de desejar o poder. Quero ter o poder de não desejar o poder. E, se algum dia o tiver, por forças alheias e circunstanciais, que eu tenha o poder de ser o seu senhor. A escravidão do poder, prefiro deixar para as mentes que acumulam invejas, ciúmes, egoísmos e tiranias. São os pequenos ditadores, que só trazem desgraças ao mundo...Sim, porque é a partir dos pequenos poderes que as sociedades se sustentam. Os pequenos filhotes da ditadura não têm o poder de saber disso. Por quê? Porque são ignorantes, pois estão muito preocupados com os aplausos e não sobra tempo para se dedicarem à sabedoria e exercerem um poder de fato, e não apenas de "direito". Amém!

Texto: Marco Aurélio Machado

domingo, 23 de maio de 2010

PLATÃO, ARISTÓTELES, MAQUIAVEL E A EDUCAÇÃO EM MG

Platão dizia que o governante deve ser primeiro capaz de controlar as suas paixões, desejos e ambições para, posteriormente, poder promover o bem comum. Em outras palavras, se o governante não é capaz de controlar os seus apetites corporais e mundanos, como poderá governar os cidadãos?

O filósofo e discípulo de Platão, Aristóteles, preconizava que o homem é um animal político por natureza. Ele dizia que para sermos felizes, deveríamos usar aquilo que distingue o homem do animal, ou seja, viver de acordo com os princípios racionais para nos guiar na esfera privada e no espaço público: na vida pessoal, social e política. A política e a ética deveriam ser unidas. A política propiciaria uma vida digna aos cidadãos e a ética aperfeiçoaria o indivíduo para que fizesse da política um instrumento universal em prol do bem comum.

Com Maquiavel, aquele que é considerado o pai da Ciência Política, a situação supracitada mudará. O velho e sábio ideal grego daria lugar à separação entre a ética e a política. A ética passa a ser o espaço da esfera privada e a política assume, peremptoriamente, a dimensão pública. Não entrarei em detalhes, porque aqui neste espaço, infelizmente, não é o foro ideal para profundas reflexões filosóficas. E eu não faço consultas ao escrever, vou puxando pela memória o que escrevo neste blog. O meu objetivo, no atual texto, é voltar à greve dos professores e a relação entre a política e a ética, mesmo que de uma forma "superficial".

Bom, o "governo" estadual de MG reclama que a greve dos professores da rede estadual é "política". As pessoas inteligentes cujo bom senso e a capacidade de refletir são frutos de um exercício diário tão simples, mas que o governo de Minas insiste em não reconhecer. O governo gasta milhões de reais com propagandas na televisão, no rádio e na mídia impressa. Quem acredita? Só os alienados, a direita raivosa e muitos pais desinformados pelo MANTRA DO GOVERNO. Quando "olham" para a classe de professores lutando por melhores salários e condições de vida, não veem pessoas, só "enxergam" cifrões. A razão, senhora nobre inventada pelos gregos antigos, para eles se resume à matemática. O ser humano, na visão deles, não passa de números e quantidade. A palavra qualidade é estranha...Ora, a política permeia, perpassa todas as dimensões da sociedade. Onde houver duas pessoas conversando, há relação de poder, logo, há política. A Política é poder, o poder é político e se espalha tal qual o vento do mês de agosto. O que tem tudo isso a ver com este texto, que parece não ter fim? Muito! E quem são os grandes culpados? O governo, a sociedade, a mídia e a categoria.

Foi por falta de ação política da categoria e dos sindicatos pelegos, que a situação chegou neste ponto, ou seja, apatia e indiferença durante muitos anos por parte da categoria e excesso de uma política de baixo nível, rasteira e desprezível por parte dos governantes do Estado.

Se os nossos governantes leram Maquiavel, deve ter sido um resumo de gosto duvidoso, pois dificilmente fazem algum "bem aos poucos", em compensação, a capacidade de fazer o mal parece eterna. E a coisa pública? É administrada como se fosse a esfera privada. O cidadão quase sempre só é lembrado para pagar taxas e impostos, em troca de uma prestação de serviço de quinta categoria. É lamentável!


Texto: Marco Aurélio Machado

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Greve, Educação e Consciência Política

Penso que se o prejuízo para os alunos, segundo o editorial, é incalculável, o que dizer da situação dos professores durante os últimos oito anos? O Estado, independentemente de ameaças e demissões , perderá excelentes profissionais. E a qualidade das aulas vai piorar, porque a SEE/MG contratará "professores" que fizeram licenciatura por telepatia e querem apenas "fazer um bico" no Estado. Se os ricos e a classe média alta tivessem os seus filhos matriculados na rede estadual, duvido que este governo reacionário continuaria a pagar migalhas aos professores. A educação no Estado é de péssima qualidade, por causa da falta de consciência e poder de pressão da maioria dos pais, que não acompanham ou não têm noção do que acontece na rede estadual. Infelizmente, os incautos formam opiniões através de uma mídia que, em sua maioria, não está preocupada com a educação pública de qualidade. Será que os filhos dos donos da mídia estudam na rede estadual? Duvido. Por mim, a greve continuará...

TEXTO: Marco Aurélio Machado

P.S.: FIZ este comentário no jornal O TEMPO/MG, editorial do dia 20/05/2010. Espero que publiquem na edição impressa.

domingo, 9 de maio de 2010

FILOSOFIA E EDUCAÇÃO NO BRASIL

A Filosofia deveria começar no "útero materno". Li numa revista, há muitos anos, sobre a Filosofia para crianças. Um caso me chamou muita atenção: uma criança de oito anos fez esta pergunta: "Professora, quando o fogo se apaga, ele vai aonde"? Um outro emendou: "E as bolhas de sabão, o que acontece quando estouram"? Bonitinho, não?

As crianças são naturalmente curiosas e, por isso, fazem perguntas muito interessantes. Depois acabam sendo condicionadas pelas crenças descabidas dos mais velhos. Infelizmente, é enorme o número de pessoas que é contra a Filosofia nas escolas. Entretanto, ninguém pergunta o porquê deveríamos ter tantas aulas de Matemática, Física, Química e Biologia...


Ser um cidadão crítico e consciente; raciocinar com clareza e questionar os dogmas e superstições; ser capaz de fazer escolhas com maturidade intelectual, não serve para o resto da vida? Por acaso, isso é inútil? Pelo tipo de político que ganha as eleições no Brasil, é possível perceber como os nossos alunos são "cidadãos". Talvez, se desde a mais tenra idade tivéssemos mais boa vontade com a leitura e a escrita, principalmente, das disciplinas da área de humanas, os problemas fossem bem menores e a capacidade de resolvê-los fosse bem maior...

Alguns dizem que a Filosofia foi imposta no currículo do Ensino Médio. Discordo. Não é imposição. Todas as outras matérias são impostas também? Quais são os critérios para se escolher uma determinada disciplina? O que é a educação? Para que precisamos ser "educados"? Esta educação está a serviço de quem? Por que eu deveria formar um "cidadão" para reproduzir a forma de pensar, sentir e agir da atual sociedade consumista? Desejar um mundo melhor e ter a Filosofia como o caminho da liberdade, não é muito mais importante do que ser um robô programado para dizer: "Sim, SENHOR"?!!

O problema é que os "donos" do país pensam que a razão é privilégio deles e não um direito de todos os seres humanos. Querem fazer da razão uma seita de iniciados; uma espécie de maçonaria. A reflexão filosófica deveria ser estimulada sempre. Temos horror à ideia de prisão do nosso corpo numa cadeia, todavia, quantos questionam a prisão emocional, psicológica, preconceituosa e, principalmente, a tortura das crenças que dividem os homens?



Texto: Marco Aurélio Machado

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O QUE É A MORTE?

A morte é a certeza inexorável e implacável, de que todos os seres humanos, animais e vegetais não escaparão. O ser humano, ao que tudo indica, por enquanto, é o único que sabe conscientemente e peremptoriamente (definitivamente), que a destruição do seu "corpo" material é inevitável.

Eis a grandeza e a miséria humana: por um lado, a consciência, a razão e, portanto, a capacidade de dar significado e sentido às coisas, pessoas e ações. Por outro, essa capacidade humana impõe ao ser humano, tragicamente, a consciência da finitude e, consequentemente, o desaparecimento e o aniquilamento total. Devolveremos os nossos átomos à mãe de todos nós: a natureza.

O homem não sabe o que é a morte. Se soubesse, não sofreria tanto...A imaginação, faculdade humana por excelência, pode ser benigna ou maligna, dependendo da dose. O ser humano, por isso, inventa as crenças, as superstições e os demais recursos que a sua imaginação coloca a seu dispor para tentar domar esta senhora implacável: a morte. A recusa da finitude e a aposta na imortalidade da alma são apenas algumas das muitas crenças que dão significado ao imenso vazio existencial humano.

Todavia, em Filosofia temos que ser honestos intelectualmente. A "verdade" nua e crua é que ninguém sabe o que é a morte. Se existe uma alma, um espírito, um princípio vital, uma energia que frequenta o corpo de todo ser vivente, em geral, e do homem, em particular, é um profundo mistério...Talvez, seja melhor assim...

Num assunto metafísico e altamente especulativo como o é a morte, cabe ao ser humano procurar um sentido para a sua vida. Ninguém tem a receita, porque a vida, por ser dinâmica, não se deixa enquadrar tal qual uma receita de "bolo". O caminho não tem luz própria, logo, a iluminação virá da razão, da imaginação, dos sentimentos e, principalmente, da ação humana. Se houver uma vida após a morte, ótimo, pois a vida continuará; se não houver, excelente, pois não saberemos que morremos. Melhor ou pior para quem fica, pois dela será a responsabilidade de julgar se a pessoa que morreu fez alguma diferença neste mundo. A meu ver, devemos fazer o melhor que pudermos, apostando na finitude. Assim, faremos o bem sem a esperança de ganhar: única forma verdadeiramente de amar...

Texto: Marco Aurélio Machado

sábado, 24 de abril de 2010

REFLEXÃO SOBRE O CONHECIMENTO, A IGNORÂNCIA E A LOUCURA

Algumas pessoas dizem que eu sou doido, porque escolhi estudar Filosofia e ser professor dessa disciplina. Outros dizem que pensar demais pode fazer a pessoa enlouquecer...Discordo. Em primeiro lugar, o que é a loucura? O que é ser doido? A nossa sociedade, com todos os seus padrões de consumo, de beleza, de fama, de destruição da natureza sem precedentes é, por acaso, normal? Se isso for normalidade, então, eu sou louco, pois quero distância dessa maneira de pensar, sentir e agir. A meu ver, está mais fácil uma pessoa ficar louca, doida, aloprada ou quaisquer outros adjetivos pouco magnânimos que possamos lembrar, lendo e questionando nada ou muito pouco, do que uma pessoa que estuda, ler muito, faz perguntas, enfim, mergulha profundamente nas questões essenciais da existência.

Saber de menos é o que prejudica a pessoa. Principalmente, leitores de um livro só: os livros dogmáticos e que dizem ter a palavra divina. Tudo o que estiver fora do que neles estão escritos, já é motivo de preconceitos. As certezas absolutas podem nos levar à loucura. Acreditar, cegamente, pode nos fazer cometer as maiores sandices. Quem sabe "muito", continuará sabendo pouco, pois tem muito o que aprender ainda. Imagine quem não sabe nada!! Pior...muito pior...Vai ser um ignorante, não apenas no sentido de não saber; a ignorância, quando compreendida com o sentido de não saber, é positiva. Por quê? Porque fica-se com o espírito aberto, amplia-se os horizontes.

A ignorância, por falta de leitura, escrita, espírito crítico, sabedoria, de não querer saber ou de recusar o saber, esta, sim, é o grande problema. Esse tipo de ignorância é ótima para os canalhas, os mentirosos, os manipuladores e os charlatães de toda espécie, fazerem a festa. A melhor maneira de ser um sábio, é ser um ignorante, no sentido de não saber e procurar o saber. E como se faz isso? Fazendo perguntas!! Aprender um pouco de raciocínio lógico e as falácias (argumentos falsos e que nos induzem ao erro). Um racicíonio distorcido, com certeza, distorcerá os nossos mundos, tanto subjetivamente como objetivamente.

Outra coisa muito comum é alguém dizer que eu deveria conhecer com o coração. E desde quando o coração conhece alguma coisa? O coração não conhece coisa nenhuma, sem um cérebro que o comande. Isso é tolice. Ditado popular de gosto duvidoso. O dia em que as massas forem conscientes, críticas, capazes de raciocinar e não depender de muletas dos vendedores de ilusões neste mundo e no além túmulo, veremos o povo ser feliz pela primeira vez...Porque, assim, faremos a nossa própria história. Seremos os nossos próprios guias e dispensaremos os "loucos" que querem nos indicar o caminho que nem eles seguem...Pensar "dói", mas nos liberta...

Texto: Marco Aurélio Machado

sábado, 10 de abril de 2010

A CORUJA COMO SÍMBOLO DA FILOSOFIA

Por incrível que possa parecer, referimo-nos à Filosofia com uma grande frequência e, pelo menos neste espaço, ou seja, no meu blog, nunca fiz qualquer menção ao símbolo da Filosofia: A CORUJA. A meu ver, a Filosofia, além da coruja, deveria ter mais dois símbolos: o ponto de (?) e o ponto de (!) representando o espanto e a admiração, diante da riqueza do real em todas as suas dimensões. Voltemos ao assunto do símbolo da coruja. Será por que a coruja representa simbolicamente a Filosofia?

A coruja é uma ave peculiar. Tem olhos enormes. Enxerga muito bem à noite. É capaz de enxergar coisas numa escuridão total. Os olhos da coruja representam a razão, o logos grego. A razão é capaz de iluminar as coisas mais sombrias e obscuras. Ilumina, traz à luz assuntos e problemas que a maioria das pessoas olha, mas não "enxerga". É capaz de transcender o imediato e aquilo que é encoberto pela ideologia e as convenções sociais. Desvelar o que está oculto e aparente, e relacionar o que está "fragmentado". Olhar as coisas com os "olhos" do intelecto, é ver por dentro, o que muitos só veem por fora. Buscar e mergulhar além das aparências e encontrar a essência, o fundamento ou a raiz do problema. Criticar, analisar, comparar, relacionar, refletir, problematizar, duvidar e continuar interrogando são os atos do filosofar propriamente dito.

Por outro lado, o pescoço da coruja é constituído de tal forma, que a possibilita girá-lo e ver as coisas através de vários ângulos. É o que faz a Filosofia. Uma verdadeira Filosofia é inimiga dos dogmas, das verdades absolutas e eternas. Quem dera se a maioria dos homens fosse capaz de refletir sobre todos os problemas humanos de uma forma tão ampla...quem dera...Fica, portanto, esta pequena colaboração sobre este símbolo tão importante da Filosofia: "A MAJESTOSA CORUJA". É uma pena, que em vez das pupilas, a coruja não tenha nascido com dois desenhos em cada olho: UM PONTO DE INTERROGAÇÃO (?) E UM PONTO DE EXCLAMAÇÃO (!). Bom, acabei de acordar de um belo sonho...Sonhava que os homens haviam acordado do seu sono dogmático e, que, finalmente, fariam um bom uso da sua razão, a única forma de construírmos um mundo melhor...

Texto: Marco Aurélio Machado

sábado, 3 de abril de 2010

ÉTICA OU FILOSOFIA MORAL

O ser humano, diferentemente dos animais, segue regras, princípios, valores e normas. Podemos definir, então, a moral como esse conjunto de valores que dão um norte à vida dos indivíduos em sociedade. Não há sociedade humana sem algum tipo de preceito que orienta a vida das pessoas.

Quando chamamos alguém de imoral, queremos dizer que, às vezes, a pessoa até acredita nos valores morais, mas, em algum momento, o transgride. Por exemplo, uma pessoa pode acreditar na fidelidade, mas se conhece alguém interessante e "trai" o seu companheiro(a), ela cometeu um ato imoral. Posso acreditar que roubar seja errado e pautar as minhas ações na honestidade, entretanto, por uma questão de vida ou morte, posso abrir mão da honestidade e matar a fome dos meus filhos, através de algum ato "condenável": furtar uma fruta ou qualquer outro alimento. Evidentemente, posso cometer atos leves ou pesados como o "chumbo". As perguntas são: a minha consciência me acusará? Eu terei paz? O que fiz foi justo? Veja que não estamos nos referindo às leis feitas pelos homens, ou seja, não se trata de uma questão jurídica. Como exemplo, podemos citar o salário de um político no Brasil. Pode até ser legal, mas será moral, num país onde a maioria do povo ganha salários miseráveis? Pois é...

O amoral é alguém que não tem nenhum compromisso com os valores morais. Não segue uma regra; não tem consciência moral; não sente culpa, remorso ou arrependimento. É capaz de enganar, manipular e até assassinar pessoas, para satisfazer desejos egoístas. São os chamados psicopatas e outros adjetivos pouco "nobres".

A ética, quase sempre, é confundida com a moral. A palavra ética vem do grego (ethos) e significa costumes. A palavra moral vem do latim ("mores", "morus") e tem o sentido de costumes também. A ética é a morada do homem. Ela nos tira do estado de natureza bruto e nos dar um verniz de cultura. Percebe-se que ambas têm raízes comuns. De um ponto de vista prático, podemos até usá-las com o mesmo significado, todavia, filosoficamente, a ética serve para designar a parte da Filosofia que faz uma reflexão teórica a respeito dos fundamentos da moral. Ela é também chamada de Filosofia moral. Ela busca refletir e teorizar sobre o que é o "certo e o errado"; o que é o "justo e injusto"; o que é "permitido e proibido". Em suma, busca os fundamentos sobre o conjunto das ações humanas. Assim, uma pessoa pode agir uma vida inteira moralmente, mas nunca agir eticamente. A ética pressupõe o questionamento sobre todos os nossos atos e procura dar-lhes um significado. O agir ético exige a autonomia do sujeito. Enquanto a moral é o agir de forma heterônoma, ou seja, os valores vêm de fora, pois são dados pela sociedade ou cultura em que vivemos, e não são questionados, a ética é autônoma, pois ao questionar, refletir e teorizar sobre os fundamentos da moral, agora eu mesmo posso aceitá-los ou rejeitá-los e, até mesmo, preconizar outras formas de pensar, sentir e agir, mas de forma consciente e livre.

Agir eticamente não é fácil. Exige coragem e disposição para enfrentar os obstáculos da moral constituída. Neste sentido, é a partir do constituído ( a moral ) que prescrevemos novos valores constituíntes. O indivíduo deve ser livre para agir eticamente. O fundamento não pode ser divino, porque senão a ética passa a ser um meio sobrenatural para resolver dilemas da consciência humana. Agir eticamente, é agir com a própria consciência e assumir a responsabilidade pelos próprios atos. O interessante é que o que hoje pode ser considerado imoral e antiético, amanhã poderá ser perfeitamente aceito como um valor ético. Com0 exemplo, podemos defender o direito de que todo padre poderia casar-se e constituir uma família. Talvez os escândalos de pedofilia diminuissem bastante. Seria quase que o apocalipse, entretanto, com o passar do tempo tornar-se-ia um fato banal. Daí o fundamento tão somente humano...

Eis um dos maiores dilemas humanos: o fardo de carregar a liberdade tal qual uma praga que nos assombra; liberdade de fazer escolhas o tempo todo. Os animais não se preocupam com isso, já são programados biologicamente; o homem, infelizmente ou felizmente, não sei, precisa escolher e assumir os seus atos. Como já dizia Caetano Veloso: "Cada um sabe a delícia e a dor de ser o que é".

Texto: Marco Aurélio Machado

sábado, 20 de março de 2010

FILOSOFIA, A LUZ DO MUNDO!

A Filosofia está na moda. Se por um lado é muito bom que as pessoas possam ler e estudar mais sobre um assunto tão importante e apaixonante, por outro, tantas publicações podem gerar confusão na cabeça de quem se aventura por esta que é um ponto de interrogação ambulante: a Filosofia. Diante de centenas de definições, vou tentar dizer mais uma. A Filosofia, a meu ver, é a "ciência" que procura radicalizar a compreensão mais profunda de todas as dimensões da realidade. Mas aqui já temos um problema: "O que é o real"? As respostas são as mais variadas. Daí a Filosofia ser um convite à discussão e ao debate sem trégua. Há cerca de 2500 anos ou mais, ela não cessa de provocar as maiores polêmicas, pois não há assunto que a Filosofia não questione e vá até as últimas consequências com as suas perguntas. Evidentemente, ela tenta respondê-las, entretanto, cada filósofo vai questionar as respostas dadas por outras correntes filosóficas e, assim, num processo ad infinitum. Ainda bem!

A Filosofia é a mãe de todas as ciências. Quando o mito perdeu força na explicação dos fenômenos naturais e culturais, a Filosofia surge, na Grécia antiga, no século VI a.C., e se convencionou, pela tradição filosófica, que o pai da Filosofia foi Tales de Mileto. Ele foi o primeiro a dizer que o elemento constitutivo de todas as coisas (a arché), é a água. Por mais simples que seja essa afirmação, ela é importantíssima, porque pela primeira vez o homem não recorre aos "deuses" para se referir e "explicar" os fenômenos naturais. A partir de Tales, outros filósofos vão dizer, baseados no Logos (razão), que a physis (natureza) é composta por elementos naturais. É uma tentativa de buscar a unidade na multiplicidade. Em outras palavras, para o grego antigo o mundo era eterno e, por isso, buscava um elemento que, apesar das mudanças continuasse, por assim dizer, sustentar a realidade, ou seja, o elemento primordial, o princípio ou arché de todas as coisas; não como criação do mundo(ideia estranha aos gregos antigos), mas ideia que tem relação com o elemento indestrutível que sustenta o mundo natural: a base de tudo.

Heráclito disse que é o fogo; Parmênides, que é o SER; Anaxímenes, que é o ar; Demócrito, que é o átomo; Empédocles, que eram os quatro elementos: terra, água, fogo e ar. Outros pré-socráticos preconizaram outros elementos, mas penso que os citados já contemplam este pequeno texto.

A Filosofia, no decorrer da História, mudará o enfoque cosmológico e descer do "céu". A preocupação deixa de ser cosmológica e passa a ser antropológica, ou seja, a vida social, ética e política passam a ser mais importante. Os sofistas e Sócrates tiveram um papel importante nessa nova reflexão.

Com Platão, a metafísica que já dera os seus primeiros passos com Parmênides, ganha força e acontece uma inversão de mundo. Platão "inventa" um outro mundo, pois este aqui não seria o mundo perfeito. Este é o mundo das aparências, em contraposição com o Mundo das Ideias, Formas e Essências, este sim, perfeito, imutável e eterno. Ele serve de modelo para o nosso mundo material, que não passa de sombra e ilusão.

Aristóteles discorda de seu mestre Platão e vai dizer que Platão separou o mundo desnecessariamente. As ideias, formas e essências que Platão preconizou num outro mundo à parte, Aristóteles colocou dentro dos próprios objetos. E a partir da cada objeto em particular, extrai-se a essência ou o conceito universal.

Não é o meu objetivo fazer uma História da Filosofia, por isso, posso acrescentar só mais algumas coisas. A Filosofia continuou a questionar e interrogar; houve muitas mudanças de enfoque sobre o homem, o mundo, a sociedade, a cultura, a história, a política, o conhecimento, a ética, a estética, a metafísica, as ciências, entre outras.

Para concluir, diria que a Filosofia não admite mordaças. Nada escapa ao questionamento filosófico. Sobre qualquer assunto, a Filosofia estará levando a luz da razão para iluminar e questionar pretensões dogmáticas de alcance de uma verdade absoluta. Se não somos deuses e o filosofar é, a meu ver, demasiado humano, então só nos resta conviver com o ponto de interrogação. O ponto que gera angústia, ansiedade, mas que também é a chave para abrirmos as gaiolas que todos os tipos de dogmas e crenças irracionais desejam nos prender. Não devemos ser escravos de crenças que não foram analisadas e criticadas e colocadas no "paredão" de um questionamento ácido e mordaz. A Filosofia é a inimiga das nossas maiores inimigas: a ideologia, a alienação e a mordaça, que desejam calar a liberdade que só a Filosofia é capaz de nos dar.

Texto: Marco Aurélio Machado

terça-feira, 9 de março de 2010

Filosofia - Uma ontologia radical

Um verdadeiro filósofo deve ser um ponto de interrogação ambulante. Deve ser capaz de estranhar todas as coisas, principalmente, compreender uma ontologia radical: NÃO HÁ SERES HUMANOS SEM RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO ECONÔMICA. Se quem se autodenomina filósofo, não compreende isso, pode desistir. Ele é um fracasso.

Se a condição para o pensar, é a vida em sociedade, e não existe sociedade sem produção econômica, logo, não existe filósofo fora de uma determinada cultura. O filósofo está numa determinada cultura; por outro lado, ele questiona e critica esta cultura, recriando cultura. Esta práxis dialética só termina com a morte do indivíduo. Isso para mim é uma ontologia radical, pois vai à raiz da possibilidade da existência humana: a produção e a reprodução da sua subsistência material.

Acreditar, como muitos por aí, numa linguagem privada, discípulos ignorantes de um Descartes, por exemplo, é uma grande bobagem. Negar a base material e social que nos dão as condições para a reflexão filosófica, é ser qualquer coisa, menos filósofo.

Texto: Marco Aurélio Machado

sábado, 6 de março de 2010

Filosofia - Frases ácidas e irônicas ( 2 )

Um mergulho na escuridão pode ser o começo da iluminação!

O amor só pode existir em ato, os cachorros são um belo exemplo disso. Entretanto, se eles soubessem representar o amor por palavras, ficariam só no plano da representação!

O conceito de felicidade não é feliz!

O conceito de amor não é amoroso!

Amar o ser humano sobre todas as coisas, eis o nosso dilema!

O sábio, que sabe que é sábio, não é sábio, é tolo!

Os filósofos fazem tantas perguntas, mas o que é uma pergunta?

Nunca vi uma criança perguntar "o que é a felicidade"?; elas são felizes demais, para perderem o tempo com perguntas sobre a felicidade; elas são felizes em ato!

Prefiro uma maçã bichada, do MUNDO DAS APARÊNCIAS, a uma maçã perfeita, do MUNDO DAS IDEIAS, de Platão!


Frases: Marco Aurélio Machado

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Filosofia Política: Cidadania e o papel do Estado

Quando lemos jornais, revistas, estudamos e estamos fazendo uma discussão política, uma das palavras que mais se ouve é esta: cidadania. O que é cidadania?

Entendo cidadania como o direito à vida em plenitude. Só de o ser humano nascer, mesmo que ele não faça nada na vida, o Estado tem a obrigação de lhe dar o básico para a sobrevivência. Quem questiona isso, deveria questionar também a falta de democracia com relação aos bens dos ricos. Por que uma pessoa que nunca fritou um ovo na vida, tem o direito de herdar a fortuna dos seus pais? Isso, não é, por acaso, uma monarquia absolutista hereditária? Afinal, são poucos os que podem dizer que ficaram ricos sem explorar o trabalho alheio.

Um cidadão tem o direito à vida: logo, para que ela possa se desenvolver em condições dignas, o cidadão deve ter saúde, educação, habitação, política de pleno emprego, segurança, participação política, e participação na riqueza que ajudou a produzir. Isso é o básico. Não estamos falando numa social-democracia do tipo sueca, norueguesa ou dinamarquesa. Estamos nos referindo à cidadania básica. Ou a sociedade fica boa para a maioria absoluta das pessoas, ou situação não ficará boa para ninguém. Porque a violência que ora vemos no país, é fruto da distribuição de renda à força. Isso para mim é básico.

O Estado, a meu ver, nas três esferas em que é representado, tem esse papel. O Estado deve intervir para ajudar as pessoas mais carentes. Quando não há esse tipo de preocupação, quem paga a conta são os mais pobres. Os ricos se protegem como podem. Os pobres não têm para onde ir. O Estado não deve ser um aparelho para garantir a propriedade dos ricos. Deve intervir com políticas sociais para promover o bem comum. Qualquer partido que tiver essa cosmovisão terá o meu apoio. Todavia, na política não há espaço mais para experiências extravagantes. Não se pode mudar as coisas sem o apoio da sociedade. E a sociedade, quando é devidamente informada, sabe o que é melhor pra ela. Mágica existe só em circo. E a economia não pode ser picadeiro para truques de verbos sobrenaturais.

O Estado, a meu ver, não deve ser um gigante e muito menos um anão. Deve estar a serviço de toda a população. Os impostos que todos nós pagamos, deve retornar em forma de benefícios para a população. É o mínimo que um ser humano merece para desenvolver todas as suas potencialidades.

Texto: Marco Aurélio Machado

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

BIG BROTHER E LIBERDADE!

Este assunto sobre o Big Brother não se esgota facilmente. Na verdade, daria para se escrever um livro, diante de tantas questões que podem ser analisadas e criticadas.

Vejamos um pouco sobre a liberdade. Até que ponto estamos abrindo mão da nossa liberdade, em nome da segurança? Um assunto que para a maioria não tem relação, oculta uma questão importantíssima a respeito da liberdade e de uma suposta segurança. Acostumamo-nos à vigilância constante, num programa que, aparentemente, é de puro entretenimento e falta do que fazer, e não nos interrogamos e nem questionamos o que está implícito: a presença das onipresentes, onipotentes e oniscientes câmeras espalhadas no programa. Cada gesto, palavras, sussurros e intrigas são captados por esses novos deuses(demônios), cujo objetivo é deixar os novos seguidores ajoelhados diante do novo altar religioso: a televisão.

O que parece que ainda não nos demos conta, é o que está implícito. O sistema precisa saber sobre os nossos pensamentos, desejos e sentimentos. Sem isso, o que seria do capitalismo? Ele precisa inovar-se; renovar-se; reinventar-se; gerar novidades ad infinitum. Todavia, isso tem um preço. Qual? Em nome de uma suposta segurança, abrimos mão da liberdade. Sim, porque o Big Brother está presente no mundo inteiro, em forma de câmeras que nos filmam em todos os lugares: nas ruas, nos shoppings, nos bares, nas lojas, nas praças, nos restaurantes, nos supermercados, nas farmácias; no trânsito; nas repartições públicas, nas nossas casas, via satélite, para rastrear veículos, e mais uma série interminável de exemplos poderiam ser colocados aqui.

A continuar assim, logo o atual sistema vai querer colocar chips no nosso cérebro. Saberão o que pensamos, sentimos e até mesmo quais as possíveis ações cometeremos no futuro. Em nome da segurança, seremos presas fáceis do atual sistema que já nos faz de robôs há muito. Dessa forma, a palavra liberdade cairá em desuso, sairá aos poucos dos dicionários e com o tempo, quando alguém falar em liberdade, a mídia dirá que é um "neologismo".

E a Filosofia? É inútil! Ela não serve para nada! Pois é...Uma reflexão sobre a liberdade não serve para nada, não é mesmo? E a massa? Vai para a galera! Amém!!

Texto: Marco Aurélio Machado