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terça-feira, 20 de outubro de 2009

SARTRE: "A EXISTÊNCIA PRECEDE A ESSÊNCIA"

Pretendo, neste texto, fazer uma pequena reflexão bem didática e com exemplos pessoais sobre a filosofia existencialista de Sartre. Evidentemente, trata-se um de uma compreensão bastante pessoal e limitada minha, do grande filósofo francês.

Sartre inverteu a filosofia tradicional, que buscava a essência como realidade última. De uma maneira geral, os gregos tinham horror ao movimento. Heráclito era a exceção. Em Platão e Aristóteles fica muito nítida o nascimento da metafísica. A verdade está no real. Por sermos racionais, poderíamos, em tese, chegarmos à essência. Muitos, apesar de não saberem, continuam a filosofar como os gregos antigos. O que você acha que é essência e, por que, para Sartre, a existência precede a essência?

É o velho dilema da teoria do conhecimento. É possível o ser humano conhecer a natureza das coisas? Como ter acesso direto ao real sem representações mediadas pela linguagem? Quem vê a natureza do real? Uma águia enxerga muito mais. Um cachorro ouve muito mais do que nós. Se os nossos olhos fossem constituídos de outra forma, como seriam os objetos? "O homem é a medida de todas as coisas", como diria o grande Protágoras? Se for, caimos no relativismo e a verdade é a medida humana. Adeus metafísica. Adeus a todo conhecimento que sai do mundo imanente.

Muitos não gostam de Sartre, porque nem sequer conseguem compreendê-lo. Complementando:" o homem nada mais é do que o seu projeto".Mesmo quando o homem não escolhe, ele já fez uma escolha. A escolha de não fazer escolha nenhuma. Não há um Deus para Sartre. Se 'Deus" não existe, tudo, em tese, seria permitido. O homem não tem desculpa. Tem que escolher o tempo todo. A liberdade é isso. Por isso gera a angústia. O homem autêntico escolhe e assume a responsabilidade pelos seus atos. O inautêntico vive na má-fé. Finge escolher. Não há uma essência imanente esperando para ser atualizada. A essência é o conjunto das minhas ações livres.Primeiro eu existo. E todos os meus atos são a realização da minha essência. O homem, simplesmente, é o que faz.

O nada vem ao mundo pela consciência. Na fenomenologia, toda consciência tende para um objeto e todo objeto só tem sentido e significado para uma consciência. Não há um 'Deus" para conceber coisa nenhuma. Se houvesse, como poderia o necessário criar o contingente? Para quê? Qual a finalidade? O necessário não pode ser carente. se for, já não é o necessário. Só há fenômeno.

Digam-me. De onde 'Deus' saiu? Se Deus é causa teria que ser necessariamente efeito de uma outra causa. E assim ad infinitum. Se Deus existe precisaria de um ser mais complexo do que ele para gerá-lo. A teoria de Darwin tem demonstrado que organismos mais simples criam os mais complexos. E não o contrário.

A navalha de Ockan serve para quê? Se podemos explicar um fenômeno de uma forma mais simples e natural, para que recorrer ao complexo e ao divino? Ao mistério? Isso é imaginação e fantasia. Não perderei mais tempo com discussões lógicas que não tem objetos que a correspondam.

Por que os psicopatas e sociopatas não tem natureza humana? Explique-me. São capazes de cometer as maiores atrocidades sem terem remorsos, culpas e arrenpendimentos? Cadê a essência imanente da racionalidade a esperar uma atualização ou desenvolvimento? Você disse bem: acredita. Não pode demonstrar logicamente ou racionalmente.

A essência acaba com a liberdade humana. E joga por terra o livre arbítrio. O que fazer? Sair da metafísica e cair dentro do abismo. E agora?

Uma discussão filosófica não comporta opiniões. Ou você demonstra logicamente, ou não demonstra. Não é nada pessoal. Como pode me explicar que pessoas que viveram com carinho, amor, respeito, dignidade e que não tem histórico de nenhuma psicopatia na família possam desenvolver quadros psiquiátricos terríveis? Onde está a consciência moral dessas pessoas? E se estuprassem uma filha sua? Como você veria essa situação? Sinceramente...não convence.

Logo, o ser humano não é capaz de escolher? Faltou reflexão. Como explicar, então, os filósofos estóicos? Eles tinham total domínio sobre suas emoções e sentimentos. Por quê? Porque refletiam. Os pensamentos mudam os nossos sentimentos. Mas, fomos condicionados desde pequenos a crer que não somos responsáveis pelos nossos atos.

OS FILÓSOFOS ESTÓICOS SÃO A PROVA DE QUE É POSSÍVEL. EU NÃO DISSE QUE SOU RACIONAL O TEMPO TODO. MAS SEI QUE A MAIOR PARTE DOS MEUS ERROS FORAM COMETIDOS POR FALTA DE REFLEXÃO. NÃO JOGO A CULPA NEM NO INCONSCIENTE E NEM NO DEMÔNIO.

A liberdade em Sartre só se dá na ação. Ao agir, a pessoa escolhe. Escolha e ação se identificam. A capacidade de fazer escolhas é absoluta. Mas, nem todas as nossas escolhas terão êxito. Contudo, se não tivéssemos a sensação de obstáculo, nem saberíamos que somos livres. Se não tenho resistência nenhuma, como saber o que é a liberdade? Um pássaro só voa por causa da resistência do ar.

É preciso estudá-lo a fundo. Não substantivem a consciência em Sartre. A liberdade só se faz em ato. Se eu nunca escrevi um livro, não tenho posso saber se tenho potencial. Escrever uma obra é torná-la uma existência.Se penso muito na liberdade e não ajo, tenho liberdade? Primeiro existo, depois realizo o meu projeto. Projetar é ir sempre em direção ao futuro. E eu só posso ir ao futuro realizando ações no presente. Para Sartre, toda a liberdade e responsabilidade é interior ao sujeito. Ex: "Eu choro, porque estou triste. Errado. Eu estou triste e por isso choro. Perceberam a diferença? Eu dou um motivo, um sentido, um significado para a tristeza e, por isso, choro.Outra: A altura me assusta. Errado. A altura não tem o poder de assustar as pessoas. EX:"Eu me assusto com a altura. Dei um motivo. A responsabilidade é minha. Tanto é verdade que duas pessoas na mesma situação, poderiam agir diferente. Mais:"Você me magoou". Errado. Eu me magoei ao dar mais importância a sua opinião a meu respeito. Eu escolhi ficar magoado. Estamos condenados a ser livres. E isso implica em responsabilidades. Não há um Deus, não há valores estabelecidos para Sartre, não há caminho a seguir. Eu realizo os meus projetos com outros humanos e sou responsável por eles, inclusive, assumindo todas as conseqüências. Eu crio os meus valores e os assumo. Isso é viver autenticamente e não na má-fé.

A essência nada mais é do que o que fazemos. Não existem valores, regras, normas e princípios para nos guiar. O homem está condenado a ser livre. E a liberdade nada mais é do que escolher o tempo todo e sermos responsáveis pelos nossos atos. Se não há essência, então, primeiro o homem existe. E a partir da sua existência, ele realizará à sua essência através dos seus atos. Não temos desculpas ou pretextos. O homem cria e recria os seus valores através da liberdade de escolher os seus projetos. Não há uma substancialização da mente. Ex: ninguém é, por natureza, covarde. Escolhe-se a covardia. E o mesmo serve para as demais situações. Quem foi covarde um dia, numa mesma situação, poderá agir diferente. É uma escolha. O homem realiza a sua essência escolhendo e agindo. A escolha não é abstrata. Ela se funde com os atos. Isso explica esta frase:"O HOMEM ESTÁ CONDENADO A SER LIVRE." Livre, porque não se criou; condenado, porque todo ato tem responsabilidade: não há a quem recorrer. Nesse sentido, a liberdade é um fardo, porque ao homem cabe criar o seu próprio SER.

As coisas são "em si". Estão aí. Sem sentido e absurdas. Só o homem existe, porque ele é o "para-si". Tem consciência da sua existência e pode escolher o sentido e o significado da própria vida e do mundo. Nesse sentido, como dizia Heidegger, o homem é o ser das lonjuras, ou seja, distancia-se do real e lhe dá sentido. É como se houvesse uma fissura, uma rachadura no interior do "em si", para conhecer a si mesmo.

As meninas-lobo são um bom exemplo. Elas não tiveram oportunidade de se humanizar, logo, eram lobos. Onde estava a essência delas? Uivavam, latiam, bebiam água lambendo, comiam carne podre e andavam de quatro. Não somos humanos. Tornamo-nos humanos. OBS: não tenho a última palavra sobre o assunto. É intrigante. Muitos não concordam. Apesar de achar interessante, continuo refletindo sobre o assunto.

O passado é ontologicamente um tempo fechado para Sartre. O mesmo pode ter um outro significado e sentido, mas não se pode mudar o acontecido. Por outro lado, o futuro é aberto. O que nos permite fazer escolhas, construir e reconstruir o nosso caminho. Quando não a fazemos, vivemos na má-fé ou de forma inautêntica. Fingimos escolher. O homem autêntico escolhe e assume a responsabilidade pelos seus atos.

Texto: Marco Aurélio Machado.