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domingo, 18 de outubro de 2009

EDUCAÇÃO E FRACASSO ESCOLAR NO BRASIL

A tese de que o professor é o total responsável pelo sucesso ou fracasso de um aluno é uma falácia. Como eu sempre disse aqui, o problema não é apenas moral. De uma suposta força de vontade ou de vocação. Isso faz parte de um contexto muito mais amplo. Quem não enxerga a floresta não perceberá a árvore. Temos que ter uma visão de conjunto. É um todo. O sistema quer arrumar bodes expiatórios. Como o mesmo sistema vendeu a falácia aceita por tantos, de que o mercado regula tudo. Como o mercado pode regular tudo, se ele é irracional por natureza? Essa conversa de que o Estado não deve intervir na economia caiu por terra, não foi?

O mesmo vai acontecer em relação à educação. O professor tem a sua parcela, mas ele está longe de ser o principal ator. Há alunos que não se alimentam; têm pais analfabetos; muitos são abusados sexualmente; tantos outros não têm dinheiro para comprar um caderno; outros ainda não têm o mínimo estímulo e precisam trabalhar para ajudar em casa. Como vão estudar?

Para quem está em sala-de-aula isso é uma realidade. A escola virou uma espécie de ponto de encontro. Há alunos brilhantes, mas a maioria não quer nada. Mas não é um problema de força de vontade apenas. A pergunta é: "O que faz um jovem ter muita força de vontade, enquanto outros têm uma vontade sem força"?

Os melhores alunos têm pais estudados, bem empregados, famílias estruturadas. Isso é um fato. Acontece de um ou outro que não tem essa situação se destacar, mas como eu disse, é exceção. Basta comparar os estudantes de boas escolas particulares com os das escolas públicas...

O problema é amplo. E tem a ver com o modo de produção vigente. Não dá para dissociar isso. O professor é mais uma pequena peça nessa grande engrenagem. Ele pode pouco. Chamar a atenção de um aluno, hoje em dia, é um perigo. Nunca se sabe a reação que o aluno terá. A capacidade de tolerar frustração dos jovens atualmente é baixíssima. Isso se deve ao fato de trocar-se afeto, carinho e amor, por presentes.

Um jovem que não se acostumou a ouvir um NÃO de vez em quando na família, será um sério candidato a agredir os professores no futuro. São crianças grandes. Nada mais. Outra: quando o sujeito não quer fazer um trabalho ou exercício, o que se pode fazer? No fim do ano a pressão para aprová-lo é grande. A experiência mostra: quanto mais uma família é estruturada no sentido amplo dessa palavra, mais os filhos serão bons alunos. Há exceções, mas são raras. O contrário também é verdadeiro.


Enfim, a meu ver, o principal fator é o econômico, político, social e cultural. Falta seriedade no quesito educação e saúde no Brasil. A educação deve ser um projeto amplo de Estado e não de ideologias e cores partidárias. Em qualquer país desenvolvido, quando alguém se refere à educação, usa-se a palavra INVESTIMENTO. Aqui no Brasil? Usa-se a palavra DESPESA. E a corrupção é o quê? Sem comentários...

Texto: Marco Aurélio Machado