Página

MAPA DOS VISITANTES DESDE O DIA 29/11/2009

terça-feira, 1 de maio de 2012

O TRABALHO!

Um dos maiores filósofos de todos os tempos, ou seja, Karl Marx, deveria estar vivo para presenciar o dia 1º de maio, as 24h reservadas à "comemoração do dia do trabalhador". Será que Marx participaria das festas promovidas pelas centrais sindicais? Tenho minhas dúvidas...O trabalho é a condição ontológica do ser humano.

O homem é o único ser na natureza que trabalha, já que os animais produzem e reproduzem as suas respectivas espécies instintivamente, mecanicamente, em outras palavras, são programados pela mãe natureza. O homem é um ser dual, não por que é corpo e alma, mas por ser parte natureza pelas necessidadades naturais que tem de alimento, descanso, reprodução sexual da espécie, sono e a finitude, e parte cultura, pois transcende o determinismo ao transformar o mundo natural pelo trabalho. O trabalho é condição "sine qua non" para que possamos passar da condição de "bichos naturais" à ascensão "humana". Evidentemente que as palavras bonitas supracitadas referem-se à visão filosófica do trabalho. Enfim, deveria ser assim, mas o é de fato? Não, não é. Somos, no máximo, animais com lampejos de consciência e "tingidos"com um verniz desbotado, de cultura.

Karl Marx, certamente, não ficaria satisfeito com o nível de ideologia e alienação a que chegou a humanidade. O homem foi capaz de realizações incríveis, chegando ao ponto de criar clones de animais, superar fronteiras no espaço e no tempo através do conhecimento científico aplicado, mas se por um lado foi competente em descobrir leis e mecanismos para a transformação da natureza, infelizmente, não foi o senhor dos seus desejos, egoísmos e ganâncias. O resultado? Em pleno século XXI ainda não passa de uma besta em termos políticos, sociais e econômicos. Incapaz de se colocar no lugar do outro, inventa máquinas, equipamentos e tecnologias de ponta para explorá-lo e não para promover a cooperação e a solidariedade entre os homens.

As cavernas é que moram em nós, apesar de estarmos no limiar do domínio de casas "inteligentes". As trevas residem em nós, apesar de arrotarmos racionalidade; as máquinas nos dominam, apesar de as colocarmos no "automático"; o homem, de tanto querer escravizar, foi escravizado. Logo, logo seremos ciborgues. E quem não quiser ser ciborgue vai desaparecer enquanto ente biológico. Em vez de bebermos água, talvez beberemos óleo de máquina, ou quem sabe uma carga de eletricidade?!!

Karl Marx, se estivesse por aqui, não poderia estar feliz, afinal, o seu sonho de emancipação humana virou um pesadelo. A História deve acabar, com a vitória capitalista. A vitória, da derrota, pois a extinção da Humanidade será a prova da incontestável presença da bestialidade em nós. A tecnologia deveria servir para a libertação humana, para que as máquinas estivessem a serviço do homem e não o contrário. O homem teria direito ao trabalho, trabalhando menos, para que o trabalho não faltasse para ninguém. O homem teria tempo para se dedicar à cultura, à familia e ao lazer. Faria da reflexão filosófica um prazer e também uma guardiã contra a ideologia e a alienação.

Enfim, o homem descobriria que ele e o trabalho são UM. Com a atual produção capitalista esquizofrênica, o homem está perdendo até o direito de "trabalhar", mesmo que seja explorado. E o que é o homem sem o trabalho? Nada, pois o ser humano torna-se humano pelas relações sociais de produção. Eis a ontologia humana nua e crua: sem relações sociais e o trabalho o homem se desumaniza. Aliás, não é à toa que alguns já estão vendendo órgãos humanos, se prostituindo, porque precisam vender o corpo por alguns minutos. No atual sistema, tudo é mercadoria e não vai demorar o tempo em que os empresários vão vender um "selo" de ética capitalista, para tatuar na testa do consumidor, e não faltará alienado para comprar e pagar em até 48 vezes com juros. A tal da "etiqueta" muitos já compraram "no mercado dos bons modos"! Tentativa sofisticada de sair das cavernas? Eis a verdadeira riqueza da pobreza de espírito!

Nada a comemorar no dia do trabalho. Para sabermos a importância do trabalho para o ser humano, bastaria que ficássemos um mês sem trabalhar. Seria cômico, se não fosse trágico, vermos os proprietários dos meios de produção, banqueiros, grandes comerciantes e fazendeiros disputando trabalhadores no tapa. Só tenho compaixão das massas alienadas, que adoram o pão e o circo e a esperança de uma intervenção divina...Elas não sabem a força que têm...


Texto: Marco Aurélio Machado